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Quem veio primeiro: o ovo ou a galinha?

Atualizado: 27 de jun. de 2020

E aí povão, tudo tranquilo? Hoje a gente vai discutir quem veio primeiro, o ovo ou a galinha. Afinal, que galinha colocou o primeiro ovo? E que ovo originou a primeira galinha? Vamos usar os ensinamentos da boa velha genética e do vovô Charles Darwin para entender isso. Vem com a gente!



Um pouco de genética


Quando falamos em genética estamos falando principalmente do DNA, a molécula da vida que contém todas as informações para construção de um ser vivo. Metade do seu DNA é herdado de seu pai e a outra metade é de sua mãe, seguindo esta lógica, seu filho terá metade do seu DNA e metade do DNA de quem fez o filho com você. Com isso, podemos notar que as informações contidas no DNA são passadas para frente, a cada geração.


Alguns eventos geram o que chamamos de “variabilidade genética”, que é exatamente como o nome diz, o DNA é variável. Basta você observar sua família (ou a família de seus conhecidos) e comparar pessoas que são irmãs, elas vão apresentar certa semelhança, porém não serão iguais (se não forem gêmeas idênticas).


Dentre estes eventos que podem causar variabilidade genética, vamos destacar um em específico: a mutação. As mutações são mudanças que ocorrem na sequência da molécula de DNA, podem ser espontâneas (ocorridas naturalmente) ou induzidas (pela presença de agentes que causam mutações, como substâncias químicas, radiação, parasitas). Muita gente pode pensar que ter uma mutação significa ser x-man, mas não é bem assim. Em boa parte dos casos elas geram problemas que podem ser bastante sérios, causando câncer, malformações, perda de funções de proteínas, dentre outros problemas.


Por outro lado, as mutações são também uma importante ferramenta na formação de novas espécies. Pensem com a gente: uma vez se uma ou mais mudanças no DNA são passadas para frente (e conseguem permanecer nos seres vivos que a adquirem), concordam que gradativamente os novos seres vivos formados são diferentes daquele primeiro que teve a mutação? Em outras palavras, uma espécie X num determinado momento adquire uma mutação, e conforme tempo passa (e estamos falando de milhares ou milhões de anos) as suas próximas gerações adquirem tantas mutações, mais tantas mudanças, que em um determinado momento a espécie já não é mais a X, e sim uma espécie Y.


E é aí que entra a primeira galinha.


De onde veio a galinha?

A partir do pouco que discutimos sobre genética e formação de novas espécies, podemos entender de onde veio a galinha doméstica.


Para começar, a galinha doméstica, esta que você perseguia nos quintais alheios, é da espécie Gallus gallus. Mais especificamente, ela é uma sub-espécie do galo bankiva (um galo que vive em florestas asiáticas...já pensou andar na mata e encontrar um galo? Pois é, estranho, mas existe), sendo, portanto, o Gallus gallus domesticus a nossa galinha doméstica, e o Gallus gallus bankiva, o galo bankiva. Análises genéticas (utilizando comparações de sequências de DNA) apontaram que a nossa tão querida galinha doméstica, é o resultado do cruzamento do galo bankiva com uma outra espécie de galinha selvagem, a bengal ou galinha-parda-da-Ásia (espécie Gallus soneratii).

Imagem 3: Galo bankiva

Imagem 4: Galinha bengal.


É agora que entra o que falamos anteriormente, pois o cruzamento entre o galo bankiva e o galo bengal gerou um ovo, e dentro deste ovo o organismo que iria nascer já possuía o DNA da nossa galinha doméstica. Aqui temos um detalhe importante, não foi apenas um único cruzamento milagroso, foram vários cruzamentos durante muito tempo, através de seleção artificial, acúmulo de mutações que culminaram nos resultados esperados pelo homem. Logo, a espécie dentro do ovo já era Gallus gallus domesticus, por esta lógica, o ovo teve que vir antes da galinha.


A origem do ovo

Bom, agora já sabemos que a galinha que veio do ovo. Mas de onde veio o ovo?


Vamos recorrer ao vovô Charles Darwin e seu conceito de ancestralidade comum. Darwin revolucionou as ciências biológicas com sua teoria evolutiva (ressaltamos que na ciência Teoria não é sinônimo de hipótese!), que dizia que ao invés de todos os seres vivos, de qualquer tipo, terem surgido no planeta ao mesmo tempo, elas são descendentes de um organismo bem primitivo, que é o ancestral comum a todos os seres vivos.


Como vimos na nossa matéria sobre dinossauros nos dias de hoje (LINK), os seres vivos adquirem características conforme o tempo passa, e elas são passadas para frente conforme as espécies foram, e vão, evoluindo. Nós, seres humanos, fazemos parte do grupo dos vertebrados por termos características que nos definem um vertebrado, as mais expressivas são a presença de coluna vertebral com tubo nervoso nas costas.


Com base nisso vamos analisar o surgimento do ovo, que apareceu nos peixes. Nesse momento, o ovo era uma estrutura simples que não possuía a casca, isso porque os embriões (organismo em desenvolvimento) trocam gases com o meio externo. O meio externo dos embriões de peixes é a água, porém a quantidade de oxigênio dissolvido na água é muito menor que no ar atmosférico, por isso ter uma casca poderia ser fatal.


Ao longo do tempo, houve a transição da vivência em meio aquático para o terrestre e os primeiros seres a começarem a desbravar um mundo sem enormes quantidades de água foram os anfíbios (sapos, pererecas, rãs, salamandras, cobras-cegas, etc.). Mesmo vivendo em terra, eles ainda são muito dependentes de água para respiração e reprodução, e por isso seus ovos não possuem casca. Se em algum momento você tiver a oportunidade, repare que os anfíbios só estão presentes em ambientes que tenham água ou que a umidade seja bem elevada.


Seguindo o rumo evolutivo, o próximo grupo a surgir foram os répteis e eles representam uma grande conquista: a independência de água para reprodução. O ovo dos répteis adquiriu uma estrutura importante para reter água para o embrião não desidratar, a casca. Logo, ovo que conhecemos do jeito que é surgiu nos répteis, e a partir deles vieram os dinossauros, e só depois as aves, onde temos nossa querida galinha doméstica. Então, temos o segundo argumento a favor de que o ovo veio (muito) antes da galinha.

E os mamíferos?


“- ué ciência povão...se o ovo é uma característica que surgiu no passado, por que a gente não põe ovos?”


Pensar nisso é no mínimo perturbador, mas podemos explicar o porquê. Os mamíferos perderam essa característica ao longo de sua evolução. Os seres humanos são mamíferos placentários, o que significa que desenvolvemos uma placenta para nutrir um embrião interno. Mas se formos pensar no rumo evolutivo, olhando para o passado, veremos outras 2 classes de mamíferos


. Os marsupiais, que não têm placenta e nascem não totalmente desenvolvidos. Terminam seu desenvolvimento numa bolsa chamada Marsúpio (daí o nome do grupo), e;


. Temos os monotremados, que são mamíferos que ainda retém a característica de colocar ovos com casca e tudo. Talvez o exemplo mais conhecido seja o esquisito (mas legal) ornitorrinco, que parece até que foi montado com as peças que sobraram. Mas temos também outro exemplo, a equidna, que parece um porco espinho, mas não é.

Imagem 7- Equidna.



Beleza meu povo? Tamo junto então! Grande abraço e parem de perseguir galinha.


Autor

Adriano Lima

Biólogo


Referências

1. Eriksson J, Larson G, Gunnarsson U, Bed’hom B, Tixier-Boichard M, et al. (2008) Identification of the Yellow Skin Gene Reveals a Hybrid Origin of the Domestic Chicken. PLoS Genet 4(2)

2. Pough, F.H; Janis, C.M; Heiser, J.B. A Vida dos Vertebrados. 4ed. Atheneu editora São Paulo. 2008

Quem nasceu primeiro, o ovo ou a galinha. <https://super.abril.com.br/historia/quem-nasceu-primeiro-o-ovo-ou-a-galinha/>. Acesso em: 22/06/20



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