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Foto do escritorIsabella Rocha

O uso indiscriminado de antibióticos e suas consequências

Atualizado: 11 de mar. de 2021

Olá, povão, tudo bem? Esperemos que sim. Bom povão, hoje trouxemos uma matéria muito importante que fala diretamente do uso indiscriminado de antibióticos. Então, ao longo desta matéria,vamos entender melhor sobre esse assunto. Então, SIMBORA!


Para compreender como o povão entende o que é antibiótico, fizemos uma enquete e obtivemos as seguintes respostas:

  1. “O antibiótico é um medicamento que é usado para matar bactérias e talvez outros microrganismos”. (anônimo 1)

  2. “Não sei. É um remédio”. (anônimo 2)

  3. “É para infecção”. (anônimo 3)

  4. “Qualquer medicamento capaz de combater infecções causadas por bactérias, microrganismos, algo assim”. (anônimo 4)

  5. “Primeiramente, a coisa que eu falaria é que antibiótico eu não posso tomar com bebida. É algum remédio que eu tenho que tomar por um período controlado e que tem a ver com o combate de alguma bactéria que eu tenho em meu corpo. Não posso parar o tratamento. É isso que eu penso quando falo de antibiótico.” (anônimo 5)

  6. “Eu diria que é um remédio que combate infecção”. (anônimo 6)

  7. “Um remédio”. (anônimo 7)

  8. “É um remédio para combater bactérias!”. (anônimo 8)

  9. “Um medicamento para combater algum tipo de infecção”. (anônimo 9)


Ou seja, a maioria das pessoas que responderam a nossa enquete acredita que é um medicamento utilizado para combater uma infecção. Alguns não mencionaram o que causava a infecção e isso nos leva a refletir que alguns hábitos são automatizados em nossa vida e precisamos ter clareza sobre os motivos e efeitos do uso de um determinado medicamento. Isso é importante! Portanto, uma vez que já obtivemos a opinião de uma pequena parcela dessa imensa população brasileira, vamos nos aprofundar nesse assunto.


O que se sabe sobre os antibióticos?

Os antibióticos são medicamentos utilizados no tratamento de casos de infecção bacteriana e não são eficientes contra infecções virais. Alguns deles não têm efeito em determinadas bactérias e, consequentemente, não são favoráveis em determinados casos de infecções. Esse fármaco atua na destruição de microrganismos ou interrompe o crescimento deles, através do(a):

  • ataque à bactéria circulante no sangue;

  • interferência na reprodução da bactéria;

  • bloqueio da síntese de proteínas da bactéria.

Dessa forma, possibilita uma maior facilidade para que as defesas naturais do corpo possam eliminá-los.


Os antibióticos possuem um amplo espectro de atividade, sendo considerados eficazes para tratamentos de infecções causados por bactérias Gram negativas e também Gram positivas, porém alguns antibióticos têm efeito apenas nas infecções causadas por bactérias Gram positivas. Os casos de infecção urinária, são normalmente causados pela bactéria Escherichia coli (E.coli) e os antibióticos mais comumente usados nesses casos são o Bactrim ou a Ciprofloxacina. Por outro lado, esses fármacos não servem para tratar meningite ou pneumonia, as quais são provocadas por bactérias distintas.


Existem diversas classes de antibióticos que afetam o organismo de maneiras diferentes. Sendo algumas delas:

  • Aminoglicosídeos

  • Carbapenens

  • Cefalosporinas

  • Fluoroquinolonas

  • Glicopeptídeos e lipoglicopeptídeos (como vancomicina)

  • Macrólidos (como eritromicina e azitromicina)

  • Monobactans (aztreonam)

  • Oxazolidinonas (como linezolida e tedizolida)

  • Penicilina

  • Polipeptídeos

  • Rifamicinas

  • Sulfonamidas

  • Estreptograminas (como quinupristina e dalfopristina)

  • Tetraciclinas


Esses medicamentos são produzidos na forma de comprimidos, pomadas, líquidos, cremes e cápsulas. A produção ocorre em laboratórios de grandes indústrias farmacêuticas e pode ser produzida num processo natural, mas controlado, ou de modo sintético. Tudo depende do tipo de protocolo que a empresa segue para a criação do medicamento.


Apanhado histórico


O primeiro achado oficial de antibióticos foi em 1928, quando o médico/bacteriologista Alexander Fleming, após voltar da guerra, iniciou os seus estudos a respeito da bactéria Staphylococcus aureus, responsável por provocar infecções nas feridas de soldados. Num dia qualquer, ele resolveu entrar de férias e deixou as culturas de bactérias em seu laboratório localizado no Hospital St. Mary, em Londres.


Quando Fleming retornou das suas férias, as placas estavam contaminadas com bolores (fungos), pois elas ficaram sem acondicionamento correto, condição controlada e supervisão. O ideal seria descartar as placas, uma vez que o experimento estava comprometido. No entanto, quando Fleming foi descartar o material, percebeu que no entorno de onde o bolor se encontrava na placa não havia a presença das bactérias Staphylococcus aureus. Logo, poderia ser que o fungo de alguma forma impedisse o crescimento de bactérias próximas a ele. Assim, após outras análises, a resposta desse grande mistério foi revelada: o fungo em questão era o Penicillium notatum e a substância secretada (depois nomeada como penicilina) era capaz de matar bactérias. Dessa forma, a penicilina tornou-se o primeiro antibiótico da face da terra. Alô marciano, aí tem penicilina também?!


As pesquisas sobre esse antibiótico foram aprofundadas por Alexander Fleming e pelos colaboradores Chain e Florey. Os avanços continuaram e, finalmente, em torno de 1936-1940 (há uma incongruência no ano), o primeiro paciente humano recebeu a penicilina para curar uma grave infecção no sangue. Dessa forma, eles revolucionaram a ciência. A partir disso, além da penicilina, outros antibióticos altamente eficazes foram descobertos ao longo dos anos e introduzidos em tratamentos clínicos contra infecções bacterianas. Portanto, desde então, acredita-se que após o início do uso de antibióticos no mundo, a esperança de vida aumentou 30 anos, já que antes 30% dos casos de morte eram devido a infecções bacterianas.


Mas afinal, qual a importância de compreender isso tudo?


Os antibióticos ao longo dos anos têm sido usados de maneira indiscriminada, ou seja, muitas vezes em casos de automedicamento, abandono do tratamento ou negligência médica. Como toda ação gera uma reação, uma das consequências é o surgimento de bactérias resistentes.


As bactérias são microrganismos vivos que sofrem alterações ao longo do tempo devido a uma resposta às diversas mudanças ambientais. Com o uso abusivo e consumo generalizado de antibióticos, as bactérias que estão frequentemente expostas a esses medicamentos vão morrer, porém há uma exceção: o surgimento de bactérias resistentes aos efeitos farmacológicos. Esses microrganismos, quando estão em condições ideais de temperatura e nutrientes, se reproduzem por divisão binária (a bactéria duplica o seu material genético e em seguida se divide, originando duas bactérias idênticas a ela) a cada 20 minutos. Agora imaginem uma bactéria resistente se reproduzindo a cada 20 minutos, quantas bactérias teria em 24,48,72 horas?!


Um exemplo clássico de bactéria resistente é a Staphylococcus aureus (causa frequente de infecções da pele), que há 50 anos atrás era muito sensível ao antibiótico penicilina. Ao longo dos anos, cepas (variantes) desta bactéria desenvolveram um mecanismo de defesa, uma enzima capaz de inativar a penicilina levando a ineficiência deste medicamento. Para resolver esse problema os investigadores geraram uma forma de penicilina que a enzima da bactéria não consegue inativar. Poucos anos mais tarde, as bactérias não deixaram isso barato e se tornaram mais uma vez resistentes, agora contra a penicilina modificada. O mesmo processo ocorre também com outros antibióticos.


Há alguns anos, já foi anunciado que a próxima Pandemia talvez seja causada por bactérias super resistentes. No contexto de saúde pública isso é muito preocupante, pois a Pandemia com o vírus Sars-CoV-2 é um caos no Brasil, imagine com bactérias. Estima-se que em 2050 tenhamos graves problemas se, até lá, não for feito nada. Se quiserem entender mais sobre essas bactérias super resistentes, acessem a matéria que falamos sobre esse assunto (clique aqui).


Antibióticos: um outro problema


Vocês achavam que o assunto encerraria por aqui? Então podem voltar, porque ainda há algumas informações importantes para você ficar por dentro. Bom, além da resistência bacteriana, ainda tem algo muito relevante para destacar: os antibióticos não matam apenas as bactérias que nos fazem mal naquele momento, mas afetam também as bactérias que são favoráveis para o nosso corpo.


O nosso corpo possui uma imensa colônia de vários microrganismos. Estima-se que cada pessoa abriga 1Kg deles em seu interior e, em relação às bactérias, existem cerca de 1.200 espécies diferentes. Essas em sua maioria são benignas e necessárias ao organismo. Especificamente, a microbiota intestinal influencia em diversas funções essenciais no corpo humano: digestão, metabolismo energético e inflamação, modulando múltiplas vias endócrinas, neurais e imunológicas. O tratamento com antibióticos de curto prazo é capaz de mudar a microbiota intestinal para estados disbióticos (favorece infecções) alternativos de longo prazo, resultando num possível desenvolvimento e agravamento da doença de um indivíduo. As consequências mais comuns desta condição pós-antibiótico inclui a perda da diversidade da microbiota taxonômica e funcional com resistência às colônias reduzidas contra patógenos invasores, desencadeando uma possível resistência antimicrobiana.


Sendo assim, o uso irresponsável de antibióticos, seja por conta própria, indução negligente médica ou a falta de comprometimento com o cronograma correto do tratamento, mesmo por curtos períodos de tempo e principalmente durante a infância, apresenta efeitos duradouros sobre a microbiota. Dessa forma, pode predispor a pessoa que está tomando o medicamento há uma variedade de doenças, algumas das quais ainda não foram potencialmente identificadas. Isso nos mostra uma questão de importância crítica para a saúde pública.


Então é isso. Vamos ter consciência do uso indiscriminado do antibiótico. Use apenas quando houver recomendação do médico e que seja realmente um caso imprescindível. Até a próxima (:


Referências

Becattini, S., Taur, Y., & Pamer, E. G. (2016). Antibiotic-Induced Changes in the Intestinal Microbiota and Disease. Trends in molecular medicine, 22(6), 458–478. https://doi.org/10.1016/j.molmed.2016.04.003.

Lange, K., Buerger, M., Stallmach, A., & Bruns, T. (2016). Effects of Antibiotics on Gut Microbiota. Digestive diseases (Basel, Switzerland), 34(3), 260–268. https://doi.org/10.1159/000443360.





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