top of page

Anticoncepcionais Femininos

  • Foto do escritor: Ciência povão
    Ciência povão
  • 27 de jun. de 2020
  • 9 min de leitura

E ai, pessoal. Tudo bem? Isolados em casa e se cuidando? Na semana passada falamos sobre as opções de anticoncepcionais masculinos (LINK). Hoje vamos complementar o tópico sobre contracepção falando dos anticoncepcionais femininos.


Os anticoncepcionais femininos provavelmente são os mais conhecidos e praticamente toda mulher já teve contato com algum método contraceptivo. Atualmente, a prevalência do uso de contraceptivos por mulheres entre 15-49 anos no Brasil é de aproximadamente 80%. A prevalência pode variar dependendo do país e região (“Products - Data Briefs - Number 327 - December 2018” 2019, “Contraceptive Prevalence, Any Methods (% of Women Ages 15-49) | Data” n.d.). Por exemplo, nos Estados Unidos a prevalência foi de aproximadamente 64.9% no período de 2015-2017 (“Products - Data Briefs - Number 327 - December 2018” 2019).


A escolha do método contraceptivo deve ser feita com orientação médica. Isso porque cada um deles tem vantagens e desvantagens, as quais devem ser compatíveis com a paciente para alcançar o melhor efeito com menores riscos possíveis. Então vamos começar classificando os métodos contraceptivos usados por mulheres sexualmente ativas.


Métodos comportamentais


O fundamento desses métodos é basicamente observar alterações do organismo feminino durante o ciclo menstrual. Um exemplo disso é o planejamento de uma gravidez através do acompanhamento do período fértil da mulher durante o ciclo.

Nesse tipo de métodos temos alguns bem conhecidos:


1) Método de Ogino-Knaus


É a famosa Tabelinha. Esse método baseia-se no fato que a ovulação (liberação do óvulo) ocorre próxima do 14 dia do ciclo, permitindo estimar em qual período a mulher está fértil. Assim, para evitar a gravidez o casal não deve ter relações sexuais com contato genital durante o período fértil. Mas como a gente calcula esse período fértil?

ree

Primeiro a gente calcula a duração do ciclo menstrual, contando o primeiro dia (dia da menstruação) e o último dia (véspera da próxima menstruação) do ciclo. Vai acompanhando esses dias por alguns meses para ter uma noção mais precisa do padrão menstrual. É importante anotar os dias do ciclo e saber o padrão certinho porque diversos fatores podem alterar o ciclo, incluindo estresse e alimentação. Anotando diversas vezes a mulher pode ter uma ideia mais precisa do seu ciclo.


O primeiro passo para calcular o período fértil é anotar a duração do ciclo mais longo e do ciclo mais curto. Para determinar o início do período fértil basta subtrair 18 (dezoito) dias do ciclo mais curto. Por exemplo, se o ciclo mais curto durou 24 dias, o período fértil começa em: 24 - 18 = 60 (sexto) dia do ciclo.


Por outro lado, para calcular o fim do período fértil basta subtrair 11 (onze) dias do ciclo mais longo. Por exemplo, se o ciclo mais longo durou 35 dias, o período fértil terminal no dia: 35 - 11 = 24 dia do ciclo.


Este método é consideravelmente simples, mas precisa de atenção na hora de anotar os dias e qualquer alteração no padrão menstrual. Além disso, ele permite que a mulher entenda melhor sua fisiologia, é barato e também não apresenta efeitos colaterais. Atualmente existem alguns aplicativos que podem ser facilmente encontrados na Google Store e a Apple Store nos celulares e que facilitam entender esse padrão.


Uma desvantagem importante da Tabelinha é a alta taxa de falha quando comparado com métodos modernos, como anticoncepcionais orais (vamos falar deles lá na frente!). A Tabelinha é menos precisa porque a duração das fases do ciclo menstrual varia de mulher para mulher e pode ser afetada por outros fatores, como estresse, uso de medicamentos e doenças. Assim, a Tabelinha pode acabar enganando até as mulheres com ciclo regular.


2) Método da temperatura basal


Esse método consiste em determinar período fértil com base na temperatura corporal em repouso. O princípio desse método é que após a ovulação a temperatura corporal aumenta alguns décimos de grau devido a liberação de progesterona. Esse aumento de temperatura indica que a mulher está entrando no período fértil e se mantém até a próxima menstruação. É importante falar que muitos fatores afetam esse método, incluindo ingestão de bebida alcoólica, estresse, mudanças de ambiente, problemas no sono e problemas de saúde.


No primeiro dia do ciclo, a mulher deve medir a temperatura antes de qualquer atividade. De manhã e depois uma boa noite de sono de pelo menos 5 horas é o mais recomendado para ter uma medida mais confiável. Todo dia a mulher pode registrar a temperatura para acompanhar a evolução durante o ciclo. É importante que o termômetro seja o mesmo todos os dias e que qualquer mudança no termômetro seja anotada. Por exemplo, se o termômetro quebrou, anotar em qual dia isso aconteceu e quando começar usar um novo. Esse cuidado com o termômetro é fundamental, pois é possível que diferentes termômetros forneçam medidas diferentes da temperatura, o que pode alterar o registro do ciclo.


Para facilitar na análise do ciclo existem alguns aplicativos e produtos que podem ajudar. Geralmente esses aplicativos mostram um gráfico da temperatura. Para determinar o fim do período fértil basta encontrar um período de 4 dias de aumento persistente da temperatura e perceber se há uma diferença de no mínimo 0,2°C entre a última temperatura baixa e três temperaturas altas. O período fértil acaba no 4° dia depois da última temperatura elevada.

ree


3) Método do muco cervical ou Billings


Esse método consiste em observar diferenças no muco cervical e a sensação causada por ele na vulva. O muco cervical é um líquido produzido no colo do útero e que apresenta algumas mudanças durante o ciclo menstrual. No início do ciclo, o muco cervical é mais pegajoso e espesso, o que dificulta a movimentação dos espermatozoides. A situação muda no período fértil, quando o muco cervical fica mais fluído, lubrificante e transparente (parecido com clara de ovo), facilitando a movimentação dos espermatozóides até o colo uterino.

ree

Esses são alguns métodos comportamentais bem conhecidos e que podem ser facilmente usados sem gastar muito e com relativa segurança se realizados corretamente e com acompanhamento médico. Talvez a principal desvantagem desses métodos é que a eficácia deles pode variar bastante de acordo o estilo de vida e alterações no ciclo.


Anticoncepcionais hormonais


Esses métodos consistem em usar hormônios parecidos com os hormônios produzidos nos ovários da mulher, estrogênio e progesterona. O estrogênio e a progesterona são os principais hormônios envolvidos nas alterações no organismo durante o ciclo menstrual. Administrando doses adequadas desses hormônios é possível bloquear a ovulação e reduzir as chances de gravidez.

ree

Figura 3: Estrutura molecular dos hormônios estrogênio e progesterona.


A pílula anticoncepcional pode ser uma combinação de estrogênio + progesterona ou somente de progesterona. É importante ressaltar que a pílula anticoncepcional NÃO protege contra Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST).

ree

A pílula combinada de estrogênio (geralmente estradiol) + progesterona reduz os níveis de hormônios importantes para ovulação, como hormônio luteinizante (LH) e o hormônio folículo estimulante (FSH) e esteroides; impedindo que a ovulação ocorra. Tanto o estrogênio quanto a progesterona podem fazer isso sozinhos, mas combinando os dois existe uma ação bem mais acentuada para bloquear a ovulação.


As pílulas combinadas podem ser classificadas em monofásicas (apresentam uma concentração fixa de estrogênio e progesterona em todas as pílulas) ou multifásica (apresentam concentrações variáveis de hormônios em cada pílula). Esses medicamentos geralmente são encontrados em embalagens com hormônios para 21 dias com mais 7 pílulas sem nenhum hormônio. O sangramento menstrual é previsível e ocorre durante os dias de uso das 7 pílulas sem hormônio ativo.


A pílula de progesterona ou minipílula contém somente este hormônio ou algum derivado e também são altamente eficazes na contracepção. A progesterona tem um efeito mais local no útero, atuando principalmente no aumento da espessura do muco cervical (lembra do método do muco cervical que falamos acima?) e deixam o endométrio mais fino. O endométrio é o tecido que reveste a parede do útero e que prepara útero para gestação. Com o muco cervical mais espesso, a motilidade dos espermatozóides fica reduzida, o que dificulta que ele encontre um óvulo e a fertilização aconteça. Além disso, como o endométrio fica mais fino, fica mais difícil para um óvulo fertilizado se aderir à parede, reduzindo as chances de gravidez.


A pílula deve ser tomada todo dia e de preferência no mesmo horário. Além disso, geralmente não são necessárias pausas. Caso a mulher pare de tomar o anticoncepcional, a capacidade de engravidar volta em pouco tempo.


Os hormônios estrogênio e progesterona também podem ser administrados com uma injeção. Essa injeção funciona muito bem e pode ser administrada todo mês ou de 3 em 3 meses.

ree

Anel vaginal


Muita gente não conhece o anel vaginal, mas é um dos métodos contraceptivos de maior eficácia, sendo este combinado com os hormônios estrogênios e progesterona. Ele libera esses hormônios de forma regular na parede vaginal, os quais caem na corrente sanguínea para prevenir a gravidez.


Este é um método para mulheres que não desejam ou não toleram contraceptivos orais ou até mesmo os injetáveis. Além disso, o anel vaginal atua inibindo a ovulação e consequentemente, impede que os óvulos sejam liberados dos ovários. Este anel é colocado na vagina da mulher uma vez por mês.


Desvantagens: Não protege contras as Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST).

ree


E por fim a famosa pílula do dia seguinte


A pílula do dia seguinte é somente usada para casos de contracepção de URGÊNCIA! Este é o único método utilizado após a relação sexual para prevenir gravidez indesejada. Esta pílula deve ser tomada nas primeiras 48 horas após a relação sexual e apenas quando o método contraceptivo habitual falha ou foi esquecido. Quanto mais cedo a pílula for tomada, melhor.


É importante ressaltar que este medicamento NÃO é um método contraceptivo tão eficaz como os outros que falamos e só deve ser utilizado excepcionalmente. Não recomenda-se recorrer com frequência este método de urgência, pois pode gerar efeitos hormonais negativos. Busca-se a pílula do dia seguinte apenas em casos de extrema urgência!!!


Anticoncepcionais de barreira:


Nessa classe de anticoncepcionais temos métodos que colocam obstáculos no caminho dos espermatozóides e os impedem fertilizar o óvulo. Nesse grupo temos a camisinha feminina, o diafragma e o dispositivo intra-uterino (DIU).


1) Camisinha feminina


A camisinha feminina é um tubo de plástico, fino e resistente que já vem lubrificado e devem ser colocada antes do contato genital. A camisinha feminina é protege contra gravidez e também de IST/HIV/AIDS. Mas lembre-se que ela só protege se for usada antes de TODA relação sexual! A camisinha funciona segurando o esperma na relação sexual e impede que os espermatozóides entrem no corpo da mulher.

ree

2) Diafragma


O diafragma é uma capa de borracha ou silicone que é colocada na vagina e cobre a entrada do útero. O diafragma pode ser encontrado em diferentes tamanhos e a mulher pode buscar ajuda para escolher o mais adequado. Além disso, podem ser usados junto com espermicidas, que mata os espermatozóides. Uma vantagem do diafragma é que você pode reutilizá-lo! Depois do ato sexual, basta lavar com água e sabão neutro, secar bem com um pano macio e guardar em lugar seco e fresco, não exposto à luz do sol. Uma desvantagem é que o diafragma NÃO protege contra IST/HIV/AIDS.

ree

3) DIU (dispositivo intra-uterino)


O dispositivo intra-uterino (DIU) e o sistema intra-uterino (SIU) são dispositivos ou sistemas com função bem parecida que são inseridos no útero para evitar a gravidez. Existem diferentes formatos de DIU/SIU, dependendo da estrutura da cavidade uterina da mulher. Por exemplo, existem dispositivos em formato de T, Y, de ferradura e ômega.

ree

A diferença entre o DIU e o SIU é sua composição: enquanto o DIU é recoberto de cobre e não possui nenhum hormônio, o SIU é de plástico e libera hormônios (geralmente similares à progesterona) diretamente no útero. O resultado contraceptivo de ambos é similar e se baseia em inibir os espermatozóides, impedindo que eles se encontrem com o óvulo.


O DIU/SIU deve ser colocado por um profissional de saúde treinado. Apesar dessa necessidade de ajuda profissional, estes dispositivos não atrapalham a mulher e nem machucam o parceiro ou parceira durante o sexo. A mulher que usa DIU/SIU pode apresentar aumento do sangramento menstrual e aumento na duração da menstruação e cólicas. Tais efeitos não trazem problemas para a saúde, a menos que a mulher tenha anemia severa. O DIU também NÃO protege contra IST/HIV/AIDS e NÃO é recomendado para mulheres que se relacionem com mais de um parceiro/parceira sexual que não se protegem durante sexo, por exemplo usando com camisinhas.

ree

Outros métodos

ree

Conclusão


Hoje fizemos um resumão de métodos anticoncepcionais femininos. Nossa intenção foi de introduzir o tema e mostrar quais os métodos mais usados e como funcionam. Para mais informações, você consultar nossas referências! E lembrem-se: USEM CAMISINHA, pois é o único método para prevenir a IST!


Curiosidades


Vocês sabiam que muitos métodos contraceptivos tem eficácia acima de 99%, mas quando não combinado com a camisinha, pode acontecer da mulher ficar grávida? Pois é, ainda não existe nenhum método perfeito, mas a maioria dos métodos existentes chegam perto quando usados corretamente. Por mais que as porcentagens sejam mínimas, pode acontecer da mulher engravidar por diversos motivos.


Convido a vocês a pesquisarem no google sobre as histórias de mulheres que tomavam os métodos contraceptivos, menstruam normalmente e de repente descobriram que estavam grávidas quando já estavam parindo. E até mesmo de histórias de mulheres que usam DIU e o neném nasceu segurando o DIU na mão e outro com o DIU no cabelo.

ree

Figura 12. Bebês inesperado de mães que usavam DIU.



Autor

Marcos V. Santana

Farmacêutico

Mestre e Doutor em ciências e Biotecnologia


Referências

  1. Um guia ilustrado sobre como usar cada método contraceptivo citado: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/direitos_sexuais_reprodutivos_metodos_anticoncepcionais.pdf. acessado 25 06 2020

  2. Outro guia muito bom e mais técnico: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/0102assistencia1.pdf

  3. Alguns dados sobre a prevalência de métodos contraceptivos: “Contraceptive Prevalence, Any Methods (% of Women Ages 15-49) | Data.” n.d. Accessed June 26, 2020. https://data.worldbank.org/indicator/SP.DYN.CONU.ZS?end=2018&start=2018&view=bar.

  4. “Products - Data Briefs - Number 327 - December 2018.” 2019. June 7, 2019. https://www.cdc.gov/nchs/products/databriefs/db327.htm.

  5. Anel vagina. <http://www.apf.pt/metodos-contracetivos/anel-vaginal> acessado 26 06 2020.

  6. Pílula do dia seguinte. <https://www.sns24.gov.pt/tema/saude-sexual-e-reprodutiva/pilula-do-dia-seguinte/#sec-0> acessado 26 06 2020.

  7. Mulher engravida com DIU. <https://veja.abril.com.br/blog/virou-viral/mulher-engravida-usando-diu-e-posta-foto-inusitada-do-bebe/> acessado 26 06 2020.

  8. Bebê nasce com DIU enrolado no cabelo. <https://catracalivre.com.br/saude-bem-estar/bebe-nasce-com-diu-enrolado-no-cabelo/> acessado 26 06 2020.



Gostaram? Continuem com a gente, pois estaremos sempre trazendo novidades para vocês. Nos sigam no instagram @cienciapovao. Aproveitem e compartilhem com amigos e familiares






Comentários


  • facebook
  • instagram

©2020 por Ciência Povão. Orgulhosamente criado com Wix.com

bottom of page