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Anticoncepcionais Masculinos

E aí, Povão! Tudo tranquilo? Hoje o assunto é mais voltado para o público masculino. Quem aí já passou aquele medo da parceira falar que a menstruação está atrasada? Ou ainda, quem já comemorou quando ela falou “amor...desceu”? Ambas as ocasiões estão envolvidas com a decisão, ou com a falta de planejamento, de se ter um filho.


Algumas pessoas sonham em ser pais ou mães, outras preferem esperar até o momento o certo, como ter uma boa estabilidade financeira, ou um bom lugar para morar, etc. Também há aqueles que não planejam ter filhos e os que preferem esperar para tê-los. Em ambos os casos é muito importante ter um bom planejamento da vida íntima com seu (sua) parceiro (a).


Métodos contraceptivos


Existem muitos métodos contraceptivos (que impedem a gravidez), usados por homens e mulheres, que possibilitam ter uma vida sexual ativa e reduzem bastante a chance de ter filhos, se usados corretamente. Esses métodos podem ser separados em duas categorias:


1) Métodos Reversíveis

Seus efeitos atuam somente durante os momentos que são utilizados, podendo ser revertidos caso a pessoa pare de usar.


Dentro desta categoria podemos destacar a camisinha, que inclusive é o único método que protege contra IST’s - Infecções Sexualmente Transmissíveis (o termo DST’s está caindo em desuso) - e por isso é muito importante usá-la, minha gente. Temos também os dispositivos instalados no útero da mulher (DIU e SIU) e o uso de pílulas anticoncepcionais (que atuam no controle hormonal).


Existem outros métodos reversíveis, mas não falaremos deles no momento.


2) Métodos Irreversíveis

São usados apenas uma vez e seus efeitos são permanentes, não havendo como reverter.


Dentro desta categoria podemos destacar os processos cirúrgicos. Um deles é a laqueadura, que consiste basicamente num corte nas tubas uterinas da mulher, e o outro é a vasectomia, que consiste num pequeno corte nos canais deferentes (canal onde os espermatozoides caminham quando saem do testículo) do homem.


Ambos os métodos são decisões muito importantes e sérias a serem tomadas, afinal, uma vez que feitos, tornam-se bastante difíceis de serem revertidas (através de processos cirúrgicos que possuem taxas de sucesso variáveis). Além disso, vale salientar que aqui no Brasil, ambos os procedimentos possuem uma série de condições para poderem ser realizados, como por exemplo: a pessoa deve possuir no mínimo 25 anos ou ter pelo menos dois filhos vivos e o consentimento de seu (sua) cônjuge.


O que temos até agora?


Com relação aos métodos contraceptivos citados anteriormente, o único que é exclusivamente direcionado aos homens (sexo biológico masculino) é a vasectomia, uma vez que todos os outros são direcionados às mulheres, e a camisinha, que possui sua versão masculina e também feminina.


No entanto, por ser um método irreversível, a maioria dos homens não optam por esse recurso, sobrando para mulher a responsabilidade em decidir qual método utilizar, sendo a pílula anticoncepcional um dos métodos mais usados devido ao controle da fertilidade.


Porém, existem algumas substâncias que vêm sendo estudadas e que podem, finalmente, se tornarem os primeiros medicamentos que impedem a fecundação (encontro do espermatozoide com o óvulo) direcionados somente ao público masculino:


• DMAU


O Undecanoato de nandrolona (Dimethandrolone Undecanoate - DMAU, na sigla em inglês) é uma pílula anticoncepcional masculina que contém substâncias derivadas de hormônios femininos. Sua utilização diminuiria os níveis de testosterona no corpo do homem, impedindo a produção de espermatozóides.


Apesar de seus efeitos positivos, o uso do DMAU também gerou efeitos colaterais como o aparecimento de acne, perda de libido e alterações de humor. A pílula ainda é estudada para que seus efeitos colaterais sejam minimizados o máximo possível.


11 – beta – MNTDC


Outra pílula anticoncepcional masculina, que é bastante promissora, é a Dodecilcarbonato de 11-beta metil-19-nortestosterona (no inglês 11-beta-methyl-19-nortestosterone dodecylcarbonate ou 11-beta- MNTDC). É uma pílula composta por uma substância similar à testosterona, com androgênios (hormônios masculinos) e progesterona, e sua ação é similar a da DMAU, impedindo a produção de espermatozóides.


Nos estudos realizados na fase I foram testados 40 homens saudáveis, mas, assim como o DMAU, apresentou efeitos colaterais em alguns homens que fizeram uso dela (28 dias), como o aparecimento de acnes, mudanças na libido e disfunção erétil.


Apesar dos seus efeitos principais serem positivos, ainda é necessário estudos mais aprofundados, assim como é necessário mais testes para que essa pílula entre em circulação no mercado, talvez ainda demore um pouco.

• Injeção Hormonal


Este método consiste em uma injeção contendo testosterona sintética e derivados (naturais) dos hormônios femininos: estrogênio e progesterona.


Em 2008, a ONU patrocinou um estudo utilizando esse tipo de injeção realizando testes com 320 homens. Boa parte deles apresentou diminuição considerável no número de espermatozoides por mililitro de sêmen (numa quantidade considerada infertilidade masculina). Apesar de a maioria voltar a ser fértil após o término do tratamento, alguns demonstraram baixa contagem de espermatozoides depois 52 semanas do fim dos testes.


Seus efeitos colaterais incluem aumento de acne, dores no local da injeção, dores no testículo, sudorese noturna, além de mudanças na libido e no humor.


Vasagel


Este método consiste na aplicação de um gel não-hormonal nos canais deferentes do homem. Seu efeito consiste em bloquear a passagem de espermatozoides pelo canal, impedindo que haja a fecundação.


É um método que pode durar até 10 anos, podendo ser revertido através da aplicação de uma solução de bicarbonato de sódio no gel. Esse contraceptivo encontra-se em fase de testes.



• RISUG


De todos os métodos citados, o RISUG (da sigla em inglês Inibição Reversível do Esperma sob Controle) é um dos mais promissores.


Ele consiste na injeção de um polímero (um material sintético) numa região próxima aos testículos. Apesar de muitos estarem se contorcendo de dor só por ler isso, o procedimento é feito com anestesia e sua finalidade é fazer com que os espermatozoides se tornem não-funcionais, tendo eficácia de 97% (a camisinha fornece até 98%).


A injeção é aplicada nos canais deferentes e, ao invés de cortá-los como é na vasectomia, o polímero se fixa nesses canais e faz com que os espermatozoides que passam por eles tenham danos na sua estrutura de penetração ao óvulo.


Mesmo com funcionalidade de até 13 anos, os efeitos do RISUG podem ser facilmente revertidos com a aplicação de outra substância no mesmo local, que é capaz de acabar com os efeitos do polímero que atrapalha os espermatozoides.


Esse produto tem previsão de chegada ainda em 2020. Ele ainda apresenta efeitos colaterais, mas são considerados leves quando comparados à outros métodos, ou ainda quando comparados aos métodos anticoncepcionais femininos.


A responsabilidade é só da mulher?


Mesmo com alguns métodos mostrando-se muito promissores, ainda vivemos em uma sociedade onde boa parte dos homens joga toda responsabilidade da contracepção para as mulheres. Esse pensamento, que já está mais que ultrapassado, pode ter surgido no início dos anos 60, quando as primeiras pílulas anticoncepcionais foram produzidas em larga escala. A partir de então, as mulheres ganharam mais liberdade e controle das suas vidas, podendo atrasar ou evitar a maternidade para poderem seguir outros caminhos que lhes fossem de interesse.


Antes do surgimento da pílula, o homem tinha mais participação no processo de contracepção, estando diretamente envolvido nesse controle através do uso da camisinha.


Com o tempo, o pensamento mudou e hoje em dia o controle da reprodução é basicamente associado às mulheres, uma vez que elas possuem um medicamento que pode controlar quando ela quer ter um filho, mesmo passando por todos os efeitos colaterais que são atribuídos ao uso das pílulas anticoncepcionais.


Você, homem, que leu este texto até aqui pode estar pensando:

“Nossa, muito legal esses anticoncepcionais masculinos...mas eu não sei se usaria, pode dar vários problemas, perder a vontade de transar e tal...”, e talvez muitos pensem que perderiam os “instintos masculinos” e correriam riscos. Mas pensa só meu amigo, exatamente todos os efeitos citados com relação aos anticoncepcionais masculinos, sem exceções, são os mesmos efeitos que podem ser gerados para as mulheres no uso de anticoncepcional feminino, e elas enfrentam isso desde a existência da pílula anticoncepcional. Além disso, muitos efeitos que não foram atribuídos aos homens ocorrem no uso da pílula pelas mulheres, como:

  • Tromboses

  • AVC

  • Doenças cardiovasculares

  • Embolia pulmonar

Então, galera, deixemos de lado esses pensamentos ultrapassados e sejamos mais empáticos com a mulheres. Seja compreensível, abra sua mente e seja justo nas comparações.


E vale sempre salientar, o uso da camisinha é indispensável, pois é o único que impede a infecção por IST’s e a gravidez indesejada. Então bota a armadura no “amigão”, já é?


Tamo junto minha gente, grande abraço!


Autor

Adriano Lima

Graduado em Biologia


Referências

1) Kamischke, A.; Heuermann, T.; Krügger, K.; Von Eckardstein, S.; Schellschmidt, I.; Rübig, A.; Nieschlag, E. An Effective Hormonal Male Contraceptive Using Testosterone Undecanoate with Oral or Injectable Norethisterone Preparations. The Journal of Clinical Endocrinology & Metabolism 87(2):530–539. 2002

2) Khilwani, B; Badar, Ayesha, Ansari, Abdul S.; Lohiya, Nirmal K. RISUG® as a male contraceptive: journey from bench to bedside. Basic and clinical andrology 30 (2). 2020



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