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Transtornos de ansiedade

Olá, povão! Todos (as) bem? Como vocês decidiram semana passada, o post de hoje é sobre Ansiedade.

Antes de iniciarmos, é preciso saber que a ansiedade é uma resposta do nosso organismo frente à uma situação ameaçadora ou situações que podem provocar medo, dúvida ou expectativa. Se não fôssemos capazes de emitir tais reações, não conseguiríamos nos prevenir de situações perigosas, como por exemplo, um assalto. Dessa maneira, a ansiedade também é considerada uma reação natural e inerente ao ser humano, o que significa que não é possível escapar ou eliminá-la de nossas vidas.


No nosso dia a dia podemos experimentá-la de diversas formas. É comum nos sentirmos ansiosos dias antes de uma entrevista de emprego, uma prova, um encontro amoroso, uma consulta médica ou ao dentista. Nesses casos, não há nenhum mal em sentir-se ansioso (a). A ansiedade só se torna um problema quando a sentimos constantemente e sem motivos aparentes, ou seja, desconectada da realidade, comprometendo a nossa vida social e ocupacional (trabalho).


Os sintomas clássicos da ansiedade são disparados por meio de um circuito neurobiológico. Ao nos depararmos com uma situação ameaçadora, o Sistema Nervoso Simpático (SNS), responsável por emitir respostas às situações de emergência e estresse, libera catecolaminas* e glicocorticóides**. Estes hormônios provocam os sintomas físicos da ansiedade: sudorese (transpiração; suor), tremor, taquicardia, dilatação da pupila, “frio na barriga” e nas extremidades.


Os sintomas cognitivos (ou mentais) da ansiedade são alimentados por pensamentos de perigo, gerando preocupação frequente, pensamentos de que algo terrível está para acontecer, medo de perder o controle, baixa concentração e memória fraca.


*Catecolaminas: classe de hormônios que são sintetizados pelo interior (medula) da glândula adrenal.

**Glicocorticóides: classe de hormônios que são sintetizados por células às margens (córtex) da glândula adrenal.

Você deve estar pensando: e de onde vem aquela sensação de alívio depois de um momento de intensa ansiedade? Pois bem, é aqui que entra o Sistema Nervoso Parassimpático (SNP). O SNP atua no controle das atividades relaxantes, como a diminuição dos ritmos cardíacos e respiratório. Ele age, portanto, ao contrário do SNS (ver figura 1). Se não fosse o SNP, nosso corpo entraria em colapso toda vez que estivéssemos ansiosos. Assim, a ansiedade cresce até atingir um limite máximo e depois diminui, pois o Sistema Nervoso Parassimpático entra em ação. UFA!




Transtorno x Doença


Povão, antes de aprofundarmos o assunto e entrarmos nos transtornos de ansiedade propriamente ditos, é preciso fazer um esclarecimento. Por vezes, os termos transtorno e ansiedade são utilizados como sinônimos (palavras que têm o mesmo significado), o que não é verdade.


Uma doença é caracterizada como um distúrbio em órgãos, na psique (mente) ou no organismo como um todo, associado a sintomas específicos e causas conhecidas. Um exemplo de doença é a Dengue.


A Dengue é causada por um vírus que é transmitido pela picada do mosquito Aedes aegypti. Os sintomas são febre alta, manchas na pele e dores musculares e nas articulações. Em casos mais graves, também é observado hemorragias.


Já o transtorno, termo largamente utilizado pela psiquiatria e pela psicologia, diz respeito às alterações no estado normal de saúde, porém, diferentemente da doença, seus sintomas e causas são difíceis de serem estabelecidos. Ou seja, poucos são os quadros clínicos mentais que podem ser considerado uma doença.


Resumindo: doenças possuem sintomas específicos e causas bem definidas, enquanto os transtornos são determinados por múltiplos fatores (biológicos, psicológicos e sociais), sendo difícil estabelecer sua causa e sintomas.

Transtorno de Ansiedade Generalizada (TAG)


É caracterizado por sintomas ansiosos excessivos, na maior parte dos dias, por pelo menos seis meses. A pessoa que sofre de TAG vive angustiada, tensa, preocupada, nervosa ou irritada. Nesses quadros, são frequentes sintomas como insônia, dificuldade em relaxar, angústia constante, irritabilidade aumentada e dificuldades de concentração. Outros sintomas comuns são: cefaléia (dor de cabeça), dores musculares, dores ou queimação no estômago, taquicardia, tontura, formigamento e sudorese fria. Esses estados também são conhecidos pelos termos populares: “gastura”, “repuxamento dos nervos” e “cabeça ruim”.


Crises de ansiedade e crises de pânico


Em muitas pessoas a ansiedade aparece por meio de crises casuais, com o surgimento de vários sintomas ansiosos, em quantidade e intensidade que chamam a atenção. Associado às crises agudas e intensas de ansiedade, pode haver ou não sintomas constantes de TAG.


As crises de pânico são crises intensas de ansiedade que geram os seguintes sintomas: taquicardia, suor frio, tremores, desconforto respiratório ou sensação de asfixia, náuseas, formigamentos em membros e/ou lábios. Durante essas crises, pode haver estranheza quanto a si mesmo, assim como sensações de estranhamento ao ambiente familiar. Medo de ter um ataque do coração, um infarto, de morrer e/ou enlouquecer são frequentes nas crises de pânico. Situações que podem desencadear uma crise: aglomerações, ficar preso ou ter dificuldades para sair em congestionamentos de trânsito, supermercados com muita gente, shopping centers, situações de ameaça e etc.

Transtorno do Pânico


O transtorno do pânico são crises de pânico recorrentes, com desenvolvimento de medo de ter novas crises, preocupações com as possíveis implicações da crise como perder o controle, ter um ataque cardíaco ou enlouquecer, seguido de intenso sofrimento subjetivo. Pode ou não ser acompanhado de fobia de lugares amplos e aglomerações (agorafobia).


Ansiedade social (Fobia Social)


Caracteriza-se por um medo ou preocupação intensa e persistente de situações sociais que envolvam expor-se ao contato interpessoal, demonstrar certo desempenho ou situações competitivas e de cobrança. A pessoa acometida por ansiedade social sente intensa angústia ao ter de falar em público, apresentar um seminário, fazer uma palestra, ler um trecho de um livro e etc. O medo à exposição é mais forte com pessoas estranhas ou tidas como superiores. As reações podem se dar antes da situação (“não vou conseguir falar para um público tão grande”), durante (“todos estão vendo que estou suando”) e pós evento (ruminação da situação: “poderia ter sido melhor”).



Transtornos com componente de ansiedade


Transtorno de estresse pós-traumático (TEPT)


O TEPT é um transtorno com forte componente de ansiedade que se desenvolve após exposição a um ou mais eventos ameaçadores, traumáticos ou horríveis (estupro, sequestro, assalto, homicídio, desabamentos, incêndios, catástrofes naturais, eventos de guerra, etc).


O TEPT se caracteriza por lembranças ou recordações vívidas do trauma que invadem a consciência, os chamados flashbacks (ou em forma de pesadelo). Essas recordações, com frequência, se acompanham por emoções fortes e profundas, com ansiedade, medo e/ou horror e sensações físicas marcantes.


No TEPT, a pessoa experimenta um estado de contínua sensação de ameaça, demonstrando-se super atenta e pronta para reagir a estímulos, como ruídos inesperados. Os sintomas duram muitas semanas ou meses e causam grande sofrimento.


Transtorno obsessivo-compulsivo (TOC)


Os quadros obsessivos-compulsivos se caracterizam por ideias, fantasias e imagens obsessivas e por atos, rituais ou comportamentos compulsivos. Esses quadros se dividem em dois subtipos: aqueles nos quais predominam as ideias obsessivas e aqueles nos quais predominam os atos e comportamentos compulsivos. Embora seja possível uma pessoa desenvolver ou o quadro obsessivo ou o quadro compulsivo, frequentemente vemos a forma mista (quadros obsessivos-compulsivos).


Os quadros obsessivos se caracterizam por pensamentos, ideias, fantasias ou imagens intrusivas persistentes que invadem a consciência de forma recorrente, acompanhados de acentuado desconforto, angústia, medo ou ansiedade Exemplo: um jovem, de 24 anos, relata que frequentemente se imaginava tendo relações com a irmã. Ele diz: “é horrível, mas tais ideias não param de vir à minha mente.”


As pessoas com esse quadro reconhecem a irracionalidade e o absurdo por trás desses pensamentos, e, às vezes, tentam neutralizá-los com outros pensamentos ou com atos e rituais específicos, o que gera as compulsões. Geralmente, as estratégias de afastamento das ideias intrusivas fracassam.


Nos quadros compulsivos são frequentes os comportamentos e rituais repetitivos, como lavar as mãos inúmeras vezes, tomar muitos banhos, verificar se as portas e janelas estão trancadas diversas vezes, colocar todos os objetos do quarto em certa ordem, e atos mentais, tais como repetir palavras mentalmente em silêncio, fazer listas mentais, fazer determinadas contas, que, em geral, são respostas a uma ideia obsessiva (“devo estar com câncer, aids ou sífilis, então tenho que me lavar constantemente) (DALGALARRONDO, 2018).


Os comportamentos e atos compulsivos parecem estar associados ao cumprimento de regras mágicas que precisam ser rigidamente seguidas. Outra explicação para os atos e rituais compulsivos é a presença de pensamentos mágicos, que vinculam a realização de um ato compulsivo ao afastamento de alguma situação temível ou indesejada. Complicou? Veja o exemplo a seguir: “se eu der 15 voltas no quarteirão antes de entrar em casa, ninguém da família morrerá.”


Crianças costumam ter comportamentos como andar somente sob listas brancas ou listas pretas, ou relacionar um pensamento a uma situação desejável, como “se eu chegar até a praça em menos de 100 passos, me darei bem”. É preciso que os pais fiquem atentos a esses pensamentos e ações, de modo a observar se estes têm fugido à normalidade ou se têm provocado sofrimento, desconforto e prejuízos à criança.


Ansiedade e os tempos atuais


Não é de hoje, muito menos começou na quarentena, os nossos problemas com ansiedade. Vivemos em uma época marcada por diversas obrigações a serem cumpridas, como trabalhar, estudar, fazer cursos, fazer exercícios físicos, cuidar da aparência e etc. Aliado a isso, existe a cobrança por um bom desempenho em todas as áreas de nossas vidas, como no trabalho, na escola ou até mesmo em casa (JÚNIOR; SOUZA; BARROS, 2011).


Nos tornamos cada vez mais pessoas multitarefa, isto é, fazemos diversas atividades ao mesmo tempo. Em casa, constantemente dividimos nossa atenção entre as tarefas domésticas, a tv e o celular. No trabalho, exigem que sejamos capazes de dar conta de diversas tarefas que, por vezes, não competem ao nosso posto. Precisamos ser competentes, proativos (as), dinâmicos (as), não por prazer ou necessidade, mas por medo de perder o emprego.


E, como se já não bastasse todo esse cenário, veio a pandemia de coronavírus e a quarentena. Mais tensão, medo e insegurança, dessa vez causados pela preocupação com uma possível contaminação, com as incertezas do futuro, com as contas chegando, com o isolamento social.


Não é de se surpreender que estejamos sempre cansados e/ou sobrecarregados. No entanto, continuamos correndo como loucos, mesmo exaustos. Se estamos sempre em busca de algo que está no futuro, nunca estamos no aqui e agora (presente), não é de se estranhar que sejamos tão ansiosos (as).


Como vimos ao longo do texto, vários são os fatores que podem desencadear uma crise ou um transtorno de ansiedade, fatores estes que estão relacionados aos nossos componentes biológico (corpo), psíquico (mente) e social.


Por isso, é sempre importante estar atento (a) a um aspecto: quando o corpo der sinais de que não vai bem, tentem pensar em como tem sido os seus últimos dias, meses, anos, ou seja, como tem sido sua vida nos últimos tempos, e se há a possibilidade de essas situações estarem conectadas com os sintomas que surgiram. E, claro, observem como estes sintomas têm afetado você.


O próximo passo é procurar um profissional de saúde (psiquiatra e/ou psicólogo). Você não é menos forte que ninguém por precisar de ajuda. Os transtornos de ansiedade são tratáveis através da farmacoterapia (uso de medicações) e da psicoterapia. As Terapias Cognitivo-Comportamentais (TCC) têm se demonstrado eficaz no tratamento de Transtornos de Ansiedade. No entanto, qualquer outra abordagem psicológica é capaz de atuar sobre esses e outros sintomas.


Por hoje é só, povão! Até o próximo post.

Autora

Jessica Melo

Psicóloga e Psicoterapeuta


Referências:


BRUNA, M. H. V. Ansiedade (transtorno de ansiedade generalizada). Disponível em: https://drauziovarella.uol.com.br/doencas-e-sintomas/ansiedade-transtorno-de-ansiedade-generalizada/


DALGALARRONDO, P. Psicopatologia e Semiologia dos Transtornos Mentais. 3ª ed. Porto Alegre: Artmed, 2019.


DALGALARRONDO, P. Psicopatologia e Semiologia dos Transtornos Mentais. 2ª ed. Porto Alegre: Artmed, 2008.


DUTRA, P. C. Sistema Nervoso Periférico. Infoescola. Disponível em: https://www.infoescola.com/biologia/sistema-nervoso-periferico/

JUNIOR, D. A. F.; SOUZA, R. M.; BARROS, F. L. F. Aspectos psicobiológicos da ansiedade: noradrenalina e suas implicações na performance esportiva. Cadernos UniFOA, Rio de Janeiro, v. 6, n. 1, p. 75-82, 2011.


SANTOS,V. S. dos. Diferença entre doenças, síndromes e transtornos. Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/doencas/diferenca-entre-doencas-sindromes-transtornos.htm


TANNO, A. P; MARCONDES, F. K. Estresse, ciclo reprodutivo e sensibilidade cardíaca às catecolaminas. Rev. Bras. Cienc. Farm., São Paulo , v. 38, n. 3, p. 273-289, 2002.

ZWIELEWSKI, G. et. al. Protocolos para tratamento psicológicos em pandemias: as demandas em saúde mental produzidas pela Covid-19. Revista Debates em Psychiatry - RDP, n. 2, p. 2-9, 2020.




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