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Tipos sanguíneos

Fala povão! Mais um dia, mais uma vitória para nós (vai dar certo sim, nem que seja no ódio).


Imagine a seguinte situação: Você está no colégio e a tia Joana te pede para pesquisar sobre os diferentes tipos sanguíneos e perguntar para as pessoas sobre o tipo de sangue delas. Você faz a pesquisa e descobre que a genética tem tudo a ver com os tipos sanguíneos, e daí você pergunta aos seus vizinhos sobre o sangue deles....O senhor Juvenildo (estou sem criatividade) é do tipo sanguíneo AB, a senhora Juvenilda é do tipo B, por fim, Juvenildinho, o filho, é sangue O. Mas pera aí?? Como assim, do sangue O?!


Vamos falar de genética


Os tipos sanguíneos são determinados geneticamente, ou seja, pela informação que você carrega em seu DNA, os genes. O seu DNA foi montado a partir dos DNA’s dos seus genitores, metade veio de sua mãe e a outra metade de seu pai, e isso é que vai determinar como você é internamente e externamente. Os genes, que são porções de DNA que contém informações, podem ter algumas versões (chamamos de ‘alelos’) e isso determina a diferença entre as pessoas. Por exemplo, imagine uma bola, a qual chamarei de “gene B”. Só que a bola poderia ser de basquete, vôlei, futebol, tênis, enfim, muitas variantes, de forma que o nosso “gene B” necessita ter uma especificação. Nesse caso, se quiséssemos especificar como sendo uma bola de tênis, poderíamos dizer “gene BT”.


Quando falamos dos tipos sanguíneos, a ideia é parecida. Temos vários sistemas de tipagem sanguínea, mas os mais comuns que observamos no cotidiano são os sistemas ABO e Rh. Para determinar o tipo sanguíneo, no sistema ABO, utilizamos a letra ‘I’ maiúscula para nos referirmos ao gene, e utilizamos as letras A e B para nos referirmos as variantes do gene. No entanto, quem é do sangue O é representado somente pela letra “i” minúscula (sem as letras A e B). Então temos:


Podemos ver pela tabela que para determinar um tipo de sangue precisamos da união de dois alelos, isso porque cada um deles veio de seus pais. De forma didática, podemos entender que os alelos fazem parte de um cromossomo (DNA bem enrolado), e cada um de nossos pais têm 46 cromossomos em suas células. Quando os espermatozoides e óvulos (células da reprodução) são produzidos, apenas metade desses cromossomos (23 cromossomos) fica contido neles, justamente para que quando houver a união de ambos, o novo indivíduo formado possua 46 cromossomos. Os alelos dos cromossomos são enviados de forma aleatória, não existe um controle natural para decidir qual alelo será enviado.


É muito importante ter bem claro que, por mais que você carregue dois alelos, você manda apenas um deles para seu filho, ou seja, caso você seja sangue tipo AB (determinado geneticamente como IA IB) você mandará apenas um deles, ou o alelo IA ou o IB.


Outro ponto interessante é que o alelo da letra ‘i’ minúscula é dominado pelos de letra “I” maiúscula, ou seja, se ele estiver junto a uma letra maiúscula ele não será manifestado, mas, caso ele esteja em dose dupla, ele manifesta o sangue do tipo O. Por isso, podemos ver na tabela que existem duas possibilidades que conferem o sangue do tipo A: ou ele será IAIA ou IA i (para o sangue B é a mesma coisa). Logo, o sangue O só possui uma forma de ser manifestado, que é quando existe a união de dois alelos “i” minúsculo (formando “ii”), sendo um deles doado pelo seu pai e o outro doado pela sua mãe.


Como funciona o Sistema ABO?


Agora que falamos sobre a parte genética, podemos entender o que ocorre com as nossas células vermelhas do sangue: as hemácias. As hemácias, ou glóbulos vermelhos, são células responsáveis pelo transporte de gases (principalmente oxigênio) pelo nosso corpo, e é nelas que os tipos sanguíneos são expressados.


Todas as células do nosso corpo têm DNA. Mas o que difere as células é a expressão de moléculas chamadas proteínas, que vão desempenhar diferentes papéis estruturais e funcionais.


Vimos que no sistema ABO temos aqueles alelos que vão determinar o tipo do sangue. Mas como? Primeiramente, o alelo vai dar origem a uma proteína, que pode ser a proteína A ou a proteína B. Se o alelo for IA dará origem a proteína “A”, do mesmo modo, o alelo IB dará origem a proteína B. Por sua vez, essas proteínas ficarão dispostas na superfície das hemácias. Então temos:


. Sangue A possui proteínas A na superfície da hemácia;

. Sangue B possui proteínas B na superfície da hemácia;

. Sangue AB possui tanto a proteína A quanto a B na superfície da hemácia;

. Por último, o sangue O não possui nenhuma das proteínas na superfície.


Com base nisso, podemos entender que o nosso tipo sanguíneo é definido, pelo o que temos ou não temos nas nossas hemácias. Só que existem detalhes, que vão além das proteínas na superfície da hemácia. Temos também os anticorpos (proteínas de defesa) que ficam dispersos no plasma sanguíneo (parte líquida do sangue), e esses anticorpos servem para combater possíveis sangues diferentes. Isso ocorre porque os anticorpos possuem formatos que se ligam perfeitamente às proteínas A e/ou B, formando uma espécie de chave-fechadura, unindo as hemácias em aglomerados que causam a destruição delas. Como isso funciona?


. Quem tem sangue tipo A possui anticorpos “anti-B”, que combatem o sangue B;

. Quem tem sangue tipo B possui anticorpos “anti-A”, que combatem o sangue A;

. Quem tem sangue AB não possui anticorpo nenhum, se não a pessoa iria atacar a si mesma;

. Quem tem sangue O possui os anticorpos anti-A e anti-B, ou seja, ataca os sangues A e B.


Sistema Rh


Além do sistema ABO, existe outro sistema muito importante e comum de observamos no dia-a-dia, o sistema Rh ou fator Rh. O fator Rh foi descoberto em 1940 a partir de observações feitas na transfusão do sangue de macacos do gênero Rhesus em coelhos (daí o nome Rh).


Esse é o sistema que dirá se seu sangue é positivo ou negativo, e tudo depende da presença ou não de uma outra proteína que fica na superfície da hemácia. Seu funcionamento se dá de modo semelhante ao do sistema ABO, geneticamente, mas por genes diferentes. Uma pessoa será Rh positivo quando esta tiver a presença da proteína (fator D) nas suas hemácias, ao passo que uma pessoa será Rh negativo quando não tiver a proteína nas suas hemácias.


Assim como no sistema ABO, o sistema Rh também tem anticorpos. Nesse caso, uma pessoa com sangue Rh positivo não produz anticorpos contra o fator Rh (pois iria atacar a ela mesma), e a pessoa Rh negativo produz anticorpos contra o fator Rh (pois o corpo entende como um agente estranho).


Tipagem sanguínea e transfusão de sangue


Entender os sistemas envolvidos na determinação dos tipos sanguíneos é essencial para a realização de transfusões de sangue seguras. Uma vez que existe o contato entre sangues incompatíveis, os anticorpos de um vão atacar o do outro, e o resultado é que as hemácias aglutinam, formando aglomerados que geram complicações no transporte de oxigênio no corpo, o que pode ser fatal.


Então, quais tipos sanguíneos são compatíveis entre si? Quem pode receber ou doar para quem? Bom, podemos ver isso em duas etapas: pelo sistema ABO e pelo sistema Rh. Primeiramente, pelo sistema ABO vimos que existem proteínas nas hemácias e anticorpos no plasma:

. Sangue A pode doar para A e AB, mas não pode doar para o B nem para O;

. Sangue B pode doar para B e AB, mas não pode doar para o A nem para O;

. Sangue O pode doar para O, A, B e AB, mas não pode receber nenhum que não seja O;

. Sangue AB pode doar apenas para AB, mas pode receber de todos.


Segundo, mas não menos importante, podemos ter o fator Rh influenciando nas transfusões. Nesse caso temos:


. Rh positivo doa apenas para Rh positivo;

. Rh negativo doa para Rh positivo e negativo.


É por isso que o sangue O negativo é considerado doador universal, pois de acordo com o sistema ABO, ele pode ser doado para todos os tipos, e quanto ao fator Rh negativo também. Esse tipo sanguíneo é bastante raro aqui no Brasil e, agora, já sabemos da sua importância. Se por um lado ele é uma joia pelo fato de poder doar para todos, por outro é também um obstáculo, pois recebe apenas sangue do mesmo tipo.


Semelhante a isso, o sangue AB positivo é dito receptor universal, uma vez que não possui anticorpos contra as proteínas A e B, e o sangue O não possui proteínas nas superfícies de suas hemácias. E quanto ao sistema Rh, o sangue negativo, ao ser doado para o positivo, não é atacado, porque o sangue positivo não tem anticorpos contra o fator Rh em seu plasma.


É interessante falar que o sangue pode ser doado completo ou somente as hemácias. No caso da doação completa, o plasma também é doado, e teoricamente se há doação de plasma há também a doação dos anticorpos. Isso poderia trazer complicações, uma vez que se o sangue O for doado para o tipo A, B ou AB, junto iriam os anticorpos que atacam esses tipos sanguíneos. Mas a concentração de anticorpos é bem baixa, de forma que eles são diluídos no sangue do receptor, desde que não ultrapasse 450mL.

E pra firmar isso tudo que discutimos, segue aí uma tabelinha maneira com um resumão sobre compatibilidade sanguínea:


Beleza, meus amigos? É isso! Corre lá e conta pra geral o que você aprendeu hoje. Se descobrir algum exemplo tipo “Juvenildinho” por aí, tenta encontrar uma maneira branda de contar pra ele.


Autor

Membro do Ciência

Adriano Lima

Biólogo



Referências

BONMANN, T.J.; MARAFIGA, L.; MALHEIROS, A.; DALL’ALBA, J.; BORCHARTT, L.; DA ROCHA, M.; AMADO, T.; MENDES, G.; WEBER, D.; COMPARSI, B. TIPAGEM SANGUÍNEA ABO/Rh: DISCREPÂNCIAS ENTRE A TÉCNICA EM TUBO E EM LÂMINA. In: XIX Seminário Interinstitucional de ensino, pesquisa e extensão


ARRUDA, E.H.P.; ORTIZ, T.A.; PINHEIRO, D, O. Importance of Self-Knowledge of ABO and Rh Blood-Groups of Students in Tangará da Serra-MT. UNOPAR Cient Ciênc Biol Saúde 2013;15(3):199-202


Grupos Sanguineos em Só Biologia. Virtuous Tecnologia da Informação, 2008-2020. Consultado em 21/09/2020 às 18:21. Disponível na Internet em https://www.sobiologia.com.br/conteudos/Corpo/Circulacao5.php


Sistema ABO em Só Biologia. Virtuous Tecnologia da Informação, 2008-2020. Consultado em 21/09/2020 às 20:52. Disponível na Internet em https://www.sobiologia.com.br/conteudos/Genetica/leismendel11.php


SANTOS, Vanessa Sardinha dos. "O que é fator Rh?"; Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/o-que-e/biologia/o-que-e-fator-rh.htm. Acesso em 21 de setembro de 2020



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