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Por trás do vegetarianismo: o que estimula essa mudança no estilo de vida?

Olá Povão, tudo bem com vocês? Hoje vamos falar sobre um tema muito interessante, o que é o vegetarianismo?


O número de pessoas adeptas a dietas vegetarianas cresceu ~75% no Brasil em 6 anos. Mas por que o vegetarianismo vem tomando proporções cada vez maiores?


Inicialmente, precisamos entender que o indivíduo vegetariano é aquele que não se alimenta da carne de nenhum animal. Dentro desse grupo estão os ovolactovegetarianos (que consomem ovos e laticínios) e os vegetarianos estritos (popularmente chamados de veganos*1, que não consomem nenhum produto de origem animal).


Os motivos para adotar uma dieta vegetariana são muitos, mas existem três grandes razões por trás da decisão de tirar os animais do prato: saúde, sustentabilidade e ética. Durante esse post, vamos abordar cada uma delas de uma maneira geral.


SAÚDE


Se você perguntar a qualquer vegetariano qual pergunta ele mais escuta, ele vai dizer: “Você não adoece por falta de proteínas?”. Nossa cultura nos faz relacionar as proteínas diretamente com carnes e ovos, entretanto, é importante lembrarmos que as proteínas não são o alimento em si, e sim nutrientes presentes nas carnes, nos ovos, nos grãos, nas sementes, cereais etc.


Muitos trabalhos demonstraram a segurança da dieta vegetariana em todas as fases da vida (1,2) e, além disso, essa dieta contribui para uma diminuição de:

  • 25% do risco de ter ataques cardíacos (3);

  • 15% do risco de desenvolver câncer (4,5);

  • 30% do risco de desenvolver diabetes tipo II (o tipo mais comum) (6);

  • 14% do risco de doenças renais crônicas (7)

  • 28% do colesterol no sangue (8).

Além disso, alguns trabalhos demonstraram que a dieta vegetariana também é segura para indivíduos que possuem uma alta demanda por proteínas: os atletas de alta performance (9,10). Por essas razões, a alimentação vegetariana vem sendo vista como uma alternativa saudável às dietas ricas em ingredientes animais e conquistando um público em busca de alternativas saudáveis.


SUSTENTABILIDADE


Atualmente, as pessoas também se preocupam mais com o meio ambiente do que no passado, e a alimentação vegetariana é muito mais sustentável do que as dietas baseadas em produtos animais. Alguns estudiosos trabalham com uma estimativa de que, se o mundo inteiro fosse vegano em 2050, teríamos até 70% a menos de impacto ambiental, resultando na economia de até 30 trilhões de dólares (11). Entre todas as atividades que produzem gases nocivos ao meio ambiente, a pecuária é a que produz em maior quantidade (14-18% de toda a emissão de CO2, CH4 e NO (12).

  • A produção de 1 kg de bife possui o mesmo impacto ambiental que dirigir um carro a gasolina por 3 horas. (13)

  • A fabricação de um simples hambúrguer de carne bovina gasta mais de 2 mil litros de água - o suficiente para uma pessoa tomar banhos de 15 minutos por dois meses .

  • Todos os gases estufa gerados pela queima de todos os combustíveis fósseis representam somente 20% dos gerados pela pecuária (14).

  • A produção de carne representa 41% das emissões de gases estufa pela pecuária, enquanto a produção de leite representa 20% (15).

  • 1 hectare de campo é capaz de produzir 27.750 kg de comida vegana e apenas 280 kg de bife (13).

  • Uma pessoa em uma dieta vegetariana estrita produz menos de 50% de CO2, menos de 1% de petróleo, 0,7% de água e 0,5% do espaço de florestas utilizado para alimentação (17).


ÉTICA


De acordo com a ONG californiana Mercy for Animals (MFA), mais de 99% dos casos de exploração animal estão relacionados à alimentação humana e menos de 1% aos animais abandonados, utilizados em testes laboratoriais, explorados como entretenimento e usados como transporte (16).

  • 6 bilhões de animais são abatidos por ano no Brasil*2; (17)

  • se toda a população brasileira reduzisse em 10% o consumo de produtos de origem animal, 630 milhões de animais teriam suas vidas poupadas. (18)

Além de sacrificar os animais para consumo, a indústria da carne vai além na crueldade: os animais são mantidos em gaiolas ou estábulos tão pequenos, mas tão pequenos, que muitas vezes sequer conseguem mudar de posição. Esses animais são privados de exercícios físicos para que toda sua energia seja utilizada na produção de carne, ovos ou leite, além de tomarem medicamentos para engordarem mais rápido ou produzir mais leite e ovos. As vacas são inseminadas artificialmente para a produção de leite e têm seus bebês afastados delas em seu primeiro dia de vida (19,20). Os porcos e bois são submetidos a diversos procedimentos dolorosos sem anestesia e cortados vivos (anestesiados) para não comprometer a qualidade da carne (21). Não só para os animais, mas a indústria da carne também causa danos a seus funcionários que, muitas vezes, são irreversíveis. Funcionários de abatedouros possuem níveis de estresse similares aos de veteranos de guerras dos EUA e tendem a perder a sensibilidade a violência (22).


Para a fabricação de algo tão importante quanto a comida que nos nutre, a indústria da carne parece estar longe das condições éticas que nos trazem a felicidade que, muitas vezes, celebramos comendo animais que também passaram por diversos tipos de trauma até chegar à nossa mesa.


E você? Acha que algum desses motivos é um estímulo para reduzir o consumo de produtos de origem animal?


É sempre importante lembrar a importância de se ter um profissional de nutrição para te acompanhar nesta jornada. A fim de auxiliar aqueles que não podem arcar com os custos, mas que ainda desejam diminuir os derivados de animais de forma saudável, a Mercy for Animals e a Sociedade Vegetariana Brasileira criaram um Desafio de 21 Dias sem Carne (23). Durante esse período, você pode ler os guias e fazer consultorias gratuitas com os nutricionistas e médicos que fazem parte da equipe.


A diminuição do consumo de produtos de origem animal é boa para os animais, para os humanos e para o planeta. Podemos gerar grandes impactos positivos com pequenos atos!


E aí? Ficou com alguma dúvida? Mande sua pergunta para nós por meio do nosso chat ou por meio de mensagem direta no Instagram @cienciapovao. (inserir aqui o que têm que fazer se tiverem com dúvida kkk).


*1 – Por definição, o veganismo não se aplica somente à dieta e sim a um estilo de vida completo. Indivíduos veganos não consomem ingredientes de origem animal na dieta, mas nem em cosméticos, roupas, sapatos etc. Os indivíduos que retiram os componentes de origem animal somente da dieta são chamados de vegetarianos estritos.


*2 esse número não inclui os animais marinhos


Convidada da semana

Caroline Mendes

Vegana

Voluntária da ONG: MERCY FOR ANIMALS

Biomédica, mestre e doutoranda em química biológica (IBqM - UFRJ)

Professora substituta da UFRJ em Bioquímica



Referências

  • AGNOLI, C., BARONI, L., BERTINI, I., CIAPPELLANO, S., FABBRI, A., PAPA, M., PELLEGRINI, N., SBARBATI, R., SCARINO, M. L., SIANI, V., SIERI, S. (2017). Position paper on vegetarian diets from the working group of the Italian Society of Human Nutrition. Nutrition, metabolism, and cardiovascular diseases : NMCD, 27(12), 1037–1052. https://doi.org/10.1016/j.numecd.2017.10.020

  • BOLDT, P., KNECHTLE, B., NIKOLAIDIS, P., LECHLEITNER, C., WIRNITZER, G., LEITZMANN, C., ROSEMANN, T., WIRNITZER, K. (2018). Quality of life of female and male vegetarian and vegan endurance runners compared to omnivores - results from the NURMI study (step 2). Journal of the International Society of Sports Nutrition, 15(1), 33. https://doi.org/10.1186/s12970-018-0237-8

  • CHANG, Y. J., HOU, Y. C., CHEN, L. J., WU, J. H., WU, C. C., CHANG, Y. J., CHUNG, K. P. (2017). Is vegetarian diet associated with a lower risk of breast cancer in Taiwanese women?. BMC public health, 17(1), 800. https://doi.org/10.1186/s12889-017-4819-1

  • DINU, M., ABBATE, R., GENSINI, G. F., CASINI, A., SOFI, F. (2017). Vegetarian, vegan diets and multiple health outcomes: A systematic review with meta-analysis of observational studies. Critical reviews in food science and nutrition, 57(17), 3640–3649. https://doi.org/10.1080/10408398.2016.1138447

  • LEE, Y., PARK, K. (2017). Adherence to a Vegetarian Diet and Diabetes Risk: A Systematic Review and Meta-Analysis of Observational Studies. Nutrients, 9(6), 603. https://doi.org/10.3390/nu9060603

  • LIU, H. W., TSAI, W. H., LIU, J. S., KUO, K. L. (2019). Association of Vegetarian Diet with Chronic Kidney Disease. Nutrients, 11(2), 279. https://doi.org/10.3390/nu11020279

  • LYNCH, H.; JOHNSTON, C.; WHARTON, C. Plant-Based Diets: Considerations for Environmental Impact, Protein Quality, and Exercise Performance. Nutrients 2018, 10, 1841.

  • PICCOLI, G. B., CLARI, R., VIGOTTI, F. N., LEONE, F., ATTINI, R., CABIDDU, G., MAURO, G., CASTELLUCCIA, N., COLOMBI, N., CAPIZZI, I., PANI, A., TODROS, T., AVAGNINA, P. (2015). Vegan-vegetarian diets in pregnancy: danger or panacea? A systematic narrative review. BJOG : an international journal of obstetrics and gynaecology, 122(5), 623–633. https://doi.org/10.1111/1471-0528.13280

  • Key facts and findings

  • http://www.fao.org/news/story/en/item/197623/icode/, acessado em 26 de Julho de 2020.

  • Mercy for animals

  • https://mercyforanimals.org.br/, acessado em 26 de Julho de 2020.

  • Veganism and the Environment

  • https://www.peta.org/issues/animals-used-for-food/animals-used-food-factsheets/vegetarianism-environment/#:~:text=The%20byproducts%20of%20animal%20agriculture,vegans%20are%20de%20facto%20environmentalists.&text=As%20the%20world's%20appetite%20for,as%20crops%20to%20feed%20them, acessado em 26 de Julho de 202

  • Oppenlander, Richard A. Food Choice and Sustainability: Why Buying Local, Eating Less Meat, and Taking Baby Steps Won’t Work. Minneapolis, MN : Langdon Street, 2013. Print.; https://www.barnesandnoble.com/w/food-choice-and-sustainability-richard-a-oppenlander/1117327379?ean=9781626524354; "Direct Seeded Vegetable Crop Chart". Johnny's Selected Seeds; Schwab, Denise, et al. "Grass-fed and Organic Beef: Production Costs and Breakeven Market Prices, 2008-2009". Iowa State University 2012

  • Dillard J. A slaughterhouse nightmare: Psychological harm suffered by slaughterhouse employees and the possibility of redress through legal reform. Georgetown Journal on Poverty Law & Policy. 2008; 15(2): 391–408 ;

  • Imagem da capa.



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