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Pessoas assintomáticas transmitem o SARS-CoV-2?

Olá Povão, bora entender melhor sobre as pessoas assintomática da COVID-19!


A infectologista Dr. Maria Van Kerkhove, líder técnica da Organização Mundial de Saúde (OMS) para a pandemia COVID-19, disse em uma coletiva de imprensa que a transmissão assintomática do vírus é muito rara. Essa fala serviu de argumento para alguns grupos contrários ao isolamento social e às medidas de controle da pandemia. Mas será isso mesmo?


Vamos começar separando as pessoas infectadas pelo SARS-CoV-2 em três grupos:


Grupo 1: pessoas que testaram positivo mas são assintomáticas, ou seja, que estão infectadas pelo vírus mas não vão apresentar nenhum sintoma;


Grupo 2: pessoas que testaram positivo para COVID-19 mas ainda não apresentaram sintomas (pré-sintomáticas);


Grupo 3: pessoas com sintomas claros da COVID-19 e que testaram positivo.

Até o momento as evidências mostram que a prevalência de infecções a partir de pessoas sintomáticas (Grupo 3) é de aproximadamente 40%. Isso acontece porque o SARS-CoV-2 é transmitido através de gotículas que se formam quando alguém infectado e com sintomas tosse ou espirra; então se alguém claramente doente entra em contato com outras pessoas, a doença se espalha com maior facilidade.


Indivíduos pré-sintomáticos (Grupo 2) também representam boa parte das transmissões (aproximadamente 45%) (Ferretti et al. 2020). Isso ocorre porque essas pessoas podem ter uma quantidade detectável do vírus no organismo mesmo antes dos sintomas.


A situação fica mais complicada com pessoas do Grupo 1 (assintomáticos que estão infectadas pelo vírus mas não vão apresentar nenhum sintoma). Como rastrear os contatos de quem foi infectado, mas nunca desenvolveu os sintomas? Principalmente sem testes em larga escala? É como se estivéssemos usando uma venda para brincar de esconde-esconde com pessoas quase invisíveis!


Pessoas assintomáticas hoje podem na verdade apresentar sintomas em 5-7 dias, o que faz o monitoramento ser mais complicado e a divisão entre pré-sintomáticos e assintomáticos menos clara. Dessa forma, o acompanhamento contínuo é essencial para o controle da disseminação do vírus. As estimativas baseadas em focos de surto de COVID-19 indicam que entre 40 – 45% dos infectados não vão desenvolver sintomas (Grupo 1). Mas será que esses casos realmente não estão em risco ou colocam outros em risco?


O que dizem os estudos


Um estudo de revisão publicado no dia 3 de Junho analisou 16 estudos bem documentados de COVID-19, incluindo 13 mil pessoas testadas voluntariamente na Islândia, a cidade italiana de Vo’ durante a quarentena, o navio cruzeiro Diamond Princess (que ficou em quarentena em Fevereiro com centenas de pessoas infectadas), o navio U.S.S Theodore Roosevelt Theodore Roosevelt e casos de infecção em albergues para desabrigados nos Estados Unidos (Oran and Topol 2020).


Em 5 estudos as pessoas foram testadas mais de uma vez; nestes casos apenas uma pequena parcela dos casos assintomáticos desenvolveu os sintomas. Porém, pegando o estudo na cidade de Vo' como exemplo, os autores mostraram, através de rastreamento de contatos próximos, que pessoas assintomáticas podem de fato transmitir o vírus. Além disso, o estudo realizado no navio U.S.S. Theodore Roosevelt mostrou que pessoas assintomáticas ainda podem transmitir o vírus por no mínimo 14 dias.


Alguns estudos também vêm mostrando que casos assintomáticos podem testar positivo por longos períodos de tempo, o que poderia ser uma verdadeira bomba viral (Uechi et al. 2020). Isso sugere que mesmo sem sintomas, algumas pessoas podem representar risco de infecção. Além disso, olhando para os casos da COVID-19 no cruzeiro Diamond Princess, 54% dos casos assintomáticos apresentaram alterações típicas de infecção por SARS-CoV-2 nos pulmões, sugerindo que uma parcela da população pode sofrer danos mesmo sem demonstrar sintomas.


O que fazer então?


O corpo de informações que temos no momento indica que casos assintomáticos também podem transmitir o vírus. Mais ainda: essas pessoas podem transmitir o SARS-CoV-2 por longos períodos de tempo e ainda terem sua saúde comprometida de forma silenciosa. Juntando tudo isso, podemos entender a importância das medidas de isolamento e proteção com máscaras.


O rastreamento dos contatos dos infectados também é extremamente importante porque permite que as autoridades sanitárias analisem a disseminação da pandemia e tomem as medidas necessárias de contenção. Por exemplo, se um parente foi na sua casa no Sábado e testou positivo no Domingo (mesmo sem sintomas), todos que tiveram contato com ele estão em risco e devem ser monitorados e colocados em isolamento por alguns dias.


Ainda existem muitas lacunas nessas análises sobre os casos assintomáticos, principalmente a falta de estudos de longo prazo com grande número de participantes e o número de testes realizados. Sem testagem da população, os governos ficam às escuras sobre o real número de casos e sobre a transmissão a partir de assintomáticos. Além disso, podemos pensar em novas linhas de pesquisa, como analisar porque algumas pessoas não demonstram nenhum sintoma da infecção por SARS-CoV-2.


É importante entender que não temos como saber quem próximo de nós está ou não carregando o vírus, por isso toda medida de proteção é válida.


Autor

Farmacêutico

Doutor em Biotecnologia



Referências

3) Estudo de revião analisando 16 estudos coorte:

4) Modelo matemático da infeção:

5) Estudo mostrando teste positivo por até 24 dias em paciente assintomático:



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