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O que é obsolescência programada?

Olá, Povão! Como vai vocês? Todos (as) em casa, fazendo distanciamento e usando máscaras? Muito bem! O tema de hoje é uma conhecida nossa, principalmente dos nossos aparelhos eletroeletrônicos, a famosa obsolescência programada.


Mas Ciência Povão, o que é exatamente obsolescência programada?


Obsolescência programada, também conhecida como obsolescência planejada, é quando um produto lançado no mercado se torna obsoleto ou inutilizável em um curto período de tempo. Isso quer dizer que os fabricantes produzem mercadorias descartáveis propositalmente, na intenção de estimular o consumidor a comprar novamente.


Existem algumas formas de tornar um produto obsoleto (ultrapassado, inútil), através da obsolescência de:

  • função: um produto novo tem melhor desempenho de função que o existente;

  • qualidade: um produto é feito para quebrar ou ser gasto em uma velocidade maior que o normal;

  • desejabilidade ou perceptiva: um produto torna-se menos desejável, mesmo funcionando perfeitamente, devido ao lançamento de outro mais atraente.

Neste texto, será dado destaque à obsolescência de qualidade e à obsolescência de desejabilidade (perceptiva). Como visto acima, a obsolescência de qualidade é uma estratégia das indústrias para movimentar o mercado industrial. Por meio da produção de produtos de vida útil rápida, seja pelo desgaste de suas peças ou pela evolução tecnológica, os compradores são quase que obrigados a substituírem seus objetos por outros mais novos, girando a economia de mercado. Em outras palavras, um produto é criado para ir para o lixo pois é lucrativo para os fabricantes.


Vamos compreender como essa prática surgiu no tópico seguinte!


Origem da obsolescência programada

O primeiro caso de obsolescência programada aconteceu com a lâmpada elétrica. O cartel Phoebus, organizado por empresas que fabricavam e controlavam a produção de lâmpadas, percebeu que lâmpadas duráveis não eram vantajosas, o que implicou em uma crescente redução de sua durabilidade ao longo dos anos. Em 1924, uma lâmpada tinha uma durabilidade de 3.000 horas, passando a durar 1.000 horas em 1940. Com o objetivo de aumentar as vendas do produto, a solução foi fabricar lâmpadas mais frágeis. Em 1928, o lema era: “um produto que não se desgasta é uma tragédia para os negócios.”


No entanto, foi no pós-Segunda Guerra Mundial, em outro momento de crise econômica, que a obsolescência ressurgiu com força total, dessa vez como uma ferramenta que possibilitaria o crescimento econômico. No entanto, um outro conceito foi adicionado, a obsolescência perceptiva (ou de desejabilidade). Isso quer dizer que a ideia de reduzir a vida útil de um produto e gerar a necessidade de uma nova compra não bastava, era preciso despertar no consumidor o desejo por um novo produto antes que o anterior se tornasse inútil.


Esse novo conceito, que se baseia em estimular o consumidor a desejar algo que seja mais recente, mais atraente, mais cedo que o necessário, se relacionada diretamente com as estratégias de reerguer a economia americana. O conselheiro econômico da presidência defendia que a sociedade americana tomasse o consumo como seu modo de vida, associando satisfação pessoal, status social e prestígio ao consumo. De acordo com o economista, era necessário que as coisas fossem consumidas, desgastadas, substituídas e descartadas cada vez mais rápido.


Essa ideia de consumismo foi vendida pelo governo dos Estados Unidos como a solução para retomada da economia, sendo amplamente aceito por uma sociedade norte-americana feliz com o fim da guerra e esperançosa com o futuro econômico do país. Por meio da arte e da cultura, assim como pela globalização, o padrão de consumo americano rapidamente passou a ser o padrão de consumo mundial.


Consumo x consumismo

Povão, consumo pode ser definido como o ato de “adquirir e utilizar bens e serviços para atender às necessidades” (LEONARD, 2011, p.129, citado por ROSSINI; NASPOLINI, 2017, p.56), sempre esteve presente na humanidade, porém a forma de consumir foi alterada ao longo dos anos. O consumo passou a ser consumismo a partir do momento que as motivações do consumidor, isto é, aquilo que o leva a comprar, foram alteradas.


Nos dias de hoje, consumir se tornou o propósito de vida das pessoas, que anseiam, desejam, cada vez mais, um produto ou um serviço. No consumismo, a felicidade não está mais associada à satisfação de nossas necessidades, mas sim de nossos desejos, que por sua vez, estão materializados em coisas. Quem nunca se sentiu feliz depois de uma compra? Satisfazemos nossas carências afetivas e sociais comprando coisas, bem como o valor de uma pessoa está ligado ao que ela possui. Quem nunca conheceu alguém que se sente melhor que os outros porque tem mais? Em busca de sempre satisfazer nossos desejos alimentamos o ciclo comprar, jogar fora, comprar novamente.


Por meio da globalização (processo de integração econômica, política e cultural de alcance mundial), as nações com maior poder político e econômico dominam e impõem às outras sociedades a sua ideologia de padrão de consumo e de felicidade, vendendo-os como o modelo ideal de desenvolvimento.


A consequência imediata dessa dominação é a criação de um mercado global padronizado, que já existe! Com todos os países pensando igual, vivendo igual e, sobretudo, desejando igual, um produto ou um serviço, independentemente de onde ele venha, muito dificilmente será rejeitado pelos consumidores, pois as diferenças culturais e regionais já foram neutralizadas.


Nesse sentido, um produto, uma ideia (consumismo, por exemplo) ou já faz parte do estilo de vida ou é difundido como um ideal a ser alcançado, pois ninguém quer ser considerado ultrapassado, “fora da moda”. E aí, povão, já descobriram de onde vieram nossos hábitos de consumo?


O impacto ambiental causado pelos resíduos de equipamentos tecnológicos

Povão, é sabido que o planeta Terra não vai bem das pernas, e um dos motivos para isso é o impacto ambiental provocado pelo ritmo acelerado de produção e pelo consumo desenfreado. Sabemos que as consequências ao meio ambiente geradas pelos países industrializados não se restringem somente a estes país, mas afeta todo o globo.


Como vimos até aqui, a obsolescência programada é praticada no mercado de forma geral, logo, não seria diferente com os equipamentos tecnológicos. O lançamento de novos produtos acaba nos forçando a descartar o velho (que muitas vezes nem é tão velho), pois o produto antigo é incompatível em termos de peças, processador ou memória. Quem aí já percebeu um desempenho pior do celular depois de atualizar o sistema do telefone?


Contudo, a mentalidade de consumo pautada na tríade comprar-jogar fora-comprar novamente, assim como o modelo de produção baseado na obsolescência (criado para ir para o lixo), têm se mostrado incompatíveis com as metas de desenvolvimento sustentável, pois colaboram com o aumento de gases de efeito estufa e geram uma grande quantidade de resíduos sólidos. O aumento da produção de itens eletrônicos tem gerado índices alarmantes, chegando a acumular, no ano de 2014, 41 milhões de toneladas de lixo eletrônico, formado por computadores e celulares smartphones. Neste mesmo ano, o Brasil produziu o equivalente a 1,4 milhão de tonelada, ficando atrás apenas dos Estados Unidos (7,1 milhões de toneladas) no continente americano. Ainda de acordo com esse dado, somos o país que mais produz e-lixo (lixo eletroeletrônico) quando comparados aos países latinos, sendo responsável por 52% dos 3,8 milhões de toneladas produzidos em toda a América Latina.



Os produtos eletroeletrônicos são compostos por plásticos, vidros, componentes eletrônicos, e metais pesados, sendo alguns deles cancerígenos, como o alumínio, o arsênio, o cádmio, o bário, o cobre, o chumbo, o mercúrio, o cromo, o níquel, entre outros. A Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI) alerta que a maior parte dos resíduos eletroeletrônicos (REE) são potencialmente tóxicos, oferecendo risco de contaminação às pessoas que os manipulam e contaminação do meio ambiente.


Devido a isso, é recomendado que esse lixo jamais seja descartado junto aos resíduos orgânicos ou em aterros sanitários, pois o contato entre metal pesado e a água gera a contaminação do chorume. Além disso, o descarte irregular desses equipamentos diretamente no solo pode contaminar os lençóis subterrâneos ou acumular-se em seres vivos, ocasionando consequências negativas para o ambiente como um todo.


Por essas razões, o ideal seria substituir um REE somente quando esgotadas todas possibilidades de reparo ou uso. No entanto, esbarramos em dois impeditivos: a obsolescência programada produzida intencionalmente pelos fabricantes e a obsolescência perceptiva (quando um produto novo é lançado no mercado para estimular a troca de produto) promovida pelas propagandas publicitárias, responsáveis pela estimulação constante do desejo pelo novo, o que leva o cliente a substituir um produto em plena vida útil por outro modelo mais avançado.


Embora a obsolescência programada represente um risco ao desenvolvimento sustentável, essa prática ainda não é vista como um fator importante de degradação ambiental, permanecendo fora das pautas internacionais sobre meio ambiente. Enquanto isso, os dados são alarmantes: se em 2050 a população mundial atingir 9,6 bilhões de pessoas, será necessário o mesmo que três planetas Terra para sustentar o estilo de vida atual.


É, povão, o futuro não é nada esperançoso, por isso é urgente que fabricantes, importadores e distribuidores repensem o atual modelo de produção (produção incessante de bens e hiperconsumismo), bem como os consumidores precisam rever os seus hábitos de consumo. Se questione: você precisa mesmo substituir um objeto por um novo? O que tem te motivado a comprar? Como podemos perceber, o planeta tem mostrado altos de níveis de saturação, portanto, é possível que em breve tenhamos um planeta extremamente degradado ou até mesmo planeta nenhum se não repensarmos nosso modo de vida.


Tá liberado assistir um filminho de leve depois dessa leitura. Até a próxima, povão!



Autora

Membro do Ciência Povão

Jessica Melo

Psicóloga e Psicoterapeuta




Referências:


PADILHA, V.; BONIFÁCIO, R.C.A. Obsolescência planejada: armadilha silenciosa na sociedade de consumo. Le Monde Diplomatique Brasil, set. de 2013. Disponível em: https://diplomatique.org.br/obsolescencia-planejada-armadilha-silenciosa-na-sociedade-de-consumo/

PENA, R. F. A. O que é globalização? Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/o-que-e/geografia/o-que-e-globalizacao.htm

PENA, R. F. A. Obsolescência Programada. Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/geografia/obsolescencia-programada.htm

ROSSINI, V.; NASPOLINI, S. H. DAL F. Obsolescência programada e meio ambiente: a geração de resíduos de equipamentos eletroeletrônicos. Revista de Direito e Sustentabilidade, Brasília, v. 3, n.1, p. 51-71, 2017.


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