Olá, povão! Tudo bem? Sou Jenniffer Pires, doula e psicóloga e hoje vamos falar sobre puerpério!
O puerpério é a fase do pós parto, vivenciada por todas as mulheres logo após o nascimento do bebê. Caracteriza-se por grandes transformações físicas e psíquicas, controladas pela nova dinâmica hormonal que ocorre de forma fisiológica nessa fase.
Classificação:
A nível técnico, pode ser classificado em três fases:
Puerpério imediato - que corresponde aos primeiros 10 dias de vida do bebê;
Puerpério tardio - do 10º ao 45º dia;
Puerpério remoto - sem duração exata, se estendendo até o momento de retomada do ciclo menstrual.
Principais alterações físicas e psíquicas:
As alterações físicas iniciam desde o momento em que o parto termina, com a saída da placenta. O organismo inicia um processo de contração uterina a fim de que o útero retorne ao seu tamanho pré-gravídico. Além disso, a mulher se depara com uma nova configuração de seu corpo: a barriga que lhe acompanhou nos últimos meses não está mais presente. Por outro lado, não retorna ao seu estado de antes da gestação de imediato - algumas mulheres, inclusive, têm transformações perenes, como alteração no formato da cintura.
Sentimentos relacionados à mudança, como ansiedade e medo, são experiências comuns durante o puerpério. Dessa forma, se faz fundamental que a assistência à saúde da mulher aborde não só aspectos de saúde física, como a recuperação do parto ou da cirurgia cesariana, mas que se volte a investigar questões relativas à saúde emocional da puérpera (a mulher que acabou de dar a luz). Infelizmente, pouco se discute durante o pré-natal sobre a dinâmica do puerpério.
As alterações hormonais experienciadas no pós-parto (como o aumento da prolactina, responsável pela produção de leite, e da ocitocina, conhecida como ‘hormônio do amor’) são importantes para a recuperação uterina e para que a mulher se vincule ao seu bebê, adaptando-se a esse novo ser e se voltando aos cuidados dele - característica que garante a sobrevivência e a manutenção da espécie sob o ponto de vista evolucionista. Como consequência de tais condições fisiológicas e de alterações bioquímicas (a exemplo da mudança na dinâmica dos neurotransmissores, como a serotonina) a mulher pode ter seu estado de humor alterado entre depressão e alegria.
O baby blues, fenômeno vivenciado por 70 a 90% das puérperas, caracteriza-se por um estado de humor depressivo mais brando, que costuma durar do terceiro dia de nascimento até a segunda semana de vida do bebê, aproximadamente. Em caso de maior intensidade de sintomas depressivos ou de extensão dessas vivências, um profissional de saúde mental deve ser acionado a fim de investigar a presença de uma depressão pós-parto, uma condição mais grave na qual além dos sintomas citados anteriormente, pode-se perceber alteração no apetite, sono, pouca vinculação com o bebê, choro incontrolável e constante, desinteresse pelos cuidados com a criança e interesse reduzido em todas ou na maioria das atividades antes tidas como prazerosas.
Alguns dos desafios mais comuns no processo puerperal são: a amamentação, a fragilidade emocional, as mudanças corporais, a privação de sono e a adaptação à rotina de cuidados com o bebê. As dificuldades iniciais nas vivências maternas tendem a ser interpretadas pela mulher como incapacidade. Por isso, é muito importante que a rede de apoio da mulher a encoraje a exercer seu papel, incentivando-a.
O “apagamento materno” é uma experiência bastante desafiadora: as necessidades próprias da mulher são postergadas em função das necessidades do bebê. Além disso, a mulher, que foi cuidada, assistida e ‘bajulada’ ao longo da gestação, pode vivenciar um ‘esquecimento’, já que toda a atenção é voltada para o bebê. É fundamental saber que a mulher continua precisando de amparo e proteção, assim como ao longo da gravidez.
A adaptação ao bebê é o momento em que as expectativas quanto à criança são alinhadas, de forma a se adequarem à realidade. O bebê idealizado pela mãe não existe, e ela se depara com uma maternidade, outrora romantizada (como um período de intensas alegrias, em que sentimentos de completude e amor imenso são sentidos), repleta de desafios a serem enfrentados. Muitas mulheres experimentam um sentimento de luto, sensação que pode ser também sentida no difícil reconhecimento da mãe enquanto mulher que era antes do processo de gestação. Agora, além de todos os papéis sociais que exercia, esta mulher necessita adequar-se à função materna, o que leva a uma nova configuração de sua identidade. O tempo que tem disponível para si torna-se mais raro, e suas relações sociais precisam se ajustar às novas demandas. Além disso, dentre todas essas transformações, destaca-se a adaptação às necessidades desse novo ser, sendo muito importante a presença de uma rede de apoio que auxilie a mulher, sobretudo nas primeiras semanas.
A despeito da classificação dos manuais técnicos, sabe-se que muitas mulheres vivenciam as experiência do puerpério por até dois anos. Assim, não pode-se considerar essa fase como sinônimo direto de pós parto ou de quarentena (conhecida como os 40 dias depois do nascimento do bebê onde a mulher precisa se submeter a restrições físicas e sexuais).
Povão, concluindo: precisamos conhecer essa fase para dar a melhor assistência possível a essa mulher. Normalmente, o que uma puérpera precisa? De pessoas que ela saiba que estarão disponíveis para ajudá-la (rede de apoio) a passar por esse processo de adaptação e de profissionais de saúde sensíveis que saibam identificar qualquer alteração mais drástica na condição emocional que mereça um atendimento especializado (como a identificação de sintomas de depressão pós parto, por exemplo). Espero que tenham gostado do texto!
Convidada da semana
Jenniffer Pires
Doula, Psicóloga infantojuvenil e de orientação familiar
Fundadora do Canal @crescercomrespeito.
Referências:
BRASIL. Ministério da saúde. Pré-natal e puerpério: atenção qualificada e humanizada. Brasília, 2006, 162 p.
MALDONADO, Maria Tereza. Psicologia da gravidez. Editora Jaguatirica Digital, 2013.
SARMENTO, R. e SETUBAL, M. S. V. Abordagem psicológica em obstetrícia: aspectos amocionais da gravidez, parto e puerpério. Rev. Ciênc. Méd. Campinas 12(3): 261-269. jul/set 2003.
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