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O mito da bala mágica contra o Corona

E ai pessoal. Como estão? Espero que dentro de casa!

Hoje vamos fazer um resumão sobre como encontrar um tratamento para dar uma surra no SARS-CoV-2. O desenvolvimento de medicamentos é uma arte coletiva. Sabe esses vídeos de dois homens construindo uma casa com um pedaço de madeira e folha de bananeira (https://www.youtube.com/watch?v=suq_i-1Yv68)? É tipo isso.


Vamos começar falando um pouco sobre como surgem tratamentos para uma doença e depois vamos ver porque uma bala mágica para resolver todos nossos problemas não existe.


Pequenas e poderosas – Desenvolvimento de medicamentos a partir de pequenas moléculas

O desenvolvimento de medicamentos é um processo bem demorado. Criar algo novo geralmente leva entre 10-15 anos de muita pesquisa e alguns BILHÕES de dólares gastos. Sim, BILHÕES. Esse processo todo é um grande filtro, onde você elimina tudo que não funciona e passa adiante somente os candidatos mais promissores. O processo começa com estudos in vitro (testes em tubos de ensaio e sem organismos vivos), e vai crescendo de tamanho até incluir centenas de pessoas com ou sem a doença e de diferentes lugares. Dessa forma, a gente pode garantir que uma molécula funciona e é segura para uso em humanos ou animais para tratar alguma doença. Com o grande número de medicamentos disponíveis nas farmácias, pode parecer fácil encontrar alguma molécula que cure qualquer coisa; uma bala mágica sem efeitos adversos e com 100% de eficácia. Mas a realidade é mais cruel.


O filtro é MUITO rígido; apenas 1 em milhões de moléculas consegue chegar na fase de testes em humanos. O número de falhas é gigantesco, sendo um dos motivos da indústria farmacêutica reduzir o investimentos em pesquisas para doenças que não dão retorno financeiro, como dengue, malária e febre amarela. O tempo é nosso inimigo nessa estratégia. Com milhares de mortos e milhões de infectados pelo SARS-CoV-2, lançar um medicamento totalmente novo vai ser MUITO difícil. É justamente por isso que a mídia fala tantos nomes já conhecidos das farmácias e hospitais, como medicamentos usados para HIV, a ivermectina e até a cloroquina.


Aprendendo com nossos erros - Vacinas

Tudo que falamos sobre novos medicamentos também se aplica à vacinas. Vacinas são uma forma de estimular nosso sistema de defesa (o sistema imune) à criar estratégias para evitar que um invasor faça um estrago. Isso porque nosso organismo consegue reconhecer partes específicas do invasor e aprende com experiências anteriores. Nosso sistema imune consegue reconhecer muitos invasores diferentes, alguns até inofensivos! É justamente essa forma de aprendizado que garante que não vamos ter a mesma doença 5, 10 vezes na vida.


Uma vacina seria a forma ideal de prevenir futuras pandemias de COVID-19, imunizando boa parte das pessoas e impedindo que o vírus se espalhe. Dessa forma, conseguiríamos reduzir a necessidade de quarentena e evitar que o sistema de saúde fique lotado. Com alguma sorte poderíamos até erradicar o vírus da mesma forma como fizemos com a varíola. O problema é que precisamos de no mínimo 1 ano (talvez na metade de 2021) para conseguir algo que realmente funcione. Outra vez o nosso maior problema é o tempo! Algumas empresas farmacêuticas e grupos de pesquisa já estão iniciando testes clínicos em humanos. Caso esses grupos consigam desenvolver uma vacina isso seria um grande avanço na ciência. Mas por enquanto não temos noção do que pode acontecer.


Panela velha é que faz comida boa - Reposicionamento medicamentos já existentes.

Provavelmente a melhor arma que temos contra o SARS-CoV-2 é usar algo que já existe. Essa estratégia é chamada de reposicionamento de medicamentos e é basicamente achar novo uso para coisas velhas. Nesse caso, o tempo de pesquisa é muito menor e podemos ter algumas opções de tratamento em meses. Isso porque boa parte dos testes de segurança já foram feitos, então podemos usar essas informações para ter uma ideia do que pode funcionar. Medicamentos como a cloroquina, remdesivir, lopinavir e tantos outros que vemos nos noticiários vem mostrando potencial contra o SARS-CoV-2 in vitro, indicando que podem ter alguma utilidade. No Brasil, diversos centros de pesquisa vem fazendo um trabalho maravilhoso testando vários medicamentos e publicando resultados promissores, com destaque para a FIOCRUZ e a USP.


Mas o que realmente funciona?

Por enquanto nada. Nenhum estudo conseguiu encontrar um tratamento que realmente funcione contra a COVID-19. E olha que temos muitos! Aqui nesse link tem pelo menos 100(https://clinicaltrials.gov/ct2/results?cond=COVID-19&Search=Apply&recrs=d&recrs=e&age_v=&gndr=&type=&rslt=). Por mais que estudos in vitro (células e também computacionais!) mostrem que um método pode matar o vírus ou impedir a infecção, estes estudos são modelos muito simplificados de como funciona a doença e como o vírus interage com humanos. Como vimos acima, a taxa de falha é muito grande e não existe garantia que um método com bons resultados iniciais seja seguro e eficaz quando testado em grande número de pessoas.

O que precisamos agora são estudos clínicos, com pacientes de COVID-19 e pessoas saudáveis para garantir que um possível medicamento é seguro e realmente funciona. E o funcionar aqui não é como aquele chá que fazemos em casa quando ficamos gripados e depois recomendamos para os vizinhos. Para garantir que um medicamento funciona precisamos planejar, testar e acompanhar a evolução em milhares de pessoas. Pensa assim: será os resultados do estudo são melhores que não fazer nada? Se sim, o tratamento pode mesmo funcionar.

No momento a melhor forma de se cuidar é evitar aglomerações e lavar bem as mãos. Caso precise ir na rua, também lave com cuidado as coisas que trouxer, como sacolas de compras. E nada de sair entrado com o sapato da rua! Lava tudo muito bem para não contaminar os outros.


Fontes:

https://portal.fiocruz.br/observatorio-covid-19.

Autor: Dr. Marcos Santana


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