Olá, povão! Tudo bem? No post de hoje vamos falar sobre cabelo! Você tem curiosidade de saber do que ele é feito, o que determina a cor e a textura? Então vamos lá!
Primeiramente... O CABELO É VIVO OU MORTO?
Minha mãe contou que quando ela era criança e brincava de pique pega se uma criança tocava no cabelo da outra, elas não aceitavam! “Não vale! O cabelo é morto!”. Será que isso é verdade?
Podemos dizer que sim e não! O cabelo tem regiões “vivas” e outras “mortas”.
Para entender essa resposta, vamos conhecer mais sobre a estrutura do cabelo.
O fio de cabelo pode ser dividido em duas partes: a raiz (que fica dentro da pele) e a haste (parte visível do cabelo).
O fio de cabelo é gerado dentro do couro cabeludo em estruturas chamadas de folículos capilares. Nessas estruturas, uma variedade de células se multiplicam e são responsáveis pela formação do cabelo. Quando o fio sai da pele, já está pronto! Sendo assim, a parte viva do cabelo se encontra dentro da pele.
Já na haste, não há proliferação nem regeneração de células. Depois que o fio sai da pele, ele não sofre mais alterações biológicas e todos os danos causados nele são acumulativos. Sendo assim, essa parte é considerada “morta”.
Já que começamos a falar da estrutura, vamos continuar...
Um cabelo em fase de crescimento é composto por 3 regiões: medula, córtex e cutícula.
- A medula é a porção mais interna do fio e é composta por células transparentes. Nem toda fibra capilar possui a medula.
- O córtex é a ‘camada do meio’ e o constituinte majoritário da fibra capilar. É composto por células queratinizadas, ricas de uma proteína altamente estruturada, a queratina. Esta proteína possui forma de filamentos que se associam formando estruturas semelhantes à cordas, o que conferem sustentação e força mecânica para os fios. É nesta camada que estão localizadas as células que dão pigmento ao cabelo além de ter a importante função de reter umidade para os fios.
- A cutícula é a camada mais externa e é formada por um conjunto de 8-10 camadas de células sobrepostas. Tem o importante papel de proteger as regiões mais internas e, por isso, é um indicador da saúde do cabelo. Um cabelo com a cutícula saudável reflete a luz e fornece um cabelo com aspecto brilhante, enquanto que uma danificada deixa o cabelo com aspecto áspero e vulnerável.
Figura 3: Adaptado de Robbins, 2001.
Você sabia? Em média um humano possui mais de 100.000 folículos capilares que crescem de 1-1,5 cm por mês.
QUAL A COMPOSIÇÃO?
O cabelo humano é composto por proteínas, lipídios, água e pigmentos. Dentre esses componentes, 65 a 95% do cabelo são proteínas.
As proteínas mais abundantes do cabelo são as queratinas. Elas são produzidas por células chamadas de queratinócitos no processo de queratinização. É nesse processo que ocorre a desintegração do núcleo e morte celular, por isso o cabelo que sai da pele é considerado morto. As queratinas são proteínas fibrosas, insolúveis em água e são responsáveis pela elasticidade e resistência dos fios.
Além das proteínas, os lipídios também são um componente muito importante e estão presentes na cutícula e córtex. Estão relacionados com a absorção de substâncias, além de serem associados à rigidez e resistência à tração. Dentre os lipídios que compõem a fibra capilar estão os ácidos graxos, o colesterol e as ceramidas.
O QUE DETERMINA A COR?
No córtex do cabelo podem ser encontradas células chamadas de melanócitos. Nessas células ocorre a produção de melanina, um pigmento que é armazenado na forma de grânulos.
Existem dois tipos de melanina: a eumelanina e a feomelanina. A eumelanina é produzida a partir do aminoácido tirosina e possui uma coloração que varia do marrom até o preto. Já a feomelanina é produzida a partir de tirosina e cisteína e possui uma coloração que varia de amarelo para vermelho.
A cor natural do cabelo humano é resultado do tipo, quantidade e mistura de melanina produzida pelos melanócitos.
Figura 4: Bioquímica da beleza. Instituto de Química. USP, 2005.
POR QUE O CABELO FICA BRANCO?
Como foi dito, a cor do cabelo é determinada pelos pigmentos de melanina. Quando ela deixa de ser produzida pelos melanócitos, observa-se o aparecimento de cabelos sem pigmento, ou seja, brancos. A aparência de cabelo grisalho se dá pela mistura de fios com pigmento e sem.
Figura 5: Desmond J.Tobin. Age-Related Hair Pigment Loss, 2015.
O QUE DETERMINA A TEXTURA/FORMA DO CABELO?
Não é apenas um fator que determina a forma do cabelo, mas sim um conjunto deles.
Como já discutimos até aqui, o cabelo é gerado a partir do folículo capilar. Esse folículo pode ter diferentes formas e elas serão muito importantes para determinar a textura do cabelo.
Pessoas com cabelos lisos tem um folículo capilar aproximadamente reto, enquanto que ondulados, cacheados e crespos possuem um folículo com diferentes graus de curvatura.
Além disso, nos cabelos encaracolados, a maneira como as células se dividem e também a expressão de certas proteínas é assimétrica quando comparado com cabelos não cacheados. Isso resulta em uma fibra capilar que possui uma forma elíptica, o que lhe permite enrolar.
De maneira resumida, podemos responder que o que determina a textura dos fios de cabelo são os nossos genes! Como vimos no nosso último post sobre DNA, genes são pedaços do DNA que contém informações que determinam uma característica específica. Alguns genes já foram descritos como importantes para determinar a forma dos fios como, por exemplo, os genes EDAR e TCHH, que foram encontrados em cabelos lisos, mas não em cacheados.
Também já foram descritos alguns genes envolvidos com a proliferação e diferenciação das células que formam o folículo capilar, que são diferencialmente expressos em cabelos lisos e cacheados.
PORQUE AS FIBRAS CAPILARES ENROLAM?
Uma suposição evolutiva para o porquê dos fios encaracolarem está relacionado com fatores ambientais relacionados com o resfriamento do couro cabeludo ou à retenção de calor. A forma dominante de cabelo do hominídeo antigo era a encaracolada e, apesar de ainda não existirem evidências suficientes para confirmar essa hipótese, isso poderia se dar por conta da capacidade dessa forma curva de elevar a raiz da fibra para longe da pele, proporcionando proteção UV e resfriamento do couro cabeludo. Ao migrar do clima quente da África para áreas mais frias, acredita-se que a adaptação evolutiva tenha causado mudanças na forma e na cor do cabelo.
O QUE ACONTECE QUANDO SE PINTA O CABELO?
A cor do cabelo pode ser alterada pelo uso de alguns produtos. Agora que já conhecemos a estrutura do cabelo, podemos entender que se um produto age revestindo a cutícula, ele tem um efeito mais temporário. Para se obter efeitos mais permanentes, é necessário atingir o córtex, que é uma camada mais interna do fio.
Para conseguir acessar o córtex, muitos produtos têm como componente na sua fórmula a amônia, que é um agente com pH alcalino que abre a cutícula dos fios, facilitando a absorção.
Um componente muito usado para mudar permanentemente a cor do cabelo é o peróxido de hidrogênio (água oxigenada). Este entra na camada do córtex e reage com a melanina, removendo assim a cor dos fios.
O QUE ALISA OS CABELOS?
Todos sabem da possibilidade de mudar a textura do cabelo, seja de forma temporária ou permanente. Mas você sabe o que acontece para que o cabelo mude de forma?
Como foi falado, nosso cabelo é majoritariamente composto por proteínas, sendo as mais abundantes, as queratinas. Essas proteínas fibrosas interagem entre si por meio de interações químicas, como ligações de hidrogênio (ligação entre um átomo de oxigênio e um grupo hidroxila –OH) e pontes dissulfeto (ligação entre átomos de enxofre). São essas ligações que dão a forma natural do cabelo e, alterando essas interações, é possível mudar a forma do cabelo.
As ligações de hidrogênio são as mais abundantes e podem ser quebradas com a lavagem dos fios. Quando os fios secam, as ligações de hidrogênio e as cadeias de queratina vão se realinhando no formato natural do cabelo. O que a escova temporária faz é simplesmente impedir esse processo. Os cabelos podem ser remodelados em um processo mecânico que envolve força e calor (escova, chapinha), de forma que os cabelos fiquem alinhados e lisos. Apesar disso, esse processo é temporário já que, quando o cabelo entra em contato com a água novamente, essas ligações de hidrogênio são quebradas e o cabelo pode voltar a ter a sua textura natural.
Já as escovas permanentes quebram as pontes dissulfeto que, diferente das ligações de hidrogênio, não são refeitas. Por isso, uma vez alisado, o cabelo não volta a ter a sua textura natural.
Então povão, por hoje é só :D
Autora
Maria Fernanda Araujo
Biotecnóloga
Mestre e doutoranda em química biológica
REFERÊNCIAS:
TOBIN, DESMOND J. Age-Related hair pigment loss. Alopecias – Practical Evaluation and Management. Curr Probl Dermatol. Basel, Karger, v. 47, PP. 128–138, 2015.
GOSHIYAMA, ALESSANDRA M. Avaliação das propriedades das fibras capilares tratadas com alisante ácido com diferentes valores de pH. Dissertação de Mestrado, Programa de Pós-Graduação em Fármaco e Medicamentos – Faculdade de Ciências Farmacêuticas – Universidade de São Paulo, São Paulo, Brasil, 2019.
Bioquímica da Beleza. Curso de verão 2005, Departamento de Bioquímica – Instituto de Química – Universidade de São Paulo. v. 2005.
SANTOS, JORDANA D. Caracterização de fios de cabelo antes e após tratamentos químicos e físicos por espectroscopias Raman e no infravermelho e microscopia eletrônica. Dissertação de Mestrado, Programa de Pós-Graduação em Química – Físico-Química – Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, Brasil, 2017.
RAWNSLEY, J., KHAN, S., PARK, ANDREA M. Hair Biology Growth and Pigmentation. Elsevier. Facial Plastic Surgery Clinics of North America, v.26, pp. 415-424, 2018.
GREEN, MARTIN R., GINGER, REBECCA S., WESTGATE, GILLIAN E. Wiley Experimental Dermatology. v. 26, pp. 483-490, 2017.
Gostaram? Continuem com a gente, pois estaremos sempre trazendo novidades para vocês. Nos sigam no instagram @cienciapovao. Aproveitem e compartilhem com amigos e familiares.
Comments