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Nuvem de Poeira "Godzilla"

Olá povão, tudo beleza? Hoje viemos falar sobre a nuvem de poeira, um dos assuntos mais comentados do final de junho. Então, venham com a gente.


No dia 22 de Junho 2020, em meio a tantos acontecimentos globais, eis que surge ela, a majestosa nuvem de poeira “Godzilla”. Uma gigante e massiva nuvem com pequenas partículas de sedimentos que saía do deserto do Saara e se deslocava através dos ventos até ao continente Americano. Esse grande fenômeno foi observado por diversos pesquisadores ao redor do mundo que dedicam a sua vida a entender a dinâmica atmosférica. O que poucas pessoas realmente sabem é que esse evento ocorre todos os anos e é um fenômeno considerado essencial para a manutenção de ecossistemas tropicais, sejam eles marinhos ou terrestres.


E como tudo isso acontece ?


Entender todos os processos físicos de transporte da pluma de poeira não é tão simples, então faremos um breve resumo de todos os mecanismos envolvidos para que fique claro. Primeiramente, devemos lembrar que a nossa Terra é esférica e está dividida em diferentes latitudes que nos levam ao Polo Norte e ao Polo Sul partindo do eixo central (linha do Equador). Acontece que essas divisões também ocorrem de forma esquemática na nossa atmosfera, para facilitar a compreensão dos estudos físicos. O eixo central da atmosfera é conhecido como Zona de Convergência Intertropical ou ZCIT, para os íntimos, região formada pelo encontro (convergência) dos ventos do hemisfério Norte e Sul (ventos alísios). Diferentemente do equador, que tem a sua localização fixada num ponto específico, a ZCIT possui oscilações ao longo do ano, ora mais ao sul, ora mais ao norte, e essa movimentação se deve à quantidade de calor e evaporação que ocorre na superfície logo abaixo dela, sendo assim, durante o verão no hemisfério Norte, a ZCIT se encontra mais ao norte e, no verão no hemisfério Sul, se encontra mais ao sul. Vocês pensaram mesmo que só vocês gostam de pegar um sol no verão?? Natureza também gosta de aproveitar as coisas boas.


E por que estamos falando da ZCIT ??? Não era um texto sobre a nuvem de poeira? Calma que já chegaremos ao ponto. Durante o verão no hemisfério Norte, momento onde a ZCIT se encontra deslocada nesse sentido (mais ao norte), os ventos alísios se tornam mais intensos na grande área que compõe o Deserto do Saara, na porção norte do continente africano. Por serem ventos perenes (ou seja, que permanecem durante um longo tempo) e com intensidade elevada, estes possuem um grande poder de erosão, causando a ressuspensão do sedimento do deserto.


Quando pensamos sobre todos esses processos imaginamos logo uma tempestade de areia como nos filmes e que acabaremos soterrados ou algo assim, mas podem ficar tranquilos. No local onde ocorre a ação direta dos ventos alísios, as coisas podem ser um pouco turbulentas, porém o transporte dessas partículas correm por milhares de quilômetros, assim o vento só tem competência de carregar consigo partículas que sejam EXTREMAMENTE leves, partículas tão pequenas que não podemos enxergar.


Então como os cientistas conseguem ver essas partículas?


A ciência consegue estudar essas partículas com o auxílio do sensoriamento remoto, imagens feitas por satélite que são capazes de capturar o movimento feito por essas partículas em grande escala ou até mesmo detectar pequenas variações no transporte por sensores muito precisos, os mesmo utilizados para algumas análises meteorológicas.


Não é só uma nuvem de poeira!!


No ano de 2015, Hongbin Yu, ao investigar o transporte dessas partículas advindas do Saara, descobriu que essa pluma era responsável pelo transporte de argilominerais ricos em Ferro e Fosfato, micronutrientes essenciais para a realização da produção primária. E durante o processo de transporte conforme esse minerais fossem deixando a pluma, fertilizavam os oceanos e até mesmo a Floresta Amazônica. Devido à alta taxa de precipitação na região amazônica, sabe-se que seu solo é empobrecido pelo processo de lixiviação (remoção de nutrientes do solo pela ação da chuva), então o enriquecimento vindo pela poeira do Saara teria um papel fundamental na manutenção da floresta. Estudos mais antigos como do Christer Morales, em 1986, já mostravam que essa pluma também teria uma pequena importância da formação de praias no Caribe.


E quanto à Nuvem "Godzilla" ?


A quantidade de sedimentos que podem ser transportados da África até o continente Americano é completamente variável e depende de processos locais que ocorrem na região do Saara. O que se sabe é que devido às mudanças climáticas, a intensidade dessa pluma tem aumentado a cada ano. Em Junho de 2020, tivemos a mais intensa pluma observada até o momento.


Povão, então é isso. Gostaram do conteúdo? Espero que sim, deixe o seu comentário ou a sua curtida para saber a sua opinião. Até a próxima.


Autor

Marcos V. Clemente

Graduando em Oceanografia


Referências

DENJEAN, Cyrielle et al. Size distribution and optical properties of African mineral dust after intercontinental transport. Journal of Geophysical Research: Atmospheres, v. 121, n. 12, p. 7117-7138, 2016.


MORALES, Christer. The airborne transport of Saharan dust: A review. Climatic Change, v. 9, n. 1-2, p. 219-241, 1986.


WALLACE, John M.; HOBBS, Peter V. Atmospheric science: an introductory survey. Elsevier, 2006.


YU, Hongbin et al. The fertilizing role of African dust in the Amazon rainforest: A first multiyear assessment based on data from Cloud‐Aerosol Lidar and Infrared Pathfinder Satellite Observations. Geophysical Research Letters, v. 42, n. 6, p. 1984-1991, 2015.


O que é a nuvem de poeira "Godzilla" que viajou do Saara para as Américas

https://revistagalileu.globo.com/Ciencia/Meio-Ambiente/noticia/2020/06/o-que-e-nuvem-de-poeira-godzilla-que-viajou-do-saara-para-americas.html, acessado em 01 de Julho de 2020.


NASA Satellite Reveals How Much Saharan Dust Feeds Amazon’s Plants

https://www.nasa.gov/content/goddard/nasa-satellite-reveals-how-much-saharan-dust-feeds-amazon-s-plants, acessado em 01 de Julho de 2020.



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