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  • Foto do escritorJessica Melo

Mulheres que revolucionaram o conhecimento

Olá, povão! Como estamos? Espero que bem, respeitando o distanciamento social, usando máscara e higienizando as mãos enquanto a vacina não chega até nós! Dito isso, vamos ao tema do post de hoje!


Vocês lembram que nesta última terça, dia 09/03, fizemos uma postagem homenageando as mulheres que revolucionaram a ciência? Não, então clique aqui. Se sim, neste texto daremos continuidade às mulheres que fizeram diferença nas diversas áreas de conhecimento! Vem comigo que a lista abaixo está imperdível!


Nise da Silveira (1905-1999)

Psiquiatra alagoana, Nise da Silveira foi um expoente da luta antimanicomial, revolucionando o tratamento psiquiátrico brasileiro e principal nome da psicologia jungiana* no Brasil. Formada em medicina pela Faculdade de Medicina da Bahia (1921-1926), foi a única mulher de uma turma de 157 alunos. Nise era opositora ferrenha aos tratamentos agressivos, como: eletrochoques, isolamentos, lobotomia, camisa de força, entre outras técnicas torturantes. Enquanto trabalhava no antigo Centro Nacional Pedro II, no Rio de Janeiro, foi transferida para a área de terapia ocupacional, uma estratégia de repreensão pelas suas ações. O que não sabiam é que lá a psiquiatra encontraria espaço necessário para investir em práticas humanizadas na recuperação de pacientes psicóticos.


Um dos tratamentos desenvolvidos por Nise da Silveira foi a expressão dos sentimentos pelas artes, especialmente as pinturas. Por meio das artes plásticas, a psiquiatra foi pioneira ao defender que a comunicação com os esquizofrênicos graves só poderia ser estabelecida inicialmente em nível não verbal, daí a importância dos desenhos/pinturas. A produção artística de alguns pacientes ganhou reconhecimento pela qualidade estética, além de ter demonstrado resultados positivos na recuperação. As obras, que ganharam notoriedade ao serem expostas no Museu de Arte Moderna de São Paulo e na Câmara Municipal do Rio de Janeiro, podem ser vistas no Museu de Imagens do Inconsciente, inaugurado por Nise em 1952. Em 1956, a alagoana fundou a Casa das Palmeiras, ativa até hoje no bairro de Botafogo (Rio de Janeiro), instituição que tem como foco a reabilitação sem internação e aposta no processo criativo e afetivo dos pacientes.

Mas não para por aí, minha gente! Nise também introduziu o contato com cães e gatos no tratamento com psicóticos, permitindo que vínculos afetivos fossem criados a partir do cuidado dos pacientes com os animais. É de autoria dessa inesquecível e admirável mulher a frase: “Não se curem além da conta. Gente curada demais é gente chata. Todo mundo tem um pouco de loucura. Vou lhes fazer um pedido: vivam a imaginação, pois ela é nossa realidade mais profunda. Felizmente, eu nunca convivi com pessoas ajuizadas.”


*Psicologia Junguiana = Desenvolvida pelo psiquiatra suíço Carl Gustav Jung, essa abordagem é chamada também de psicoterapia analítica. Tal como na Psicanálise, o foco da Psicologia Junguiana é o inconsciente, diferenciando da primeira ao propor a existência de um inconsciente coletivo. Para Jung, o inconsciente, “lugar” em que residem os conteúdos e pensamentos descartados pelo consciente, também é formado pelo inconsciente coletivo, que são os valores compartilhados culturalmente. Discordâncias teóricas levaram ao afastamento entre Freud e Jung, que até então era o principal discípulo do criador da Psicanálise.


Carolina Maria de Jesus (1914-1977)

Nascida em Sacramento, Minas Gerais, Carolina Maria de Jesus foi uma escritora negra brasileira, sendo considerada uma das mais relevantes para a literatura nacional e a mais lida do país. De origem pobre, Carolina mudou-se para São Paulo em 1947, quando a cidade iniciava o seu processo de modernização e assistia ao surgimento das primeiras favelas.


Moradora da favela do Canindé com seus três filhos, a escritora vivia de catar papéis, ferros e outros materiais recicláveis nas ruas da cidade, vinda dessa atividade sua principal forma de renda. Apreciadora da leitura, lia com voracidade os livros que caíam em suas mãos, tomando assim o hábito de escrever. A partir disso, Carolina começa a sua trajetória como escritora, registrando o cotidiano da capital nos cadernos que resgatava do lixo, o que mais tarde se transformou nos diários de uma favelada. Foi “descoberta” pelo jornalista Audálio Dantas na década de 1950, após observar Carolina defendendo o patrimônio público de alguns infratores. Curioso a respeito de quem era aquela mulher, iniciou uma conversa com ela, descobrindo o acervo de cadernos nos quais a escritora narra o drama do dia a dia do Canindé.


A publicação de “Quarto de despejo” ocorreu em 1960, tornando-se um fenômeno de vendas ao atingir o número de 30 mil exemplares na primeira edição, chegando ao total de cem mil exemplares vendidos na segunda e terceira edições. O livro foi traduzido para treze idiomas e distribuído em mais de quarenta países. Mas, Carolina Maria não parou por aí! A autora ainda publicou mais três livros: “Casa de Alvenaria” (1961), “Pedaços de Fome” (1963) e “Provérbios” (1963), além da publicação póstuma (após sua morte): “Diário de Bitita” (1982), editado primeiramente em Paris com outro título. De acordo com o pesquisador José Carlos Sebe Bom Mehy, a mineira ainda teria deixado dois romances inéditos: “Felizarda” e “Os escravos”. Infelizmente, Carolina faleceu esquecida pelo público e imprensa, todavia, mais recentemente, seus escritos têm sido objeto de artigos, dissertações e teses, sendo também alvo de duas biografias por historiadores reconhecidos. Em 2000, foi inaugurado no Parque Ibirapuera, em São Paulo, o Museu Afro-brasil, cuja biblioteca leva o nome de Carolina Maria de Jesus. No dia 25 de fevereiro de 2021, a escritora favelada ganhou uma homenagem póstuma da Universidade Federal do Rio de Janeiro, a UFRJ, a qual lhe concedeu o título de doutor honoris causa*. Sim, gente, é isso mesmo: de catadora de papel favelada, Carolina Maria de Jesus agora é doutora! Nada mais justo, não acham?


*Honoris causa = É uma honraria concedida por universidades a pessoas que se destacam em sua área de atuação. Geralmente, essas personalidades já são respeitadas pelo seu trabalho por setores da sociedade, mas nem sempre têm graduação ou especialização. Tanto que o termo significa “por causa de honra” em latim. Ou seja, ela se tornou alguém de destaque em tal área e a honrou a ponto de ser considerada doutora.


Conceição Evaristo (1946-Presente)

Maria da Conceição Evaristo Brito é graduada em Letras, Mestre em literatura brasileira e Doutora em literatura comparada, escritora, além de participante ativa de movimentos de valorização da cultura negra em nosso país. Estreou na literatura em 1990, quando publicou contos e poemas na série “Cadernos Negros”. É uma escritora versátil, cultiva a poesia, a ficção e o ensaio. Seus contos vêm sendo estudados em universidades nacionais e do exterior.


Em 2003, publicou o romance “Ponciá Vicêncio”, livro de grande expressão da autora. Com uma narrativa não-linear marcada por seguidos cortes temporais, em que passado e presente se conectam, o livro foi bem recebido pela crítica e pelo público, sendo incluído nas listas de vários vestibulares de universidades brasileiras e objeto de artigos e dissertações acadêmicas. Em 2006, Conceição Evaristo publica seu segundo romance, “Becos da Memória”, no qual trata o drama de uma comunidade favelada em processo de remoção. Mais uma vez, sua obra é marcada pelo protagonismo feminino símbolo de resistência à pobreza e à discriminação. Em 2011, lança o volume de contos “Insubmissas lágrimas de mulheres”, em que trabalha as relações de gênero em um contexto social marcado pelo racismo e sexismo e, em 2014, o livro “Olhos D’água” tornou-se finalista do Prêmio Jabuti na categoria Contos e Crônicas. Nos últimos anos, algumas obras de Conceição vêm recebendo novas edições pelas editoras brasileiras e estrangeiras. Em 2018, a escritora recebeu o prêmio de Literatura do Governo de Minas Gerais pelo conjunto de sua obra.

Imagem 3: Foto do Marcos membro do ciência povão com a Conceição.


Bertha Lutz (1894-1976)

Bióloga e feminista, Bertha Maria Júlia Lutz foi responsável pela conquista do voto feminino no Brasil. Nascida em uma família abastada, em São Paulo, Bertha estudou Biologia na prestigiada Universidade Sorbonne, na França. Durante sua estadia na Europa, conheceu o movimento sufragista das mulheres inglesas. Retornou ao Brasil em 1918, tornando-se a segunda mulher a ingressar em concurso público no país, assumindo o cargo de bióloga no Museu Nacional. No ano seguinte, fundou, em parceria com outras mulheres, a Liga para a Emancipação Intelectual da Mulher, iniciando as campanhas pelo direito ao voto feminino.


Após dez anos de luta, em 1932, por decreto-lei do presidente Getúlio Vargas, as mulheres conquistaram o direito do voto no país. Ainda na década de 1930, Bertha organizou o primeiro congresso feminista e fundou a União Universitária Feminina, a Liga Eleitoral Independente, a União Profissional Feminina e a União das Funcionárias Públicas. Ufaaaa, eita mulher de energia! Em 1933, elegeu-se primeira suplente do deputado federal Cândido Pereira, assumindo a cadeira após a morte deste. A passagem de Bertha pela Câmara Federal pode ser resumida pela luta por mudança na legislação referente ao trabalho da mulher e infantil e pela igualdade salarial, redução da jornada de trabalho, até então de 13 horas por dia, e pela proposta de licença maternidade de três meses. Se hoje podemos exercer livremente nosso direito ao voto, mulherada, devemos isso à luta de outras mulheres!


Anália Franco (1853-1919)

Nascida em Resende, Rio de Janeiro, Anália Franco Bastos era professora primária de formação, escritora e teatróloga. Foi uma grande articuladora social e política, defendendo o republicanismo e a abolição da escravidão. Anália era vista como “perigosa” por ter ajudado crianças negras e órfãs que nasceram após a Lei do Ventre Livre (instituiu que filhos de mulheres escravizadas, nascidos a partir de 1871, eram livres). O estereótipo de perigosa diz respeito à fé professada pela professora, o espiritismo, e ao ímpeto de proteger negros e filhos de escravos, o que, em uma sociedade monaquista e escravocrata, gerava um clima de rejeição e desconforto dos locais quanto à presença de Anália. Apesar de não contar com recursos financeiros, conseguiu fundar escolas e creches em São Paulo e em cidades do interior do estado, oferecendo, além do ensino, abrigo a crianças, jovens, mães e mulheres viúvas. Todos recebiam educação e instrução profissional. Anália foi uma das principais educadoras do Brasil e defensora do estado laico, apesar de ser conhecida por professar a fé no espiritismo. Como sempre, professores, e aqui destaco as professoras, fazendo a diferença em nossa realidade! Viva aos/as professores (as)!


Ana Néri (1814-1880)

Ana Justina Ferreira Néri nasceu na Bahia e foi uma das enfermeiras mais importantes do país, chegando a servir na Guerra do Paraguai (1864-1870) voluntariamente. Impulsionada pela convocação dos filhos à guerra e comprometida em servir à Pátria, Ana Néri decide escrever às autoridades locais da Bahia pedindo para ir à guerra para cuidar dos feridos. Durante o conflito, prestou serviços em quatro hospitais militares, perdeu um de seus filhos, organizou hospitais de campanha e, mesmo em condições difíceis, fundou a primeira enfermaria em sua casa, arcando ela mesma com as despesas. Apesar da falta de materiais, pouca higiene e excesso de pacientes, Néri chamou atenção pela sua dedicação ao trabalho como enfermeira em todos os hospitais por qual passou. Com o final da guerra, Ana retornou ao Brasil, sendo recebida com homenagens e honrarias de apreço e reconhecimento pelo seu trabalho. Em 1923, por proposta do doutor Carlos Chagas, foi dado o nome de Ana Néri à primeira escola oficial de enfermagem brasileira, hoje Escola de Enfermagem Ana Néri da UFRJ. Em 1938, o presidente Getúlio Vargas assinou o decreto que instituiu o dia 12 de maio como o dia do enfermeiro, em que deveriam ser prestadas homenagens especiais à memória de Ana Néri. O dia do enfermeiro é comemorado mundialmente no dia 20 de maio.


Virgínia Bicudo (1910-2003)

Virgínia Leone Bicudo, nascida em São Paulo, foi a primeira pesquisadora e professora negra a ocupar um lugar de destaque na divulgação e construção da psicanálise no Brasil. De uma família negra de trabalhadores e de poucos recursos, Virgínia cursou educação sanitária no Instituto de Higiene de São Paulo em 1932 e, quatro anos depois, Ciências Sociais na Escola Livre de Sociologia e Política. Em 1942, iniciou mestrado com pesquisa sobre psicanálise e os conflitos raciais entre brancos e negros. Sua dissertação, intitulada “Atitudes raciais de pretos e mulatos em São Paulo”, foi a primeira defendida no Brasil sobre a temática. Foi professora do Departamento de Psicologia da USP e da Universidade de Brasília (UnB), onde fundou o Instituto de Psicanálise de Brasília. Desenvolveu diversas pesquisas sobre as relações raciais no Brasil para a UNESCO.


Nísia Floresta (1810-1855)

Feminista, escritora e poetisa, Dionísia Gonçalves Pinto, pseudônimo Nísia Floresta, nasceu no Rio Grande do Norte e é autora do primeiro livro feminista no Brasil. Questionadora da condição da mulher no século 19, Nísia lançou seu primeiro livro, intitulado “Direitos das mulheres e injustiças dos homens”, o primeiro no Brasil a tratar dos direitos das mulheres à instrução e ao trabalho. O texto é considerado o fundador do feminismo brasileiro. A escritora seguiu escrevendo sobre a emancipação da mulher por meio da educação e do trabalho em “Conselhos a minha filha” (1842), “Opúsculo humanitário” (1842) e “A Mulher” (1859). O município de Papari, no Rio Grande do Norte, onde Nísia nasceu, hoje se chama Nísia Floresta, em homenagem à autora.


Poderia ainda citar ainda mais mulheres, mas essa lista ficaria imensa! Por hoje, ficamos por aqui com essa lista preciosa de mulheres que deixaram sua contribuição em diversas áreas de conhecimento.


Até a próxima, povão!


Referências:





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