Hello povão, como estão? Bom, esperemos que bem. Nessa matéria vamos continuar falando um pouco mais sobre a glândula tireóide, aquela glândula com formato de borboleta localizada nos pescoço. Como falado no post anterior, esta glândula [e essencial para a regulação da função de diferentes órgãos como: coração, cérebro, fígado e rins, e tem a capacidade de produzir os hormônios T3 (triiodotironina) e o T4 (tiroxina ou tetraiodotironina). Portanto, para entender a matéria de hoje, indico que retorne a matéria anterior sobre hipotireoidismo (se não viu, clique aqui), pois hoje iremos explicar o que é o hipertireoidismo.
O hipo e hipertireoidismo surgem, comumente, devido a processos patológicos na glândula tireóide. No entanto, em casos mais raros, pode surgir através de um distúrbio do hipotálamo ou da hipofise (hipotireoidismo central), ou por meio de causas periféricas, como metástases de câncer para a tireóide.
Em condições normais, a tireóide libera os hormônios T3 e T4 na corrente sanguínea em quantidades suficientes para regular o crescimento, o desenvolvimento, a frequência cardíaca, o consumo de oxigênio e a temperatura corporal. Esses hormônios também têm um papel fundamental no metabolismo de açúcares, lipídios e proteínas. Isso significa que o efeito global do T3 e T4 é aumentar a atividade de muitas funções no corpo inteiro. Quando a tireóide termina de produzir T3 e T4, os hormônios ficam armazenados dentro das células em quantidade suficiente para abastecer o corpo por alguns meses. É realmente uma fábrica hormonal muito eficiente!
Fonte: https://www.uofmhealth.org/health-library/ug1836#:~:text=The%20thyroid%20gland%20uses%20iodine,help%20control%20the%20thyroid%20gland. Adaptado de Healthwise Staff. Medical review: Kathleen Romito, MD and Adam Husney, Md (Family Medicine).
O hipertireoidismo é uma disfunção da glândula tireóide que desencadeia o aumento inapropriado da produção (síntese) e secreção dos hormônios tireoideanos (HT) que são liberados na corrente sanguínea. Na maioria dos casos, a glândula tireoide está aumentada de 2-3 vezes o seu tamanho normal e passa a secretar hormônios em quantidades até 15 vezes maiores que o usual.
Como é classificado o hipertireoidismo?
O hipertiroidismo pode ser classificado em:
Clínico ou manifesto - é caracterizado por uma concentração sérica (no sangue) de um hormônio estimulante da tireoide (TSH) bastante reduzida ou até mesmo indetectável, e as concentrações séricas elevadas das hormonas tireoidianas: T4, T3 ou ambas.
Subclínico - exibe concentrações séricas de TSH muito reduzidas, no entanto as concentrações dos hormônios T4 e T3 são normais.
Tireotoxicose: é a síndrome caracterizada pelo excesso de hormônios tireoidianos em circulação. Esta síndrome pode ter origem na hiperativação da tireóide ou ser resultado da ingestão de hormônios tireoidianos ou liberação de hormônios já pré-formados na tireóide.
Dados fundamentais
A prevalência global de hipertireoidismo na Europa é de 0,8%, com o predomínio de hipertireoidismo clínico que varia entre 0,5 e 0,8%. A prevalência de hipertireoidismo aumenta com a idade e as mulheres são mais afetadas. A incidência de hipertireoidismo subclínico é mais elevada em zonas geográficas mais pobres em iodo. Lembrando de nosso último post sobre tireóide, os hormônios T3/T4 apresentam iodo em sua estrutura química. Quando existe uma deficiência de iodo, a tireóide aumenta sua atividade produzindo mais hormônios para compensar a baixa ingestão de iodo. O problema é que se essa ativação exagerada da tireóide ocorrer por muito tempo, existe alta probabilidade da pessoa desenvolver hipertireoidismo ou um quadro de tireotoxicose .
No Brasil, estima-se que 18 milhões de pessoas apresentam hipertireoidismo manifesto. Dentre aqueles que apresentam idade acima de 65 anos, 0,7% exibe hipertireoidismo manifesto e 2,4% hipertiroidismo subclínico.
Quais são as causas da alteração da glândula tireóide?
Existem diversos motivos que levam ao desencadeamento do hipertireoidismo, sendo a causa mais comum a doença de Graves, seguida pelo bócio multinodular tóxico e pelo adenoma tóxico (com funcionamento autônomo). Na tabela 1, destaca-se algumas informações sobre cada uma das causas mais comuns, as suas manifestações clínicas e avaliação para um diagnóstico.
Enquanto que as causas menos comuns são:
Tireoidite (inflamação na tireóide)
Adenoma hipofisário secretor de TSH
Hipertireoidismo induzido por drogas, medicamentos ou fármacos.
A doença de Graves é a principal causa de hipertireoidismo, sendo responsável por 70-80% dos pacientes em países onde há consumo de quantidades suficientes de iodo. Porém, em áreas com deficiência de iodo, a doença de Graves consiste em aproximadamente 50% dos casos de hipertireoidismo, com uma outra metade atribuída à doença nodular da tireoide.
Manifestações clínicas
Indivíduos que apresentam hipertireoidismo podem apresentar diversos sintomas, desde casos assintomáticos (sem sintomas) até casos que se manifestam clinicamente, conforme apresentados na tabela 2 (Cebola J. 2021).
Diagnóstico
O diagnóstico do hipertireoidismo é feito com base na história clínica do paciente. Nesse caso, o médico avalia alguns sintomas da doença, incluindo reflexos exagerados, tremores nas pontas dos dedos e temperatura elevada. Outros exames consistem na determinação das frequências cardíaca e respiratória e análise da pressão arterial. Uma análise do tamanho, da simetria e sensibilidade da tireóide pode ser feita; o médico pode sentir se a glândula está aumentada ou mais rígida que o normal.
Exames de sangue para quantificação dos níveis de TSH e T4 são fundamentais, pois permitem avaliar diretamente a função da tireóide. Além disso, um exame de absorção de iodo radioativo (calma! não é nada perigoso; é apenas uma forma de iodo que podemos marcar e observar onde ele vai parar no nosso organismo), em que o paciente ingere uma pequena quantidade de iodo marcado para ver o quanto é absorvido pela tireóide. Uma grande absorção de iodo indica hipertireoidismo, geralmente por doença de Graves ou um nódulo da tireóide.
Confere aqui embaixo um esquema de como é feito o diagnóstico de hipertireoidismo
Figura 1: algoritmo de diagnóstico de hipertireoidismo (Cebola J. 2021).
Tratamento
O tratamento para casos de hipertireoidismo depende de diversos fatores como:
etiologia;
idade do paciente;
sintomas;
comorbilidades;
preferências pessoais.
Atualmente, existem três opções no tratamento do hipertiroidismo:
Medicamentos anti-tireóide: Alguns exemplos são o Metimazol e a Propilitouracila. Estes medicamentos bloqueiam a produção dos hormônios T3/T4 pela tireóide, mas não afetam a absorção de iodo pela glândula. Além disso, atuam inibindo a produção de T3 a partir de T4 nos tecidos do organismo.
Iodo radioativo (iodo-131 ou 131I): administrado na forma de iodeto de sódio, o iodo radioativo se concentra na tireóide e seu mecanismo de ação consiste em produzir partículas beta, as quais são elétrons em alta velocidade lançados quando o núcleo do 131I se desintegra). As partículas beta no interior da célula têm o potencial de danificar o DNA causando mutações, destruindo alguns grupos de células da glândula. Essa descrição parece assustadora mas não tenham medo! Em mais de 50 anos de uso, não foi demonstrado risco de contaminação radioativa por 131I.
Remoção cirúrgica da tireóide: Nos casos que paciente não pode/quer tomar medicamentos anti-tireóide ou iodo radioativo, existe a opção (mais rara) de remover a tireoide através de cirurgia. Nesse caso, o médico remove uma grande porção da glândula. Existe o risco de dano às cordas vocais e glândulas paratireóide. Além disso, o paciente precisará tomar levotiroxina para suplementação dos hormônios.
A monitorização do tipo de tratamento deve ser regular e o seu seguimento mantido a longo prazo.
É minha gente, o nosso corpo tem muito a nos ensinar! Que tal você ficar mais atento aos sinais? Caso apresente algum dos sintomas aqui mencionados, procure a ajuda de um médico. Lembre-se, quanto mais rápido descobrir o que está errado, mais rápido poderá resolver. Afinal, o seu corpo agradece.
Jamais use medicamentos que o fulano indicou, isso pode pôr em risco a sua saúde!
Então, até a próxima povão!!
Referências:
Taylor, P., Albrecht, D., Scholz, A. et al. Global epidemiology of hyperthyroidism and hypothyroidism. Nat Rev Endocrinol 14, 301–316 (2018). https://doi.org/10.1038/nrendo.2018.18
Uma matéria sobre hipertiroidismo no site do Dráuzio Varela: https://drauziovarella.uol.com.br/doencas-e-sintomas/hipertireoidismo-e-hipotireoidismo/#:~:text=O%20diagn%C3%B3stico%20pode%20ser%20feito,da%20tireoide%20caracterizam%20o%20hipertireoidismo.
Cebola, J. Hipertiroidismo. Revista Portuguesa de Medicina Geral e Familiar 37, 36-43 (2021). doi:http://dx.doi.org/10.32385/rpmgf.v37i1.12548
https://www.healthpolicypartnership.com/wp-content/uploads/Dist%C3%BArbios_de_tireoide_no_Brasil.pdf
Chung, HR. Iodine and thyroid function: doi: 10.6065/apem.2014.19.1.8
Foto da capa: Canva
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