top of page
Foto do escritorCiência povão

Memória

Olá, povão! Todos e todas bem? Espero que sim! O texto de hoje é sobre memória. E aí, ansiosos para começar a leitura? Então vamos lá!


Antes de mais nada, precisamos saber que a memória é um dos mais importantes processos psicológicos básicos. A memória pode ser entendida como a capacidade que o nosso cérebro tem de adquirir, armazenar e recuperar informações. Engana-se, no entanto, quem acha que a memória atua sozinha. O processo de memorização envolve outras funções psicológicas, tais como a motivação, a atenção, a percepção e o aprendizado, assim como para recuperar uma memória, é preciso ativar a função executiva (raciocínio, abstração, planejamento, execução, resolução de problemas) e a linguagem.


Não fosse a memória, não seríamos capazes de criar uma identidade pessoal (não lembraríamos o nosso nome, por exemplo) ou executar atividades cotidianas simples, como pegar um ônibus rumo a um destino específico.


Há o caso também de executarmos atividades quase que de maneira automática, mas que estão intimamente ligadas à memória. Um exemplo disso são as pessoas que estão tão habituadas a fazerem o mesmo trajeto todos os dias para o trabalho que, ao chegarem ao destino, não lembram o percurso que fizeram. Isso acontece porque realizamos algumas atividades de maneira repetitiva, logo, é como se o nosso corpo memorizasse os movimentos e os desenvolve-se de maneira automática, sem passar pela consciência.


Processos da memória: codificação, armazenamento e recuperação


A memória passa por alguns processos complexos pelos quais o indivíduo codifica, armazena e resgata informações. A codificação diz respeito à interpretação de um estímulo ou de uma informação, estando ligada intimamente ao processo de atenção. O processo de armazenagem é o momento de retenção de uma informação. Já a recuperação é a evocação (lembrança) dessa informação anteriormente armazenada. A recuperação pode ocorrer através uma busca consciente por uma informação ou de modo inconsciente, por meio de associações, semelhança ou necessidade.


De que maneira guardamos uma memória?


O que se sabe é que as informações (um objeto, um sentimento, uma experiência pessoal) que chegam ao nosso cérebro formam um circuito neural, isto é, ativam um rede de neurônios e, caso essas informações sejam reforçadas, elas são retidas. Um exemplo disso é o fato de não esquecermos o número de telefone da nossa casa, pois como passamos uma vida inteira discando o mesmo número, ativamos o mesmo circuito neural, reforçando-o toda vez que repetimos o número, o que torna mais fácil resgatar posteriormente essa informação.


Tipos de memória


É isso mesmo, povão, você não está lendo errado, a nossa memória pode ser classificada segundo a sua função (memória de trabalho), de acordo com o tempo que duram (memória de curta duração e de longa duração) e de acordo com o seu conteúdo (memórias declarativas e não declarativas), mas para facilitar o nosso entendimento, nos deteremos em apresentar as características de cada uma delas.


Memória de curta duração


Basicamente, chamamos de memória de curta duração as informações que permanecem em nosso cérebro por um curto período de tempo. É uma memória limitada quanto a sua capacidade de armazenar informações, podendo reter em torno de 5 a 9 itens. Um exemplo de memória de curto prazo é lembrar do número da pizzaria que está no ímã da geladeira. Momentos após discarmos os números, nos esquecemos dessa informação.


Memória de trabalho (ou operacional)


É uma memória que armazena informações de forma temporária, mas que também as manipula, de modo a possibilitar que pessoas executem atividades complexas como raciocínio, aprendizagem e compreensão. Dessa maneira, as informações são retidas temporariamente enquanto uma determinada tarefa está sendo realizada. A memória de trabalho dá suporte às atividades cognitivas como, por exemplo, a leitura. Exemplo de memória de trabalho: dizer uma sequência de números na ordem inversa.


Memórias de longa duração


Como é possível deduzir pelo próprio nome, a memória de longa duração é aquela responsável por armazenar informações por longos períodos de tempo, como meses, anos e décadas, por isso também é conhecida como memória remota. As informações armazenadas nesse tipo de memória podem ficar guardadas por tempo indefinido, desde que sejam reforçadas. Ainda não se sabe sobre os limites de sua capacidade, mas estima-se que seja bem grande.


A memória de longa duração divide-se em memória declarativa (explícita) e memória não-declarativa (não explícita), que por sua vez também se subdividem. Para facilitar a compreensão, veja o esquema abaixo:

vamos falar um pouco mais sobre todas elas!

Memória declarativa (explícita)


São as memórias acessíveis à nossa consciência e as que podemos expressar em palavras. É na memória declarativa que estão armazenados os eventos de nossa infância, as lembranças de uma viagem e o conteúdo que aprendemos na escola. Como podemos ver na imagem acima, essa memória pode ser dividida em memória episódica e memória semântica.


A memória episódica diz respeito a episódios de nossas vida, como um aniversário, o primeiro beijo, um momento feliz, e, por reter experiências em um dado momento no tempo, é responsável pela nossa autobiografia. Essa memória se subdivide em: memória anterógrada e memória retrógrada.


A memória anterógrada consiste na nossa capacidade de consolidar novas memórias a partir de um ponto, enquanto a memória retrógrada consiste em lembrar de experiências passadas.


Uma vítima de um susto de grande intensidade, como um acidente de carro, pode não conseguir lembrar de nenhum evento anterior ao acidente, apresentando um quadro de amnésia retrógrada. Uma lesão cerebral. no entanto, pode fazer com que uma pessoa preserve lembranças de momentos passados, mas apresente dificuldade de consolidar novas experiências.

Já a memória semântica diz respeito a conhecimentos fragmentados, isto é, que não têm relação a tempo e espaço específicos; é uma memória que guarda fatos. É por meio dela que lembramos o significado de uma palavra, conhecimentos de biologia, regras gramaticais e etc.


Essa subdivisão se faz necessária pois há evidências de que ambas as memórias afetam diferentes áreas cerebrais. Desse modo, é possível que um paciente possua problemas na memória episódica, enquanto a memória semântica permanece intacta.


Além disso, um aspecto interessante das memórias declarativas é que o conhecimento armazenado por elas influenciam poderosamente no modo como percebemos o mundo e em nossas decisões. Essa característica é extremamente importante, pois pode nos livrar de situações perigosas semelhantes à experiência anteriores.


Outra característica das memórias de longa duração é a sua instabilidade, isto é, toda vez que evocamos uma memória, modificamos ainda mais essa lembrança. Desse modo, com o passar do tempo, quando comentamos sobre uma memória da infância, o nosso relato está cada vez mais distante de expressar o que de fato aconteceu.


O esquecimento é um papel adaptativo da memória declarativa. A todo momento recebemos um grande número de estímulos, os quais, em sua maioria, são irrelevantes. Se não fôssemos capaz de esquecer, nosso cérebro ficaria tão sobrecarregado que não conseguiria desempenhar bem outras funções cognitivas. Pessoas que são incapazes de esquecer apresentam problemas em outras funções cognitivas, como na capacidade de interpretação e no raciocínio lógico-matemático. Vamos retomar esse assunto mais adiante.

Memória não declarativa (implícita)


Se trata de memórias que operam a nível subconsciente, mas que não requer um resgate intencional da consciência. Além disso, é uma modalidade de memória que não conseguimos explicar em palavras. Inclui-se nesse grupo as habilidades motoras, os condicionamentos e o priming.


As habilidades motoras são memórias difíceis de serem aprendidas, pois necessitam de muita repetição para se tornarem consolidadas. No entanto, uma vez aprendidas, se tornam automáticas, inconscientes, resistentes ao esquecimento e incapazes de serem declaradas. Além disso, estão relacionadas a um saber que não consigo explicar, declarar como aprendi, por isso são memórias ligadas à destrezas e habilidades. Um exemplo do que estamos falando é andar de bicicleta. Vocês seriam capazes de explicar em palavras como se anda de bicicleta, ou como se nada?


Os condicionamentos resultam da associação entre estímulos. É o caso de um cachorro que começa a salivar quando vê o dono chegando perto do meio dia, pois o dono o serve comida todo dia no mesmo horário. O condicionamento está intimamente associado ao processo de aprendizagem.

Já o priming é um tipo de memória ativada por pistas ou dicas. Um exemplo é quando não conseguimos lembrar de uma música, mas se alguém cantarolar as primeiras notas lembramos de todo o resto instantaneamente, como um efeito em cascata. Dessa maneira, o priming está vinculado à memorização de uma informação com a qual já tivemos um contato anterior.


Esquecimento


O esquecimento é uma falha na retenção e evocação de uma memória. Trata-se de um fenômeno comum que atinge a todos, em maior ou menor grau. Ainda não há uma explicação que dê conta de justificar o esquecimento como um todo, mas são importantes para compreendermos esse fenômeno.


Para alguns, o esquecimento está associado ao desuso. Assim, uma vez que diminuímos o reforçamento dos circuitos da memória, resultando em seu enfraquecimento, seria cada vez mais difícil acessar essas informações. Isso explicaria porque que com o passar da idade algumas pessoas têm dificuldade de lembrar fatos passados. No entanto, é válido ressaltar que essa dificuldade é mais intensa em relação aos fatos recentes, enquanto que fatos remotos marcantes, ainda que não acessados com frequência, continuam perfeitamente preservados.


Outra explicação para esse fenômeno é a impossibilidade de evocar uma informação que não foi devidamente armazenada. Para que possamos reter uma informação, é necessário que outro processo psicológicos esteja envolvido, a atenção. Não há qualquer possibilidade de um fato ser armazenado sem atenção, e, se ele não foi guardado, é impossível recuperá-lo.


O combate ao esquecimento deve levar em consideração os processos psicológicos que estão envolvidos na memorização, como a atenção e a concentração, bem como os fatores que os facilitam ou os dificultam. Preocupações com problemas diários, ansiedade, depressão, noites mal dormidas, entre outros casos, são exemplos de fatores que atrapalham a atenção e, consequentemente, a consolidação de novas informações, gerando a tão queixada impressão de que a “memória está falhando.”


Embora esses fatores afetem diretamente os processos de concentração e de atenção, caso se tornem intensos, podem atingir a memória, mesmo que temporariamente. Um bom exemplo disso são os “brancos” em situações de extrema ansiedade.


Por hoje é só, povão! Até a próxima!

Autora

Membro do Ciência Povão

Jessica Melo

Psicóloga e Psicoterapeuta




Referências:


OLIVEIRA, R. S. de. Relação entre a memória de trabalho e o desempenho da leitura de palavras isoladas. 2017. Monografia (Curso de Psicopedagogia) Centro de Educação, Universidade Federal da Paraíba, Paraíba.


MOURÃO, J. C. A.; FARIA, N. C. Memória. Psicol. Reflex. Crit., Porto Alegre, v. 28, n. 4, p. 780-788, 2015.


MENDONÇA, A. R. Memória: definições e tipos. Disponível em: http://bio-neuro-psicologia.usuarios.rdc.puc-rio.br/mem%C3%B3ria.html


SOUSA, A. B.; SALGADO, T. D. M. Memória, aprendizagem, emoções e inteligência. Revista Liberato, Novo Hamburgo, v. 16, n. 16, p. 142-151, 2015.


Matéria sobre memória:





8 visualizações0 comentário

Posts recentes

Ver tudo

Comments


bottom of page