Olá povão, hoje falaremos de uma doença que está muito presente no Brasil e no mundo, mas quase ninguém dá atenção. Esta doença é chamada de barriga d´água, conhecida também como doença do caramujo, xistose ou esquistossomose.
O que é esquistossomose?
A Esquistossomose mansoni é uma doença tropical pouco falada, que afeta cerca de 200 milhões de pessoas no mundo, inclusive aqui no Brasil. A doença é popularmente conhecida como “Barriga d’água”, pois deixa a pessoa com a barriga grande e inchada, devido a uma inflamação no fígado e no baço, causada pela presença dos ovos do parasito.
Quem é o parasito, e o que ele é?
O parasito causador da doença é o Schistosoma mansoni, o único verme classificado como helminto (grupo de vermes que vivem como parasitas de outros organismos ou livres no ambiente), que possui indivíduos machos e indivíduos fêmeas (a maioria dos vermes são hermafroditas*). A fêmea possui o corpo mais alongado e o macho uma abertura no seu corpo, chamado de canal ginecóforo, onde a fêmea entra e juntos os vermes copulam (reproduzem-se). A fêmea
sai desse canal para eliminar os ovos, liberando cerca de 400 ovos por dia no interior do intestino humano. MISERICÓRDIA!
* Hermafrodita: ser que apresenta ambos os sexos biológicos.
Entendendo a infecção e o ciclo de vida do parasita
Cerca de 50% desses ovos caem na circulação sanguínea, atingindo o fígado e o baço e provocando uma doença que causa inflamação e aumento do tamanho desses órgãos. Os indivíduos que chegam nesse estágio da doença sem tratamento podem vir a óbito, pois a doença se agrava para quadros de cirrose hepática (danos ao fígado, com aparecimento de cicatrizes no seu tecido e perda de função) e varizes gastrointestinais (veias dilatadas no estômago e intestino), que se rompem causando uma grande hemorragia. Os 50% restantes dos ovos são eliminados juntos com as fezes que, sem saneamento básico nas regiões endêmicas (com muitos casos da doença), entram em contato com a água dos rios e lagos, liberando larvas que realizarão seu ciclo de vida, conforme demonstrado na figura abaixo.
Sintomas da Fase inicial da doença (Aguda)
· Febre;
· Dor de cabeça;
· Calafrios;
· Sudorese (Suor)
· Fraqueza;
· Falta de apetite;
· Dor muscular;
· Tosse;
· Diarreia;
· Inflamação na pele decorrente da entrada das larvas cercárias (Dermatite Cercariana).
Sintomas da Fase avançada da doença (Crônica)
· Tonturas;
· Sensação de plenitude gástrica;
· Prurido (coceira) anal;
· Palpitações;
· Impotência;
· Emagrecimento;
· Endurecimento e aumento do fígado.
Complicações da Esquistossomose
· Aumento do fígado (hepatomegalia);
· Aumento do baço (esplenomegalia);
· Hemorragia digestiva;
· Hipertensão pulmonar e portal;
· Morte.
Diagnóstico
É possível detectar a presença dos ovos do verme através do exame de fezes do paciente (pessoa infectada). Outro exame é a ultrassonografia, que possibilita verificar se há aumento dos órgãos, como o braço e o fígado, o que é característico desta doença.
Tratamento
O tratamento é realizado com medicamentos antiparasitários que agem contra o parasita Schistosoma mansoni. Um dos fármacos existentes é o Praziquantel. Este é um medicamento de prescrição médica, administrado via oral por 1-2 dias, para o tratamento das infecções causadas por todas as espécies de esquistossomos.
Obs: Este texto possui caráter apenas informativo. Não indicamos o uso de qualquer medicamento sem antes passar por um MÉDICO. As informações aqui contidas não substituem a passagem por um profissional, que é responsável por indicar qual é o melhor tratamento para você.
Prevenção
O controle da esquistossomose é baseado no tratamento coletivo de comunidades de risco, no acesso à água potável e saneamento básico, na educação em saúde e no controle de caramujos em lagos e rios.
Por que devemos controlar o caramujo?
Como vimos no ciclo de vida do parasita Schistosoma mansoni, os caramujos do gênero Biomphalaria são importantíssimos porque são eles que hospedam o parasita no seu interior, desempenhando a função de hospedeiros intermediários (aloja o parasita em sua fase de larvária ou de reprodução assexuada, ou seja, não precisa copular). Então, se um único caramujo pode liberar cerca de 100 mil larvas cercárias do parasito S. mansoni, imaginem mais de um em um único ambiente. SOCORROOOO!
Vale salientar que o caramujo africano (Achatina fulica), espécie invasora aqui no Brasil, não serve de hospedeiro intermediário no ciclo da esquistossomose. No entanto, é sempre bom ter cuidado ao lidar com esse caramujo, pois há registros (fora do Brasil) de que ele possa transmitir outras duas doenças graves, a “meningite eosinofílica” e a “angiostrongilíase abdominal”, que podem levar a óbito.
Você sabia?
O ciclo de vida do Schistosoma mansoni conta com 2 estágios larvais. A primeira larva se chama Miracídio, que penetra no caramujo. A segunda larva, chamada cercária, é resultante do desenvolvimento do miracídio e é a responsável por infectar o Homem.
A larva só sai do caramujo através do estímulo da luz e da temperatura mais quente e nadam livremente nos rios até encontrar o Homem, que é o hospedeiro definitivo (aloja o parasita em sua fase madura ou de reprodução sexuada, ou seja, há o envolvimento do verme macho e da fêmea).
Quando essas larvas cercárias encontram o Homem, elas penetram na pele causando pequenas feridas avermelhadas que coçam, por isso os rios e lagos de regiões endêmicas para esquistossomose são popularmente chamadas de “lagoas da coceira”.
Autora
Suellen Cabral
Biotecnóloga
Mestre e doutoranda em Química Biológica
Colaboradora do Ciência Povão
Contribuição
Adriano Lima
Isabella da Rocha
Membros do Ciência Povão
Referências
· Ministério da Saúde - http://www.saude.gov.br/saude-de-a-z/esquistossomose
· FIOCRUZ - https://portal.fiocruz.br/taxonomia-geral-7-doencas-relacionadas/esquistossomose
· Centers for Disease Control and Prevention (CDC) - https://www.cdc.gov/parasites/schistosomiasis/health_professionals/index.html
· Amsterdam Ecology - https://www.amsterdamecology.nl/nol-10-april-2018/
. Planeta biologia - cavidade abdominal: anatomia, órgãos- Resumo. Disponível em: https://planetabiologia.com/cavidade-abdominal-anatomia-orgaos-resumo/. acesso em 23/07/20
. O mundo dos platelmintos. Disponível em: https://sites.google.com/site/omundodosplatelmintos/classe-trematoda. ACesso em 23/07/20
. Fontoura, R. Especialista comenta riscos que os caramujos africanos podem representar para a população. Agência Fiocruz de notícias - Saúde e ciência para todos. Disponível em: https://agencia.fiocruz.br/especialista-comenta-os-riscos-que-os-caramujos-africanos-podem-representar-para-a-popula%C3%A7%C3%A3o. Acesso em: 23/07/20
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