Olá, povão, como vocês estão? Bom, hoje venho falar de um assunto muito associado ao nosso cotidiano, quem aí já estalou os dedos? Eu particularmente sempre estalo. Adoro aquela sensação boa quando escuto aquele TREC em cada dedo ou quando estalo a coluna e sinto aquele alívio depois de um dia longo de trabalho. Apesar de ser super normal as pessoas estalarem diversas partes do seu corpo, será que pode fazer mal? Para saber essa resposta, convido a você a continuar a leitura, então vamos ao conhecimento.
Figura 1. Mulher estalando o corpo.
A primeira coisa que esclarecerei para vocês sobre esse assunto é que, na verdade, não estalamos os dedos, coluna, pescoço e sim as articulações. As articulações são pontos de ligações naturais entre dois ou mais ossos diferentes, que permitem com que todo o nosso sistema esquelético funcione.
No corpo humano existem diversas articulações, sendo elas: imóveis como o caso dos diferentes ossos cranianos, os quais ajudam a proteger o cérebro e os órgãos de sentido; mobilidade limitada como o caso da coluna vertebral; e bastante móveis, destacando como exemplo o joelho e o cotovelo.
As articulações que apresentam grande mobilidade são revestidas por cartilagem e possuem uma bolsa cheia de líquido sinovial, que é responsável por ajudar na sua nutrição, lubrificação e proteção. Assim, quando ocorre o movimento da articulação, devido ao líquido sinovial e a cartilagem, os ossos deslizam entre si com o mínimo de atrito.
Como ocorrem os estalos no corpo humano?
Agora está mais claro sobre o que é a articulação, vamos compreender como os estalos ocorrem em nosso corpo. Para isso, o ortopedista Rodrigo Nakao, do Hospital das Clínicas Luzia de Pinho Melo, unidade gerida pela Associação Paulista para o Desenvolvimento da Medicina (SPDM), explica na reportagem no site da SPDM que: “Nas articulações existe o líquido sinovial (um líquido que se parece com um lubrificante e que contém gases). Quando estalamos ou dobramos uma articulação, esticamos a cápsula articular e este gás é liberado rapidamente, já que formam-se bolhas com esse movimento”.
Em 2015, o professor Gregory N. Kawchuk, da Universidade de Alberta no Canadá, construiu um mecanismo que consiste em puxar os dedos da mão de um voluntário enquanto as articulações eram filmadas por ressonância magnética nuclear (figura 5, 6 e 7). Em todos os registros dos dedos estalados pela ressonância magnética, o som do estalo surgia no momento exato em que uma pequena bolha surgia no líquido sinovial.
Figura 5. Representação do mecanismo que puxa os dedos da mão do voluntário. (Kawchuk et. al., 2015)
Figura 6. Ressonância magnética dos dedos. A seta amarela mostra a bolha de gás que surge no líquido sinovial. (Kawchuk et. al., 2015)
Figura 7. Representação dos eventos intra-articulares. Articulação em repouso (A). Antes de estalar (B). Momento do estalo (C) e a articulação após estalar (D). (Kawchuk et. al., 2015)
Figura 8. Representação em imagens e gráficos, no antes e após estalar os dedos. No quadro esquerdo, a distância de separação da junção óssea mostra um aumento lento até o ponto de liberação da junção, que é em 6,2 segundos, conforme indicado pelo marcador vertical (quadro esquerdo) a intensidade do sinal de ressonância magnética dentro do espaço intra-articular (Região 1) cai para revelar um sinal vazio ao mesmo tempo que a articulação se expande (6,2 segundos). As regiões de controle no fluido fora do espaço intra-articular (Região 2) e no osso (Região 3) mostram intensidades de sinal relativamente inalteradas ao longo do experimento. (Kawchuk et. al., 2015)
O nosso corpo também tem a capacidade de se auto estalar. Quantas vezes você está fazendo algo aleatório e de repente TREC? Isso acontece devido aos nossos movimentos, que em alguns casos são bruscos e inesperados, causando um certo alívio em pessoas que não tenham problemas na articulação.
Afinal os estalos fazem mal?
Povão, podem estalar os dedos à vontade, porque até onde se sabe não há nada que comprove que há malefícios em praticar esse ato. Afinal, não sei vocês, mas dá uma sensação incrível de relaxamento, não é mesmo? Um estudo de 2011, relacionado ao estalo da coluna, revelou que os indivíduos que participaram da pesquisa associaram o estalo com a sensação de alívio. Estalar a coluna, pescoço ou outras partes do corpo gera liberação de endorfina, que é um neurotransmissor associado com a sensação de bem-estar e prazer.
Numa entrevista ao site UOL, o médico Mateus Saito, especialista em mão do Instituto de Ortopedia e Traumatologia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HCFMUSP), informou que: “Ao estalar os dedos, provocamos o movimento rápido do líquido sinovial que está dentro da articulação, e o resultado dessa ação é o som que conhecemos como estalo. Esse movimento geralmente não traumatiza a articulação e, portanto, não ‘engrossa’ os dedos nem causa nenhum dano aos ligamentos, cartilagens e tendões.” No entanto, é necessário ter atenção, pois apesar dos estalos no geral não fazer mal, aqueles que são: 1) involuntários com frequência pelo corpo: podem indicar artrose, que é o desgaste e perda da cartilagem lisa, formando rugosidade na superfície articular; 2) involuntários pelo corpo com dor: podem significar que alguma coisa não está bem; 3) causados de forma compulsiva: podem causar frouxidão dos ligamentos e/ou até uma doença articular degenerativa; 4) estalar a coluna vertebral de maneira incorreta pode ocasionar problemas a longo prazo. Sendo assim, procure algum médico para avaliar a sua condição.
Vamos fazer um teste?
Estale os dedos.
Agora tente estalar de novo.
Conseguiu?
Dificilmente você conseguirá estalar novamente, ou seja, não ouvirá o TREC.
Por que?
Porque é necessário esperar um tempo para que o gás “bolha” retorne ao líquido sinovial.
Viu? Você acabou de fazer ciência. Até a próxima.
Referências:
https://www.spdm.org.br/saude/noticias/item/2692-por-que-nosso-corpo-estala
Miller, P. J., & Poggetti, A. S. (2011). Qualitative study on chiropractic patients’ personal perception of the audible release and cavitation. Clinical Chiropractic, 14(1), 8-16.
Rowe, L., & Thompson, R. (2015). Real-time visualization of joint cavitation. PloS one, 10(4), e0119470. https://doi.org/10.1371/journal.pone.0119470.
https://www.megacurioso.com.br/ciencia/109614-sera-que-estalar-a-coluna-faz-mal-para-a-saude.htm
https://drauziovarella.uol.com.br/ortopedia/estalar-os-dedos-faz-mal/
https://www.healthline.com/health/neck-cracking#see-your-doctor
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