Fala aí, Povão! Tudo bem com vocês? O tema de hoje é polêêêmico: vamos falar sobre drogas! Em um primeiro momento vamos nos deter nos aspectos legais que envolvem seu uso e em um segundo momento vamos saber como essas substâncias afetam nosso organismo. Simbora?
Drogas
Em primeiro lugar, vamos entender o que é uma droga. Drogas são substâncias químicas, naturais ou artificiais capazes de provocar alterações no organismo. Isso significa que medicamentos (todos eles) são drogas, por isso não é raro encontrarmos farmácias que estampam em seus nomes a palavra drogaria. Resumidamente, álcool, maconha, cocaína, antidepressivo, antitérmico, analgésico e xarope, somente para citar alguns exemplos, são drogas.
Drogas ilícitas: não são legalizadas.
Drogas lícitas: são legalizadas para uso.
Você deve estar pensando: mas remédios não são perigosos igual ao álcool e outras drogas! Não é bem assim, pessoal. Como vimos no post sobre medicalização da vida, cada vez mais temos consumido medicamentos para as mais diversas situações da vida, e os antidepressivos e os ansiolíticos (medicamentos que tratam ansiedade) são os campeões dessa lista. O que não é dito é que esses medicamentos podem gerar DEPENDÊNCIA se forem utilizados indiscriminadamente, por isso sua venda é controlada e o seu uso deve ocorrer apenas sob orientação médica. Aposto que vocês conhecem alguém que só consegue pegar no sono após tomar algumas gotinhas de Rivotril.
Assim, podemos perceber que toda medicação possui o seu grau de risco (basta darmos uma olhada na bula de cada medicamento) e nem por isso deixamos de fazer uso delas. Mas o ponto levantado nesse texto é a legalidade e ilegalidade de algumas substâncias. É aqui que o bicho pega, pessoal.
Substâncias lícitas x ilícitas
Vocês já pararam para pensar o que faz uma droga ser considerada legal ou ilegal?
O que os estudiosos do tema têm apontado, e o que podemos observar ao longo dos anos, é uma conveniência política e social na decisão de quais substâncias devem ou não ter seu uso permitido. Ficou complicado? Tudo bem, eu explico. Nos séculos passados, o álcool e o tabaco já foram drogas ilegais e o seu uso podia levar à cadeia ou até mesmo à morte! Vocês conseguem imaginar isso acontecendo nos dias de hoje?
Entretanto, a ilegalidade do álcool, que aconteceu nos Estados Unidos no século XX, não obteve resultados positivos. A proibição não só foi incapaz de mudar o hábito de consumo de bebida alcoólica, como também promoveu o surgimento de gangues criminosas poderosas, violência, e corrupção policial (isso te lembra algum lugar?). Frente a esse fracasso, os governantes não tiveram outra opção senão liberar o uso da substância .
O argumento que sustentou a proibição do álcool no século passado é o mesmo que parece sustentar a ilegalidade de algumas substâncias químicas nos dias de hoje: a imoralidade do uso. De acordo com algumas correntes religiosas, a abstinência é uma virtude, ou seja, o cidadão exemplar é aquele que não faz uso de nenhuma substância química, que não sofre de nenhum vício, portanto, é capaz de viver tranquilamente em sociedade. É graças a essa concepção que os usuários (as) de drogas são vistos como pessoas pouco confiáveis, criminosas, descontroladas e, principalmente, como perturbadores da ordem social, portanto, perigosas.
Embora a proibição também se fundamente em argumentos de saúde pública, nem mesmo os médicos chegaram a um consenso acerca dos benefícios e dos malefícios das substâncias ilícitas à nossa saúde. Como, então, justificar a ilegalidade de substâncias de baixa toxicidade, enquanto álcool e tabaco são substâncias lícitas? Quais são os critérios que permitem o uso de algumas drogas e outras não?
A verdade é que, apesar dessas contradições, algumas drogas continuam na ilegalidade. E a questão que fica é: será que esse tipo de controle das drogas tem sido efetivo? A ilegalidade tem colaborado para uma redução da criminalidade? O que poderia acontecer se as drogas ilegais deixassem de ser proibidas? Como todas essas informações se encaixam na sua realidade?
Bem, povão, queremos que vocês tenham em mente que falar sobre a legalidade e a ilegalidade de certas drogas é um assunto polêmico e bastante sensível, mas que deve ser discutido com bastante seriedade de dignidade, isto é, livre de preconceitos, senso comum e informações falsas, que além de atrapalhar a compreensão do assunto, nos afasta de conhecê-lo em sua realidade.
Como as drogas lícitas e ilícitas afetam as pessoas?
Você deve estar se perguntando, aaa beleza, legal essa informação sobre as questões morais sobre a liberação ou não das drogas, mas quero saber como que as drogas lícitas e ilícitas (neuropsicoativas) afetam as pessoas que usam?
Bom gente, independente do tipo de droga, tudo que é usado demais pode provocar efeitos severos no organismo e principalmente a dependência.
Mas como essa história se inicia? As pessoas normalmente recorrem a um tipo de droga para fuga da realidade, outras porque querem experimentar e outras são induzidas. Cada droga apresenta um efeito, sendo estes: tranquilização, aumento de sensação de energia, euforia, bem estar, melhoria das capacidades físicas, melhoria das capacidades mentais, entre outros. Ah, mas quer dizer então que as drogas promovem uma sensação positiva? Não necessariamente, em muitos casos podem provocar taquicardia, paranóia, tremores, andares instáveis, convulsões, fraqueza muscular, entre outros efeitos mais severos e negativos.
É gente, complicado. Mas afinal, por que isso acontece? Porque as drogas afetam diretamente o nosso sistema nervoso central. O sistema nervoso central é responsável por reconhecer e transmitir as informações para o nosso corpo. Então, quando consumimos algo que altera o nosso pensamento, o cérebro, começa a ser afetado e causando diversas sensações, até mesmo alterações no sistema motor.
E em relação a dependência?
A dependência pode ocorrer com qualquer tipo de droga - as pessoas que já tenham uma história familiar com drogas sejam lícitas ou ilícitas têm maior predisposição a ter problemas com dependência - A dependência é caracterizada pelo “prazer” e/ou desejo descontrolado pela substância. E por que isso acontece? Porque o nosso cérebro possui um sistema de recompensa (ver imagem abaixo!) onde são processadas as informações que promovem as sensações de prazer e satisfação.
Uma vez que há ativação do sistema de recompensa, aumenta-se a probabilidade da repetição de comportamentos que levaram ao abuso da droga.
É válido ressaltar que a dependência também tem o seu aspecto psicológico e social, isto é, ao buscar a droga para uma sensação de alívio, ou para se sentir mais dispostos para se comportar de uma determinada maneira, procura-se nessas substâncias soluções para os problemas ou dificuldades da vida. Portanto, a dependência pode ser gerada por fatores biológicos, psicológicos e sociais, por isso também é extremamente importante investigar na história do (a) usuário (a) o que o (a) levou à droga.
Ok ciência povão, mas quais são as moléculas que estão envolvidas nesse tal sistema de recompensa?
Então povão, as moléculas envolvidas são os neurotransmissores (moléculas liberadas pelos neurônios), em sua maioria, a dopamina. Nesse caso, com o mau funcionamento do sistema de recompensa às concentrações da dopamina encontraram-se desreguladas.
A dopamina é um neurotransmissor associado à sensação de desejo e de prazer do corpo. Assim, o indivíduo que usa uma dada droga com uma elevada frequência, promoverá o aumento da atividade da dopamina, que sobrepõe o controle do cérebro responsável pela sensação de prazer. Sendo assim, o corpo, muitas vezes, terá uma necessidade de prazer maior do que é capaz de dar, o que leva à dependência.
Figura 2. Neurônio liberando dopamina em excesso e intensificando o seu efeito o órgão de interesse. A cocaína atua impedindo que a dopamina seja recaptada pelo o neurônio responsável pela sua produção.
Ah, ciência povão, então só o cérebro que é afetado?
Meus caros, claro que não. Quando recorremos a uma dada droga, com uma grande frequência, a longo prazo o nosso corpo começa a ficar danificado, como por exemplo: aparecimento de cirrose no fígado, dificuldade de pensar, necrose tecidual (perda de pele, unha, membros), confusão mental, perda dos rins, etc. Os prejuízos ao corpo depende de qual droga se usa e a frequência que a usa.
Então antes de terminamos esse assunto meio caótico sobre o uso de drogas legalizadas ou não, temos alguns exemplos de efeitos negativos para mostrar a você:
Apesar dos danos físicos que as drogas podem promover nas pessoas, há diversos danos sociais que recorrentemente são evidenciados como agressão física noutras pessoas, problemas com atenção, problemas para socializar, desleixo físico, pensamento suicida e etc. Abaixo, temos um esquema que exemplifica esses fatores.
É gente, é necessário pensar sobre que estilo de vida que querem tomar. Mas podem ter certeza que essa é a realidade!
Por hoje é só! Até a próxima.
Autoras
Jessica Melo
Psicóloga e Psicoterapeuta
Isabella Rocha
Bióloga
Mestranda em Bioquímica Clínica
Referências
LIMA, E. H. de. Educação em Saúde e uso de Drogas: um estudo acerca da representação da droga para jovens em cumprimento de medidas socioeducativas. 2013. Tese (Doutorado em Ciências) – Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde do
Centro de Pesquisas René Rachou. Fundação Oswaldo Cruz, Belo Horizonte.
RODRIGUES, L. B. F. Controle penal sobre as drogas ilícitas: o impacto do proibicionismo no sistema penal e na sociedade. 2006. Tese (Doutorado em Direito) – Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo. Universidade de São Paulo, São Paulo.
IGLIOTTI, Analice e GUIMARÃES, Angela. Diretrizes Gerais para Tratamento da Dependência Química. Rio de Janeiro, Rubio, 2010.
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