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Doença de Alzheimer

Oi galera do Ciência Povão!!! Meu nome é Vanessa, sou psicóloga e quero dizer que é um prazer enorme falar para vocês sobre um tema que AMO e passei (ainda passo) a maior parte da minha vida profissional/acadêmica estudando: Doença de Alzheimer. Vamos falar de forma resumida sobre essa doença, de modo que vocês entendam porque ela é tão difícil. Mas também iremos falar de fatores de risco e protetivos, que podem nos ajudar a construir um envelhecimento saudável em todos os aspectos. É possível, gente!!! Eu mesma já conheci diversos idosos saudáveis, lúcidos, e é a coisa mais linda do mundo! Vamos começar, então?


O que é a doença de Alzheimer (DA)?


A DA é uma doença neurodegenerativa que é definida, de um modo resumido, a partir de dois tipos de alterações cerebrais: intraneurais, relacionadas a proteína Tau*; e acúmulo extracelular do peptídeo beta-amilóide**. Porém, alguns estudos apontam que esta patologia pode estar presente no cérebro há anos e a pessoa não necessariamente apresenta a demência, como falaremos a seguir.


*Proteína Tau: proteína responsável por manter a estabilidade dos axônios, isto é, as longas estruturas que ligam a extremidade de um neurônio ao outro. O acúmulo de grupos fosfato na Tau reduz a sua capacidade de preservar a morfologia e a função das células nervosas, resultando em efeitos danosos sobre diversos processos celulares.


**Peptídeo beta-amilóide: é uma proteína que possui diversas funções biológicas. A forma insolúvel (não se dissolve) desse peptídeo se acumula nos neurônios e nas paredes de pequenas artérias, prejudicando o sistema de transporte e seleção de substâncias que entram no cérebro (barreira hematoencefálica), causando a morte cerebral.


O que é a demência por doença de Alzheimer (DA)?


Povão, em primeiro lugar, eu vou começar explicando que nem todo idoso vai ficar demente, ok? Não existe esse papo de demência senil, de demência porque é velho, ou algo do tipo. A demência é uma doença, não fazendo parte NECESSARIAMENTE do envelhecimento. Existe o envelhecimento saudável, isto é, sem demência. Agora vamos lá. O que é demência? A demência, de maneira geral, é caracterizada pelo déficit de duas ou mais funções cognitivas (memória, atenção, linguagem e etc) mais a perda funcional, isto é, perda nas atividades de vida diária que todos fazemos, como pagar contas, fazer compras, se alimentar, se cuidar. Porém, cada demência é caracterizada por uma perda cognitiva. Por exemplo, na demência pela DA, nós temos geralmente a perda de memória episódica (memória para fatos recentes) como algo bem significativo e notável de início. Além disso, também há o déficit em outras funções, como raciocínio lógico, linguagem, orientação, âmbito social, dentre outros.


A demência causada por Alzheimer é a causa mais comum de demência, representando de 60% a 80% dos casos. Geralmente acomete pessoas idosas, a partir dos 65 anos, mas também ocorre, de maneira bem menos comum, em pessoas mais jovens, antes de chegarem à terceira idade. Nesse caso, o principal fator é a carga genética e a evolução da doença é bem mais rápida, diferente do usual.


Estágios e evolução da DA


Segundo a escala Clinical Dementia Rating (CDR), referência para o diagnóstico de demências, existe a fase de Comprometimento Cognitivo Leve (CCL), a fase leve, a moderada e a grave. Vamos falar sobre cada uma delas a seguir.


CCL: É uma suspeita de demência. É como se tivéssemos sentindo um cheirinho pairando pelo ar... Nesse caso, há uma perda cognitiva (de memória para fatos recentes), porém, essa perda não traz prejuízo à funcionalidade. Pode ter um esquecimento ligeiro e consistente, assim como uma pequena dificuldade de resolver problemas do dia a dia e dificuldades de interação social.


Leve: Existe uma perda de memória mais notável que não impacta a funcionalidade de forma muito significativa. Pode haver repetição de uma mesma pergunta várias vezes, esquecer recados, comida no fogo e o que fez no dia anterior, dentre outras situações. Também há uma leve desorientação no tempo e no espaço. Há prejuízo moderado em resolver problemas. Nessa fase, o idoso precisa de ajuda em algumas atividades, sendo incapaz de ser totalmente independente. Também pode acontecer de precisar ser lembrado às vezes sobre os seus cuidados pessoais, como tomar banho ou trocar de roupa. Além disso, há dificuldade na fluência da linguagem.


Moderada: Nesta fase, existe importante perda de memória, isto é, ocorre muita repetição e as novas informações se perdem muito rapidamente. Quase sempre o idoso encontra-se desorientado no tempo (que dia é hoje?) e muitas vezes também no espaço (onde estamos?). Também há um prejuízo cada vez maior no raciocínio e na resolução de problemas, além de seus valores sociais também serem prejudicados. Apresenta mais dificuldade de manter uma conversa pela linguagem prejudicada. É importante ressaltar que nessa fase não é seguro o idoso fazer atividades fora de casa e sozinho, pois a sua capacidade de interação já está muito prejudicada. Em relação aos passatempos e gostos do idoso, tudo isso fica muito limitado e simplificado. Atividades mais complexas são deixadas de lado por não conseguir realizá-las. Precisa de certa ajuda para tomar banho, vestir-se e nos cuidados pessoais gerais.


Grave: Há uma grave perda de memória, permanecendo somente algumas partes, principalmente do passado, mas até este é muito prejudicado. Desorientação total, temporal e espacial. O juízo social é completamente prejudicado e é incapaz de resolver problemas. Tem total dependência de cuidados. Maiores chances de ser acamado e grande dificuldade de locomoção. Linguagem muito prejudicada, falando somente poucas palavras. Dificuldade de deglutição e maiores complicações na saúde. Nessa fase, o idoso já não é mais capaz de reconhecer a si mesmo e os seus familiares. Além das alterações cognitivas e funcionais, também ocorrem as alterações comportamentais, que podem surgir por causa de condições clínicas, como administração de medicamentos ou efeitos colaterais, infecções, falta de vitaminas ou desidratação do idoso, além do próprio déficit cognitivo e incapacidade de controlar os próprios sentimentos. Essas alterações vão aparecendo com o avanço da própria demência. Podemos perceber agressividade, alucinações, apatia, inquietação, desinibição sexual, gritos, andar ou falar excessivamente sem motivo aparente, agitação psicomotora, dentre outras.


O óbito ocorre, em média, 10 anos após o início dos sintomas, geralmente ocasionado a piora do quadro como um todo, inclusive da parte motora e fragilidade de saúde.


Tratamento na Doença de Alzheimer:


Existe tratamento!!!! Porém, este é para melhorar os sintomas. Ainda não existe, infelizmente, nenhum medicamento que consegue alterar o curso da doença, apenas diminuir a velocidade da evolução, o que já é muito importante. Quanto mais cedo fecharmos o diagnóstico, melhor é para o idoso e para os familiares, pois assim, há mais o que ser feito e cuidado, e o tempo e a qualidade de vida aumentam. Por isso, amigos, é tão importante que toda pessoa, acima dos 65 anos ou antes, procure um geriatra, que é o médico especialista nos processos de envelhecimento. Assim, é possível realizar as intervenções necessárias.


Parte medicamentosa: geralmente é focada em aumentar a disponibilidade da acetilcolina* no cérebro, que está em baixo nível por conta de destruição que ocorre no cérebro. A acetilcolina é muito importante nas conexões cerebrais e nas funções cognitivas, como a memória.


*Acetilcolina: neurotransmissor que atua no organismo como um mecanismo mensageiro entre os neurônios (células nervosas), possuindo funções excitatórias e inibitórias, isto é, que podem facilitar um impulso elétrico ou inibi-lo. No sistema nervoso, esse neurotransmissor influencia diretamente no aprendizado, na atenção e na memória.


Parte não-farmacológica: O tratamento não farmacológico mais conhecido é a reabilitação neuropsicológica, agregando qualidade de vida ao idoso e seus familiares. Consiste em compensar déficits cognitivos que já existem a partir do que ainda está preservado e a partir de recursos externos, como agenda, alarmes e calendários. Além disso, há todo um planejamento de estratégias e muita psicoeducação e acolhimento para lidar com cada dificuldade/sintoma no meio do caminho.


O melhor tratamento é a combinação da parte medicamentosa e da parte não medicamentosa.


Fatores de risco


O maior fator de risco para demência é o envelhecimento. Dados apontam que o percentual de pessoas com a doença chega a dobrar a cada 5 anos, a partir dos 65 anos de idade. Isso significa que a doença de Alzheimer pode alcançar 30% da população de 85 anos ou mais. Além disso, também são considerados fatores de risco: obesidade, hipertensão, diabetes, transtornos psiquiátricos, tabagismo, baixa escolaridade e sedentarismo. Observem que podemos modificar grande parte dos fatores, povão!!! Estamos esperando o que para melhorar os nossos hábitos? O envelhecimento é a soma de tudo que somos e fazemos. E todos queremos envelhecer, porque só assim conseguiremos ter uma vida longa, não é mesmo?!


Fatores protetivos


Agora que todos vocês que me acompanham já sabem que envelhecimento não é sinônimo de doença, te convido a refletir e procurar integrar ou manter os seguintes fatores que podem evitar mais de 40% das demências no mundo inteiro:


1) Manter-se cognitivamente ativo, buscando desafios e conhecimentos;

2) Não beber álcool em excesso;

3) Evitar problemas auditivos, mas se tiver, usar o aparelho necessário;

4) Ter uma boa rede de apoio (família, amigos);

5) Manter um peso saudável;

6) Realizar atividade física;

7) Não desenvolver ou controlar a hipertensão (pressão alta) e a diabetes;

8) Não fumar;

9) Buscar uma boa saúde mental.


Esses são hábitos que podemos criar e manter em nossas vidas. Porém, esses fatores devem ser plantados com o tempo, isto é, não devemos deixar para fazê-los somente quando envelhecermos e começarmos a ver que a saúde não está mais a mesma. Mas, acrescento que nunca é tarde para buscar novos hábitos saudáveis, pois sempre veremos melhoras, não importa a idade e nem o momento!


Curiosidade


Diferença morfológica do cérebro de uma pessoa saudável e com Alzheimer:










Desejo que possamos ter forças e compreensão para buscar o melhor para nós mesmos! Um grande abraço, depois desse tema tão temido e complicado. Desejo saúde a todos!

Beijos,


Autora

Convidada pelo Ciência povão

Vanessa Santos

Psicóloga CRP: 05/60187

Pós-graduanda em Neuropsicologia


Referências:

  • TEIXEIRA, A. L., DINIZ, B.S., MALLOY-DINIZ, L.F. Psicogeriatria na prática clínica. São Paulo: Pearson Clinical Brasil. 2017.

  • MORRIS JC. The Clinical Dementia Rating (CDR): current version and scoring rules. Neurology 1993;43:2412-2414.

  • LOURENÇO, R. A., SANCHEZ, M. A. S., JUNIOR, C. M. P. Série Rotinas hospitalares: Geriatria. Rio de Janeiro: Triunfal. Hospital Universitário Pedro Ernesto - Volume VII, pt 2, p. 183-458. 2018.

  • PAULA, V. J. R. de; GUIMARÃES, F. M.; FORLENZA, O. V. Papel da proteína Tau na fisiopatologia da demência frontotemporal. Rev. psiquiatr. clín., São Paulo, v. 36, n. 5, p.197-202, 2009.

  • VIEIRA, G. D. et.al. A deposição de peptídeo beta-amilóide e as alterações vasculares presentes na Doença de Alzheimer. J. Health Biol Sci., v. 2, n. 4, p.218-223, 2014.


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