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De onde vem o ser humano?

Olá, povão. Hoje trouxe para vocês uma pergunta muito importante: de onde vem o ser humano? O ser humano atual, nós, Homo sapiens, trilhou um grande percurso até adquirir todas as características que define essa espécie (destaco a caixa craniana de 1350 cm3). Para entender melhor essa história, continue com a gente.


Na Biologia, evolução significa mudança de características hereditárias, através dos genes que são segmentos DNA herdados de uma dada população de seres vivos que passa de uma geração para a outra. A evolução humana foi um acúmulo de mudanças hereditárias que permitiu originar o Homo sapiens, mas meramente ao acaso.


A evolução humana não foi nada linear como vimos na figura 1.


Na verdade, a maneira mais correta de compreender essa história, seria através de ramos como podemos ver na figura 2.




Figura 2. Árvore genealógica.


Para compreender a linhagem dos seres humanos, observe a figura 3, que representa a árvore genealógica dos humanos. A árvore genealógica conta uma certa parte da história dos nossos antepassados, podendo encontrar nela todos os ancestrais humanos datados até os dias de hoje.


Há cerca de 7-8 milhões de anos atrás, a linhagem dos seres humanos se separava do chimpanzé, logo esses dois grupos possuem um ancestral comum* (figura 2). Acredita-se que esse ancestral comum seja a espécie Sahelanthropus tchadensis, datada com cerca de 6-7 milhões de anos (figura 3), mas ainda há controvérsias sobre isso.


*Ancestral comum é uma espécie ancestral que deu origem a novas espécies. Acredita-se que toda a vida que existe na Terra partiu de um ancestral comum. Um organismo foi sofrendo mudanças durante 4 bilhões de anos e deu origem a toda a vida que a gente conhece hoje.


O gênero Orrorin foi o ancestral mais antigo dos humanos, destacando-se a espécie Orrorin tugenensis (conhecido como homem do milênio, fóssil encontrado no Quênia) datado, aproximadamente, com 6 milhões de anos.


O gênero Ardipithecus é descendente da espécie Orrorin tugenensis e ancestral direto dos Australopitecíneos, que inclui os gêneros: Australopithecus, Paranthropus e Kenyanthropus.


Estão confusos? Olhem a figura 3 para entender melhor.


Apesar de as informações serem limitadas em relação aos primeiros hominídeos (grupo de seres humanos mais antigos e extintos), os fósseis encontrados sempre nos contam grandes histórias. Por exemplo, o fóssil do osso da perna do Orrorin tugenensis (6 milhões de anos atrás) revelou que esse grupo era bípede, ou seja, andava com duas pernas, mas ainda apresentava características anatômicas simiesca (aparência de macaco) e hábitos de trepar em árvores.


Lucy é um dos mais famosos hominídeos totalmente bípedes. Ela pertencia à espécie de Australopithecus afarensis, que viveu há cerca de 3,2 milhões de anos, e já não tinha aparência simiesca: apresentava maiores características associadas aos humanos do que aos macacos.



Por volta de 2 milhões de anos atrás, várias espécies como a da Lucy evoluíram e se espalharam pelo sul e leste da África. Registros fósseis evidenciaram que esse grupo de hominídeos conseguiu se adaptar em diferentes ambientes e com diversas dietas.


Os cientistas acreditam que a partir do gênero Australopithecus surgiu um novo hominídeo, este agora pertence ao gênero Homo.


Quais são os humanos (hominídeos) do gênero Homo?


Os hominídeos do gênero Homo são:


Homo habilis

Quando viveu: 2,4 milhões a 1,4 milhões de anos atrás

Onde viveu: África Oriental

Altura: 100-135 cm

Peso: 32 kg



Homo rudolfensis

Quando viveu: 1,9 milhões a 1,8 milhões de anos atrás

Onde viveu: África Oriental (norte do Quênia; possivelmente no norte da Tanzânia e no Malauí)




Homo erectus

Quando viveu: 1,89 milhões a 110.000 anos atrás

Onde viveu: Norte, Leste e Sul da África; Ásia Ocidental (Dmanisi, República da Geórgia); Leste Asiático (China e Indonésia)

Altura: 145-185 cm

Peso: 40-68 kg


Homo antecessor (discutível, alguns cientistas acreditam que faz parte da população do Homo heidelbergensis)

Quando viveu: 1,2 milhões a 800.000 anos atrás

Onde vivia: Europa ocidental e central





Homo heidelbergensis

Quando viveu: 700.000 a 200.000 anos atrás

Onde vivia: Europa; possivelmente Ásia (China); África (leste e sul)

Altura: os homens tinham em média 175 cm e as mulheres 157 cm

Peso: os homens em média 62 kg e as mulheres 51 kg



Homo floresiensis (apelidado de “o hobbit”)

Quando viveu: 100.000 a 50.000 anos atrás

Onde viveu: Ásia (Indonésia)

Altura: 106 cm (estima-se o esqueleto feminino)

Peso: 30 kg (estima-se o esqueleto feminino)


Homo neanderthalensis (os Neandertais)

Quando viveu: 400.000 a 40.000 anos atrás

Onde viveu: Europa e sudoeste da Ásia central

Altura: homens 164 cm e mulheres 155 cm

Peso: homens 69 kg e mulheres 64 kg


Homo naledi

Quando viveu: 335.000 a 236.000 anos atrás

Onde viveu: Sul da África

Altura: aproximadamente 144 cm

Peso: 39,7-55,8 kg


Homo denisova

Quando viveu: 1 milhão a 40.000 anos atrás

Onde viveu: Não se sabe ao certo. Algumas rotas associadas ao Neandertais.



Homo ergaster

Quando viveu: 1,8 milhões a 1,9 milhões de anos atrás

Onde viveu: Sul da África

Altura: 1,53 m e 1,84 m se tiver atingido a maturidade



Observação: o período de vivência dessas espécies são discutíveis, mas até onde se sabe, são as datas mais precisas de acordo com os fósseis encontrados. Além disso, a maioria dessas espécies compartilhavam o mesmo habitat como homo neandertal, denisova e sapiens há alguns milhares de anos. Muitas das espécies humanas viviam no mesmo tempo, mas em ambientes separados separados, como o neandertal na europa e os denisovanos na Ásia.


O que difere essas espécies?


Cada espécie tinha características anatômicas que a definia. Como por exemplo o tamanho da caixa craniana e o peso, conforme mostramos na figura 5.

Figura 5. Gráfico mostrando o tamanho médio do cérebro (cm3) em relação ao peso corporal médio (kg).


Os humanos modernos representados pela espécie Homo sapiens apresentam um cérebro maior, tendo em média 1350 cm3, quando comparado às outras espécies do gênero Homo. O seu peso de ~ 60kg também era relativamente maior que o dos demais gêneros. O maior investimento evolutivo para o ser humano foi o aumento do cérebro em relação ao tamanho do corpo, ampliando a sua capacidade cognitiva. e compararmos com os Gorilas, por exemplo, o investimento evolutivo foi maior no peso corporal ~118 kg e o tamanho médio do cérebro ~350 cm3.


Figura 6. Quociente de encefalização em relação ao tempo em milhões de anos. O eixo Y é o quociente de encefalização (tamanho do cérebro em relação ao corpo) em relação ao eixo X, quantidade de tempo em milhões de anos que essas espécies sobreviveram.


Acessem a timeline interativa da evolução humana. Apesar de estar em inglês, é possível ter uma noção do que aconteceu no mundo nos 7-8 milhões de anos atrás. A timeline não está completa, mas apresenta alguns dos fatos mais importantes para a evolução dos humanos. Clique aqui.


Quando o Homo sapiens surgiu?


Há duas teorias que explicam o surgimento dos seres humanos modernos (Homo sapiens):


1. Modelo da origem única

O Homo sapiens teria uma origem única na África, seguida de sua expansão pelo resto do velho mundo (expressão generalista usada para intitular a visão do mundo que os europeus tinham no século XV. Os europeus apenas conheciam os continentes da Europa, África e Ásia), levando à substituição das populações não modernas anteriores.

  • Antigamente previa-se que a sua saída da África teria sido há 60 mil anos;

  • Depois um novo modelo considerou 120 mil;

  • Posteriormente, atualizou-se para 200 mil;

  • Atualmente acredita-se que foi há 300 mil anos atrás.


Os Neandertais foram substituídos.


2. Multiregional ou em candelabro

Os humanos modernos teriam se originado, obrigatoriamente, em todos os locais já habitados pelos humanos pré modernos na Europa, África e Ásia. Haveria então uma manutenção do fluxo genético entre as populações espalhadas por esses três continentes.


Essa teoria explica não só a origem do Homo sapiens, como também a própria diversidade anatômica presente nas populações modernas.


Os registros fósseis da Europa e do Oeste Asiático favorecem o modelo da origem única. Além disso, os humanos modernos não saíram imediatamente da África assim que surgiram. De acordo com pesquisas arqueológicas, os objetos decorativos mais antigos do mundo são africanos. Assim, esses achados reforçam mais uma vez o modelo da origem única.


O Homo sapiens surgiu há cerca de 300 mil anos atrás. Essa espécie saiu da África e foi explorando o mundo, adaptando-se aos diferentes ambientes e condições da natureza. O aparecimento do Homo sapiens não é predeterminado, é na verdade um acidente. Um conjunto de condições possibilitou ser como são.


Ao longo dos anos, com o avanço do Homo sapiens, outras espécies de seres humanos existentes começaram a desaparecer. Os Homo sapiens tinham uma complexidade cognitiva muito maior do que todos os Homo até então existentes, o que permitiu a sua sobrevivência e a conquista de território, levando assim, à inexistência de outros povos.


Quais são as evidências que permitem com que os cientistas de diversas áreas consigam construir e contar a história da evolução humana?


Ao longo de muitos anos até os dias atuais, os pesquisadores buscaram provas deixadas pelos nossos antepassados para tentar entender como chegamos ao que somos hoje. Assim, através de:

  1. fósseis

  2. utensílios líticos (peças coletadas pelos arqueólogos, como cerâmica, pedra lascadas etc. que contam o estilo de vida de uma espécie ou população da espécie)

  3. Análise genética

  4. Elementos icnológicos - sinais fossilizados do comportamento dos nossos antepassados

A nossa história pode ser contada. Claro que ainda temos muito por descobrir, pois a nossa história evolutiva é marcada por várias situações e não é nada linear.


Os humanos continuam mudando?


Claramente sim. Um exemplo disso é que nas últimas 100 gerações do Reino Unido houve um rápido aumento do gene de tolerância à lactose. Estima-se que há mais ou menos 11 mil anos, os humanos adultos não tinham capacidade de digerir a lactose. No entanto, à medida que os seres humanos começaram a depender de leite na sua alimentação, em algumas regiões, os humanos que eram capazes digeri-lo possuíam características favoráveis para multiplicação e desenvolvimento da espécie e isso foi passado na forma de genes para as gerações seguintes.


Os humanos foram adquirindo muitas habilidades que nos permitiu viver por muito tempo sem desaparecer ao longo de diversos eventos. Não sabemos como seremos daqui a mil anos, mas uma coisa é certa, provavelmente teremos superados todas as nossas expectativas sobre o que é ser o ser humano do futuro.


Com certeza passaremos por muitas mudanças, assim como já passamos até os dias de hoje. Será que a nossa estatura será alterada? Os nossos modos serão os mesmos? Será que o nosso cérebro vai aumentar ou diminuir?


Bom, não sabemos, mas tomara que os seres humanos do futuro, esta nova espécie desconhecida, que não será mais chamada de Homo sapiens sapiens, tenha aprendido com os erros do passado. Espero que sejamos muito melhores do que somos atualmente.


Curiosidades:


  1. Ao comparar o genoma humano com o do chimpanzé, estudo mostra que existe uma partilha genética de 99% , mas o 1% é importante, uma vez que temos cerca de 20 mil a 25 mil genes.

  2. Luzia é considerada o fóssil mais antigo encontrado na América do Sul, especificamente na região de Lagoa Santa, MG. Esse fóssil, com cerca de 12.500-13.000 anos, pertenceu a uma mulher que morreu na faixa etária de 20 a 24 anos de idade.

  3. “Análises do genoma revelaram que os Denisovanos se cruzaram com os Humanos Modernos. Os nativos da Papua Nova Guiné e Australianos apresentam 5% de DNA denisovano, enquanto os asiáticos e nativos Americanos possuem 0,2% de DNA denisovano.”

  4. “Estimaram que entre 1 e 4% do genoma das populações atuais não africanas contêm DNA proveniente dos neandertais”.

  5. O cóccix é considerado um vestígio evolutivo que no passado contribuiu para o equilíbrio. Ele é um registro de uma cauda. Nos embriões humanos a cauda aparece no final da quarta semana e “desaparece” no início da oitava semana do desenvolvimento embrionário, sendo reduzida ao tamanho do cóccix.

  6. Dieta, estilo de vida e clima foram um dos principais fatores que influenciaram para a evolução humana.


Povão, espero que esse conhecimento tenha sido agradável para vocês. Lembrando que fazemos parte do gênero Homo, espécie Homo sapiens e subespécie Homo sapiens sapiens. Até a próxima!


Autora

Fundadora do Ciência Povão

Isabella da Rocha

Bióloga

Mestranda em Bioquímica Clínica




Referência


Evolução humana. <https://www.natgeo.pt/historia/evolucao-humana>. Disponível em 10/09/2020.


Evolução humana. <https://www.nhm.ac.uk/discover/the-origin-of-our-species.html>. Disponível em 10/09/2020.


Evolução humana. <http://www2.assis.unesp.br/darwinnobrasil/humanev2b.htm> Disponível em 10/09/2020.


Evolução humana.<https://www.youtube.com/watch?v=ehV-MmuvVMU.> Disponível em 10/09/2020.


Evolução humana. <https://humanorigins.si.edu/evidence/human-fossils/species.> Disponível em 10/09/2020.


Evolução humana. <https://www.bbc.com/portuguese/geral-50514485.> Disponível em 10/09/2020.


LEWIN, R.; FOLEY, R. Principles of human evolution: 2. ed. UK: Blackwell Science Ltd, 2004


https://jornal.usp.br/ciencias/ciencias-biologicas/dna-antigo-conta-nova-historia-sobre-o-povo-de-luzia/



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