top of page
Foto do escritorCiência povão

Comunicação não-violenta: um caminho possível para a paz?

Atualizado: 3 de jul. de 2020


Olá, povão? Tudo bem com vocês? Domingão, dia daquele merecido descanso mesmo em tempos de quarentena, o que acham de falarmos de algo leve? Pois bem, hoje proponho que reflitamos o seguinte: será que a maneira como eu me comunico pode gerar ambientes mais pacíficos e harmoniosos? Vamos lá!


Pessoal, antes de iniciarmos esse papo, precisamos lembrar e entender alguns conceitos. Como sabemos, a comunicação acontece quando compartilhamos com o outro as nossas ideias, crenças, e sentimentos. É por meio da comunicação (verbal e não-verbal) que nos relacionamos com as pessoas, sendo também através dela que nos conhecemos, aprendemos, e trocamos experiências.


A Comunicação não-violenta (CNV) é uma forma de se comunicar atenta àquilo que estamos à procura, àquilo que está em nossos corações. Desse modo, as pessoas são levadas a se expressarem com honestidade, clareza, respeito e empatia (já falamos dela aqui, você se lembra?), eliminando, assim, qualquer foco de agressividade e de violência (BARBOSA; PICOLI; LAZZAROTTO, 2016).


Na prática, a CNV nos oferece uma maneira específica de se comunicar, a qual se caracteriza por uma escuta atenta e sem preconceitos, seguida de uma fala capaz de desenvolver sentimentos de compaixão e empatia entre as pessoas em situação de conflito, evitando a violência (BARROS; JALALI, 2015).


Para Marshall Rosenberg, psicólogo criador da CNV, a não violência é algo que faz parte da essência humana, o que significa dizer que nós, seres humanos, não nascemos violentos. A não violência aqui se refere a despertar os sentimentos positivos presentes em todas pessoas, isto é, o amor, o respeito, a compreensão, a gratidão e a preocupação com o outro. Quando praticamos a CNV, estamos permitindo que esses sentimentos venham à tona e que sejamos tomados por eles (BARBOSA; PICOLI; LAZZAROTTO, 2016).


Pera aí, Ciência... Eu li certo, a gente não é naturalmente violento? Ou entendi errado? É isso mesmo povão, nós somos seres pacíficos por natureza!


Quem diz isso não sou eu, pessoal, mas o Manifesto de Sevilla (BARROS; JALALI, 2015)! Nesses estudos científicos, ficou comprovado, entre outras coisas, que:


  • o comportamento violento na espécie humana não é determinado pela biologia ou pela genética. Isso significa que não possuímos em nossos genes nenhuma predisposição para o comportamento agressivo. O manifesto ainda diz que a guerra é um fenômeno especificamente humano e construído socialmente, logo, não podemos associá-la à uma herança ancestral.


  • o cérebro humano não é violento. O comportamento agressivo acontece devido às formas de socialização (isto é, à maneira como somos criados, como são as nossas experiências com outros grupos sociais – escola, trabalho, amigos).


Bem, se nós não nascemos violentos, a gente aprende a ser violento, certo? E se aprendemos a ser violentos, também podemos aprender a nos expressarmos de uma maneira que possibilite um convívio social mais harmonioso? Sim, por isso que a CNV é uma prática que possibilita à promoção da paz.


Isso não significa, pessoal, que a CNV prega a eliminação de conflitos. Veja bem, cada ser humano é único e possui seus próprios pensamentos e valores, então seria inviável e totalmente indesejável que por meio dessa prática todos começassem a pensar igual, o que por sua vez eliminaria atritos e conflitos de ideias. Pelo contrário, o conflito é saudável, pois é devido à pensamentos divergentes que ideias, proposições e soluções surgem, o que pode gerar mudanças a nível pessoal e social. É aquele velho ditado, meus amigos: é conversando que a gente se entende.


O problema não está na discordância, mas como expressamos pensamentos e emoções e como nos comportamos frente à essas situações. Comumente nos comunicamos de modo agressivo, pois as nossas necessidades vêm sempre na frente das necessidades do outro e vice-versa. No entanto, se tratamos um comportamento agressivo com mais agressão, além de não resolvermos o problema, podemos agravá-lo, pois um comportamento violento tende a gerar uma resposta também violenta, ou seja, um desfecho desastroso para ambas as partes (BARROS; JALALI, 2015).


Antes de passarmos para o próximo tópico, é válido lembrar que a violência não precisa necessariamente uma atitude física, como uma agressão, ela pode se manifestar também por palavras. Já pararam para perceber o tom agressivo das pessoas nos comentários de redes sociais, principalmente quando os assuntos discutidos são política, diversidade sexual, religião, direitos humanos, ciência, entre tantos outros exemplos?


Alguma vez você já foi agressivo (a) com alguém porque este (a) discordou de você? Você poderia ter agido de outra forma?

Mas, Ciência, como eu posso praticar a CNV?


A CNV possui quatro elementos que possibilitam uma relação favorável com o outro e um ambiente receptivo (BARROS; JALALI, 2015):


  • Observar: separe a observação da avaliação (julgamentos e/ou emissão de ponto de vista). Sem a avaliação, podemos executar uma escuta atenta e sutil, o que levará a uma expressão empática quanto ao está sendo exposto.


  • Sentimentos: identifique, descreva e relate seus sentimentos com relação ao que está sendo observado. Quando expressamos emoções, facilitamos a conexão com o outro, ajudando na resolução do conflito.


  • Necessidades: reconheça suas necessidades, isto é, o que você está buscando e como isso interfere nos seus sentimentos.


  • Pedido: diga o que deseja, de maneira clara e sutil, descartando qualquer ideia de imposição.


Exemplo prático de como praticar a CNV:


Joana, quando você grita comigo no ambiente de trabalho (observação), eu me sinto diminuído e irritado (sentimento) porque preciso sentir que sou respeitado e que meus colegas querem me ajudar a me desenvolver (necessidades). Você poderia me chamar para conversar em particular quando se sentir irritada comigo? (pedido).


É, povão, sabemos que não são tarefas fáceis, mas também não são impossíveis!


Como vimos, a CNV está comprometida com uma mudança na estrutura das relações sociais, possibilitando que estas se tornem mais respeitosas, empáticas e harmônicas. Desse modo, a CNV se aplica a diversas situações: relacionamentos pessoais, escola, família, trabalho, instituições, terapia, disputas e conflitos de qualquer natureza. A CNV é um modelo de educação das pessoas que propõe a conexão com a humanidade do outro.


Outra lição que podemos aprender com ela é que, de repente, a paz que tanto nós tanto buscamos pode estar mais perto do imaginamos. Isso porque a CNV nos convoca a nos responsabilizar por nossas ações ao mesmo tempo que nos compromete com uma mudança de comportamento.


Sabemos que uma transformação assim não acontece do dia para noite, povão, mas se queremos atingir uma sociedade mais justa, respeitosa, solidária, empática e consciente, devemos transformar nossas atitudes hoje, com as pessoas ao nosso redor e nos ambientes que circulamos. Mas nós podemos fazer a nossa parte tentando implementá-la em nossa vida cotidiana. Quem sabe a partir disso não possamos viver em um mundo onde as pessoas são mais comprometidas com a paz?


Por hoje é só, povão! Se você não entendeu alguma coisa ou quer saber mais sobre algum assunto aqui abordado, fala para a gente nos comentários. Será um prazer saber do feedback de vocês!


Autora

Jessica Melo

Psicóloga e Psicoterapeuta


Referências:


BARROS, I. L.; JALALI, V. R. R. Comunicação não-violenta como perspectiva para a paz. Ideias & Inovação, v. 2, n. 3, p. 67-76, 2015.


BARBOSA, B. C.; PICOLI, C.; LAZZAROTTO, M. As possibilidades da comunicação não-violenta nos grupos. 2016. Disponível em: http://www.sbdg.org.br/web/site/wp-content/uploads/2016/10/As-Possibilidades-da-Comunicacao-Nao-Violenta-nos Grupos_26102013.pdf


Comunicação não violenta. <https://www.napratica.org.br/comunicacao-nao-violenta/> acesso 27 06 2020.



Gostaram? Continuem com a gente, pois estaremos sempre trazendo novidades para vocês. Nos sigam no instagram @cienciapovao. Aproveitem e compartilhem com amigos e familiares


30 visualizações0 comentário

Posts recentes

Ver tudo

Comments


bottom of page