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A dificuldade e a necessidade de cuidar do outro – reflexões sobre empatia

Fala ae, povão! Estão todos bem? Após atingirmos a triste marca de mais de 30 mil mortes no país pela Covid-19, gostaria de bater um papo com vocês sobre a importância de pensar e cuidar do outro. Acho que vocês já sacaram o que eu quero falar com vocês. É isso mesmo, hoje falaremos de empatia. Vem comigo!


A empatia é uma habilidade social (HS) que promove relações sociais mais gratificantes. Podemos encontrar expressões empáticas não só entre humanos, mas também entre animais da mesma espécie e, inclusive, entre espécies diferentes, como cão e gato.


Pessoas empáticas são vistas como calorosas, sensíveis e amigáveis, o que facilita que outras habilidades sociais possam ser desenvolvidas, como por exemplo, fazer amizade (ou outras relações afetivas), ajudar colegas e manifestar solidariedade. Pessoas não empáticas, no entanto, são aquelas que se comportam de modo indiferente à dor e ao sofrimento dos demais, mantendo tal comportamento quando são elas que causam dor e sofrimento ao outro.


A empatia, assim como qualquer habilidade social, é APRENDIDA. Podemos aprendê-la em qualquer fase da vida (infância, adolescência, maturidade e velhice), e quanto mais cedo entramos em contato com ela, melhor. Contudo, se não a exercitarmos, ela pode ser desaprendida. Mas não fiquem tristes, como a empatia é fruto da aprendizagem, podemos recuperá-la e aperfeiçoá-la em qualquer momento de nossas vidas.


Empatia: “capacidade de compreender e sentir o que alguém pensa e sente em situação de demanda afetiva e, ainda, de comunicar tal compreensão e sentimento ao outro, como uma forma de conforto, apoio e compartilhamento (DEL PRETTE; DEL PRETTE, 2001).” A definição acima nos indica, portanto, que a empatia é uma expressão de afeto, de acolhimento e de compartilhamento frente à experiência positiva ou negativa de alguém. Isso significa dizer que, por um momento, direcionamos toda nossa atenção para as necessidades do outro, ajudando-o em um momento difícil ou apenas gratificando-o por uma conquista.


Efeitos da empatia

Quando alguém se expressa de forma empática conosco nos sentimos acolhidos, apoiados e consolados. Isso só é possível porque o principal efeito da comunicação empática é a validação dos sentimentos daquele que nos procura, melhorando sua autoestima, facilitando sua comunicação e fortalecendo os laços afetivos.


Empatia X Pró-empatia

É válido ressaltar que não é fácil ser empático (a). Por vezes, falamos e/ou cometemos atitudes que na verdade se aproximam da empatia, mas não inteiramente empáticas, as quais chamamos de reações (ou falas) pró-empáticas.


Reações pró-empáticas: se caracterizam por um conteúdo aconselhativo que até podem trazer consolo, mas, na maior parte das vezes, gera atitudes conformistas (DEL PRETTE; DEL PRETTE, 2017).


Falas de conteúdo pró-empático não ajudam no cuidado do outro, pelo contrário, podem despertar incompreensão, desconfiança quanto a partilha de experiências, sentimento de desvalia, culpa ou vergonha. Além disso, dificultam a busca pela solução de problemas.


Para que possamos ter uma melhor compreensão do que estamos aprendendo, segue abaixo dois exemplos de falas empáticas e não-empáticas.

Fala empática:

Parece que isso o está deixando muito triste.

Sei que não é nada fácil para você enfrentar essa situação.

Fala pró-empática:

Você não deve ficar tão chateado assim!

A situação não é tão grave como você está dizendo!


Exercício de reflexão: E aí, já falaram ou escutaram algo parecido? Se sim, como se sentiram? Com qual dos dois exemplos vocês se sentiriam melhor se fossem procurar alguém para contar algo negativo? Diga nos comentários!

As dificuldades de expressar empatia na quarentena

Bem povão, agora que já conhecemos mais sobre empatia, gostaria de pensar junto com vocês acerca de nossas atitudes ao longo da quarentena. Muito provavelmente vocês conhecem ou ficaram sabendo de alguém que não tem respeitado o isolamento social, mesmo que a mídia e os especialistas em saúde reforçando diariamente a manutenção da quarentena. Os exemplos são os mais diversos: é aquela blogueira que dá uma festa e diz que a vida não valia nada (não a dela, obviamente), é aquele grupo de amigos que têm se encontrado nos fins de semana, é a patroa que não dispensa a empregada, é aquela pessoa que não usa máscara ou que não respeita os limites do distanciamento social quando sai de casa, e por aí vai...


Outro fenômeno que nos permite perceber a ausência de expressões empáticas diz respeito às mortes diárias causadas pela Covid-19 e que já parecem ter sido normalizadas em nosso país. Aqui vale algumas reflexões: por que é tão chocante a quantidade de mortes em outras nações, mas quando nosso país atinge o mesmo grau de gravidade nos expressamos de maneira indiferente, defendendo o fim do isolamento mesmo com a curva em franca ascendência? Quem pode morrer para que as nossas necessidades sejam satisfeitas? Aliás, são necessidades mesmo ou só caprichos? Por que algumas vidas merecem menos preservação do que outras? Por que somos seletivos no momento de demonstrar empatia?


A desigualdade social, a violência urbana, a precariedade dos serviços públicos e o preconceito e discriminação sofridos alguns setores sociais (negros, mulheres, lgbtqi+, indígenas), demonstram que temos graves problemas políticos, econômicos e sociais, mas também revela que temos falhado enquanto promotores de bem-estar social. Isso quer dizer que todos nós temos papel ativo socialmente, isto é, podemos, por meio de nossos pensamentos e atitude, transformar a nossa realidade à nossa volta, tornando-a mais digna, justa, igualitária e menos violenta.


Em situações de pandemia, como a que estamos vivendo nesse momento, o cuidado com o outro é fundamental, logo, os exemplos dados acima não podem se repetir, pois toda vez que quebramos as regras de isolamento social colocamos alguém em perigo. As habilidades sociais adentram esse cenário nos oferecendo recursos que melhoram as relações pessoais, de modo a provocar reflexões que estimulam formas positivas de lidar com os desafios que surgem na relação com outras pessoas, resultando em um bem-estar mental próprio e do outro. A empatia, por exemplo, é uma HS fundamental[1] [2] para que convívio respeitoso e pacífico, pois é considerada um inibidor de agressividade de violência, por isso devemos promovê-la desde o início de nossas vidas (DEL PRETTE, DEL PRETTE, 2017).


Eu sei galera, expressar empatia não é tarefa fácil. Não se sinta culpado se você perceber que nem sempre consegue ser empático (a), pois nem toda situação é digna de empatia, tampouco ela deve ser uma obrigação. A empatia aparece de forma natural, através de um processo de treinamento/aprendizado, e podemos sempre aperfeiçoá-la.


Mas não podemos parar na sua dificuldade. Não podemos perder de vista a contribuição da empatia para um bem-estar coletivo. Mudanças dependem de atitudes, e como podemos observar através dessa leitura, pequenas atitudes podem gerar transformações e/ou prevenir situações graves. Um simples ato ou uma fala empática pode gerar um efeito em cadeia que se espalha pela comunidade. Portanto, aposte na diferença que você pode fazer no seu cotidiano. Que tal começarmos, por nós mesmos, a construção de mundo mais digno?


É isso, povão, espero que gostem! Até mais!


Autora

Jessica Melo

Psicóloga e Psicoterapeuta

Font:

DEL PRETTE, A.; DEL PRETTE, Z. A. P. Psicologia das relações pessoais e habilidades sociais: vivências para o trabalho em grupo. Petrópolis: Vozes, p. 86, 2001.

DEL PRETTE, Z. A. P.; LOPES, D. C.; DEL PRETTE, A. Habilidades sociais empáticas. In: DEL PRETTE, Z. A. P.; DEL PRETTE, A. (Orgs.). Habilidades sociais e desempenho social para uma vida melhor. São Carlos: EdUSFCAR, p. 51-57, 2017.

O que é HS fundamental? Ah, Isa, que bom que você reparou isso. HS são as iniciais de habilidades sociais, eu esqueci de ver escrever isso lá em cima, na primeira vez que cito Habilidade Social.

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